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Por que motores turbo andam mais que aspirados de mesma potência?

por que motores turbo andam mais que aspirados de mesma potência

Cruze, com motor 1.4 turbo, dá um banho de desempenho no Civic e Corolla, 2.0 aspirados de mesma potência. Foto: Quatro Rodas

Desde meados dos anos 80, o turbocompressor começou a ganhar espaço na indústria automotiva, com a “era turbo” na Fórmula 1. A tecnologia das pistas, capaz de projetar motores de inacreditáveis 1.300 cavalos, começou a chegar paulatinamente aos carros de rua, sendo a Ferrari F40 a mais icônica.

No final dos anos 90, marcas como Audi, Volvo e Volkswagen já ofereciam modelos regulares em larga escala, apesar da tecnologia ainda ter sua imagem associada apenas à performance. Na última década, os motores sobrealimentados têm se tornado a regra e dominaram os mercados desenvolvidos, em particular o europeu.

No Brasil, os motores turbo avançam rapidamente, apesar do atraso em relação ao primeiro mundo. Modelos compactos já oferecem esta opção de motorização, ao passo em que passa a ser a regra entre os médios e grandes, condenando os  modelos aspirados ao atraso e obsolescência na faixa acima de R$ 60 mil.

Motores 1.0 turbo entregam números de potência similares a outros 1.6 aspirados, e torque superior. No caso das unidades 1.4 sobrealimentadas, esta equivale a outras 2.0 sem sobrealimentação.

Este comparativo da Quatro Rodas entre Corolla, Civic e Cruze mostra a clara superioridade de desempenho dos motores turbinados, mesmo entregando números de potência bastante parecidos. Para constatá-la, vamos aos números obtidos pela Quatro Rodas:

Honda Civic

  • Potência: 155 cv (E)/ 150 cv (G) a 6.300 rpm
  • Torque: 19,5 kgf.m (E)/ 19,3 kgf.m (G) a 4.800 rpm (E)/ 4.700 rpm (G)
  • 0 a 100 km/h (G): 10,5 s
  • 0 a 1000 m/velocidade (G): 31,5 s – 171 km/h
  • Velocidade máxima (G): 195 km/h
  • Consumo urbano/rodoviário (G): 12,6 km/l/ 15,4 km/l

Toyota Corolla

  • Potência: 154 cv (E)/ 143 cv (G) a 5.800 rpm (E)/ 5.600 rpm (G)
  • Torque: 20,3 kgf.m  (E) / 19,4 kgf.m (G) a 4.800 rpm (E) / 4.000 rpm (G)
  • 0 a 100 km/h (G): 10,2 s
  • 0 a 1000 m – velocidade (G): 31,5 s – 167,5 km/h
  • Velocidade máxima (G): 199 km/h
  • Consumo urbano/ rodoviário (G): 11,5 km/l / 15,6 km/l

Chevrolet Cruze

  • Potência: 153 cv (E)/ 150 cv (G) a 5.200 rpm (E)/ 5.600 rpm (G)
  • Torque: 24,5 kgf.m / 24 kgf.m a 2.000 / 2.100 rpm (G)
  • 0 a 100 km/h (G): 9 s
  • 0 a 1000 m/velocidade (G): 30,1 s – 178 km/h
  • Velocidade máxima (G): 214 km/h
  • Consumo urbano/rodoviário (G): 11,8 km/l / 15,9 km/l

Observando os dados avulsos, tirar conclusões não se mostra uma tarefa simples. Abaixo, far-se-á a transformação dos números brutos em informação clara e útil.

INTERPRETANDO OS NÚMEROS

Para facilitar o entendimento sem poluir o texto, a ordem dos dados será Civic X Corolla X Cruze.

O título do artigo fixa o número de potência máxima com etanol próximo entre os três: 155 cv x 154 cv x 153 cv. Assim, o Chevrolet Cruze turbinado entrega a menor potência entre os três, com dois míseros cavalos a menos. Para efeitos de análise, considerar-se-á que o trio se equivale neste quesito.

