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Suspensão dura ou mole, qual é melhor? Para quem é melhor?

componentes da suspensão

Uma discussão recorrente entre os apaixonados por carros consiste em qual o melhor acerto de suspensão para um veículo. Via de regra, o debate começa entre uma calibração mais firme ou mais macia para cada tipo de carroceria, público-alvo ou nacionalidade do fabricante.

A partir disso, muitos estereótipos foram criados, em alguns casos corretos, mas equivocados em outros. Todo esportivo tem que ter suspensão dura? Um acerto muito macio prejudica a estabilidade? Carros americanos priorizam o conforto e europeus a estabilidade? Jovens preferem calibração firme e velhos, voltada ao conforto?

Verdades ou mitos? Ou meias verdades? Entenda melhor abaixo, de forma resumida e descomplicada.

PERFIL DO MOTORISTA

Em outros posts como Descubra as preferências automotivas: Carro de homem ou de mulher? De jovem ou de velho? e Será que você está escolhendo o carro certo para o seu perfil?, a diferença das preferências automotivas entre os grupos de motoristas já foi abordada, os quais tendem a representar a média estatística dos compradores destes veículos.

Aparentemente, pode parecer uma tentativa de generalização. Tal fato não procede, posto que as montadoras despendem muitos recursos financeiros, humanos e materiais para organizar clínicas e pesquisas de mercado para mapear o perfil de seus clientes. Os estudos são executados de forma extremamente detalhada, com grandes grupos de consumidores respondendo longos questionários e longas entrevistas, somadas às análises de perfil dos reais compradores.

As conclusões passam longe do “achismo” ou “chutômetro”, pois possuem base científico-estatística.

TRABALHO DOS ENGENHEIROS DE DESENVOLVIMENTO

No que concerne ao acerto de suspensão, o mesmo ocorre. Os engenheiros responsáveis testam acertos e componentes durante milhares de horas, chegando a dois ou três setups distintos. Ao apresentar as opções para os potenciais compradores, conduzidos a test-drives de acordo com o tipo de veículo, perfil e peculiaridades de mercado, observa-se uma forte tendência dos motoristas de um perfil específico ao consenso.

Questões técnicas também exercem forte influência no acerto de suspensão, como no caso de vans e caminhões, assim como modelos esportivos e alta performance.

Os primeiros utilizam o sistema de feixe de molas, essencial para suportar cargas pesadas. Porém, seu ponto fraco reside em conforto e estabilidade ruins, principalmente com o veículo vazio. Qualquer pessoa que já andou em caminhões e caminhonetes mais antigas sabe disso.

No caso dos esportivos, há uma simbiose entre a parte técnica e a preferência do consumidor. Com o avanço dos materiais, tecnologias e assistências eletrônicas, hoje é possível entregar um modelo de alta performance estável e confortável, As geometrias duplo A na dianteira e multilink na traseira (similares aos modelos de competição), aplicados em grande parte dos modelos atuais, permitem maciez com estabilidade excepcional, como observados nos modelos de 12 cilindros da Ferrari e nos modelos “executivos” da Porsche, como o Panamera.

ferrari 599 e F12

Ferrari 599 GTO e F12, modelos esportivos gran turismo voltados para o uso diário. Aliam relativo conforto e estabilidade próxima aos modelos “puro-sangue” com maestria.

POR QUE OS FÃS DE ESPORTIVOS PREFEREM SUSPENSÃO DURA?

Em grande parte, por tradição. Nos modelos antigos, uma suspensão extremamente rígida se mostrava necessária para garantir a estabilidade necessária para obter bom comportamento dinâmico em performance de competição, corroborando o senso comum que diz que se deve fazer o trade-off entre conforto e estabilidade, já superado pelo avanço tecnológico.

POR QUE OS FÃS DE SEDÃS PREFEREM SUSPENSÃO MACIA?

Para este tipo de veículo, a ênfase em conforto sempre foi, é e sempre será prioridade. A tecnologia tem contribuído para corrigir o antigo problema da estabilidade deficiente, e ainda aprimorar o conforto, maciez e silêncio ao rodar.

Entre os sedãs, o acerto voltado para o conforto predomina para agradar seu público-alvo, homens e mulheres acima de 35 anos que precisam de um veículo elegante, espaçoso, confortável e equipado para ir e voltar do trabalho e viajar com a família. Tudo isso sem abrir mão do prazer de dirigir e do motor potente. Encontramos tal acerto em modelos mais radicais como a linha M da BMW, AMG da Mercedes-Benz ou mesmo em modelos de entrada como Honda Civic.

INFLUÊNCIA DA NACIONALIDADE DO FABRICANTE NO ACERTO DA SUSPENSÃO

O gosto nacional também influencia no setup da suspensão. Modelos americanos tendem a entregar acerto mais macio em relação aos similares europeus, ou mesmo no mesmo modelo vendido em mercados diferentes. O Chevrolet Cruze comercializado no Brasil possui um acerto mais firme em comparação ao “irmão” que roda na terra do Tio Sam.

Marcas de luxo norte-americanas como Cadillac e Lincoln são reconhecidas pela maciez extrema até os dias de hoje, tradição mantida há mais de 60 anos. Ao rodar em um de seus veículos, os passageiros têm a sensação de estar flutuando, fenômeno conhecido como smooth ride (rodar macio, em tradução livre)

Estes modelos são carinhosamente apelidados de sleepers (dorminhocos, em tradução livre), pois sua aparência sóbria e pacata esconde um veículo potente e veloz, capaz de deixar modelos mais apimentados comendo poeira. Ao mesmo tempo no qual entregam conforto excepcional.

Por outro lado, a tecnologia superou uma das queixas mais antigas sobre carros americanos: a que afirmava que esportivos ianques só andam bem na reta, apresentando performance inferior em curvas e pistas sinuosas em relação aos rivais italianos, ingleses e alemães.

As versões modernas de modelos como Dogde Viper, Chevrolet Corvette e Shelby GT 500 se mostram extremamente competentes em curvas, diferentemente de suas versões civis, bastante macias para cupês de teto baixo, bem ao gosto local.

Modelos japoneses e coreanos costumam se adaptar aos consumidores e mercados locais, podendo observar diferenças enormes entre modelos em absolutamente tudo, inclusive dimensões. Comparar o Toyota Corolla brasileiro, americano, japonês e europeu fará parecer que são modelos completamente distintos, incluindo o acerto macio nos dois primeiro e muito firme nos demais.

SUV´S, MINIVANS E VEÍCULOS FAMILIARES

SUV´s e minivans, os segmentos mais populares na América do Norte e que mais cresce no mercado em todos os cantos do mundo, tendem a ter acerto mais macio por causa de sua proposta familiar, bem ao gosto da preferência feminina de todas as faixas etárias, de renda, em todos os países.

Por outro lado, deveriam ter acerto mais voltado à estabilidade, devido à sua maior altura e alto peso. As montadoras sanaram esta deficiência com assistências eletrônicas, pois do contrário somente molas e amortecedores mais rígidos garantiriam a segurança.

POR QUE CARROS BRASILEIROS TENDEM A RECEBER CALIBRAÇÃO MAIS FIRME?

Em primeiro lugar, devido à limitação de custo que as montadoras impõem aos projetos locais, limitando o uso de materiais mais caros em componentes como molas, amortecedores e batentes. O uso de geometrias convencionais na maioria dos modelos, como McPherson na dianteira e braço arrastado na traseira, limita tanto conforto quanto estabilidade.

Esta limitação orçamentária prende o comprador de modelos de entrada ao velho paradigma do “Suspensão dura, mais estabilidade. Suspensão mole, mais conforto”, ao estilo da rixa de VW Santana X Ford Del Rey dos anos 80.

Outro aspecto consiste na durabilidade dos componentes em países com pisos irregulares, como é o caso do Brasil. Componentes resistentes e de baixo custo costumam resultar em acertos rígidos e de baixo conforto, especialmente devido à borracha dos batentes que deve ser preservada à custa de molas e amortecedores mais duros.

Acertos macios e duráveis pedem materiais caros como fluidos de amortecedores, molas de ligas especiais e batentes de poliuretano, inviáveis em custo para nossos compactos “emergentes”.

Leia também: Colocar rodas maiores no carro aumenta o desempenho?

Nossos pisos esburacados e limitações de custos implicam em modelos de acerto mais rígido mesmo em comparação aos irmãos do velho continente, ao custo de preservar a durabilidade.

Também recebemos suspensões de um a cinco centímetros mais altas, junto com pneus de perfil mais alto em relação aos europeus, americanos e japoneses. Enfim, perdemos em estabilidade e conforto e ainda pagamos mais caro por isso.

O QUE VOCÊ PREFERE? CONFORTO OU ESTABILIDADE?

Para o motorista leigo, o acerto de suspensão se mostra um dos primeiros pontos a ser percebidos ao dirigir um veículo pela primeira vez. A percepção de cada indivíduo impacta fortemente nas vendas de determinado modelo e exige milhares de horas de teste para chegar no melhor resultado para o engenheiro.

A tecnologia fez o mercado superar muitos paradigmas como a dicotomia conforto x estabilidade, mas uma boa calibração é, sempre foi e sempre será um dos determinantes na identificação de qualidade de um veículo.

1 Comentário »

  1. Não adianta a suspensão ser macia se os bancos que as fabricas estão fazendo (para todos veículos) são duros, não amortecem os impactos. Tenho um Scênic 2001, nunca vi um carro mais macio, em suspensão e bancos. Todos que conhecem o carro falam a mesma coisa. Agora comprei um Fluence 2013, achando um pouco mais macio que os atuais, mas tenho problema de coluna e sinto que não está me fazendo bem. Os carros com bancos de couro então parecem mais duros ainda. Por que as fábricas não atentam para cuidar das colunas dos usuários?

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