Então vamos aos números de torque máximo, também com etanol: 19,5 x 20,3 x 24,5. Então aparece a primeira evidência dos benefícios do caracol mágico: o Cruze entrega momento torsor 20% superior ao Corolla, segundo colocado no quesito.

O fato de o torque predominar sobre a potência no uso diário se estabeleceu como consenso entre os aficcionados por automóveis e se mostra corroborado pela engenharia automotiva. Uma característica marcante dos motores sobrealimentados consiste no torque de 10% a 50% superior aos equivalentes aspirados, geralmente de maior deslocamento (“cilindrada”), como demonstrado pelo 1.4 turbo do Cruze ante os 2 litros dos modelos japoneses.

A partir daí, vamos aprofundar a análise acrescentando a rotação na qual este torque é obtido: 4.800 rpm X 4.800 rpm x 2.000 rpm. Aqui aparece uma importante vantagem dos turbinados: a força máxima aparece em regimes baixos e se mantém constante até altos giros, formando o que se chama de “platô de torque” em engenharia e preparação de motores.

A figura abaixo exibe uma curva de torque e potência de uma unidade turbinada do motor Audi 1.4 turbo em todas as rotações. Este motor entrega performance próxima ao 1.4 da Chevrolet. Observe a linha pontilhada nos regimes de 1.500 a 4.000 giros por minuto :curva de torque e potência de motor turbo 1.4 TFSI Audi

O resultado consiste em arrancadas vigorosas e menor necessidade de buscar altos giros, com dirigibilidade uniforme e prazerosa no uso diário. Soma-se a isso um ótimo desempenho em condução esportiva, muito superior aos equivalentes aspirados.

Vale observar que a potência máxima também aparece em rotações mais baixas no Cruze 1.4 turbo:  6.300 rpm x 5.800 rpm x 5.200 rpm. Apesar de não haver gráfico comparativo entre os três motores, conclui-se facilmente que o motor GM entrega mais potência em todas as rotações de 600 rpm até os 5.200 rpm do valor máximo, obtido 600 giros abaixo do Toyota. Naturalmente, isso influencia positivamente o desempenho dos “comprimidos” em relação aos “atmosféricos”.

Mesmo assim, não há penalização no consumo, contrariando o ditado popular que diz “cavalo anda, cavalo bebe”. 12,6 km/l / 11,5 km/l / 11,8 km/l no urbano e 15,4 km/l / 15,6 km/l / 15,9 km/l na estrada se mostram números bastante próximos, comprovando que a tecnologia controla o consumo de combustível e pode até contribuir para sua redução em acertos com foco na eficiência energética, como prova a atual geração do Chevrolet Cruze em comparação com a anterior.

Outro ponto crucial consiste na velocidade máxima. A revista Quatro Rodas não divulgou os valores, os quais foram obtidos da planilha de comparação do site Carros na Web. Este é o ponto que mais chama a atenção dos modelos turbo em relação aos aspirados: 195 km/h x 199 km/h x 214 km/h. Os números mais generosos de torque contribuem para essa enorme diferença de 15 km/h, posta a similaridade das demais características.

CONCLUSÃO

À exceção dos modelos com propulsão híbrida e elétrica, os quais consistem em uma evolução tecnológica paralela e igualmente importante, os motores turbo possuem todos os elementos para se tornarem a regra e deixarem de uma vez por todas os aspirados para os carros clássicos e modelos de baixo custo.

As vantagens tecnológicas se mostram muito claras e sua durabilidade e manutenção se aproximam rapidamente dos motores tradicionais. O turbocompressor se mostra mais uma evolução tecnológica, assumindo o papel que a injeção eletrônica cumpriu há trinta anos.

4 Comments »

  1. Excelente matéria, Pedro.
    A sobrealimentação tornou-se essencial para a obtenção de potência e torque, aliada a alta eficiência energética. Solicito inclusive,uma matéria sobre eficiência energética das usinas de potência !
    Forte abraço, continue com este trabalho maravilhoso !

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