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Esta nova tecnologia poderá reduzir o preço do seguro do carro para os jovens

O prêmio das apólices de seguro no Brasil são estratosféricas para a grande maioria dos motoristas. Os altos índices de roubos de veículos e acidentes viários contribuem para inflar os valores.

Por sua vez, as seguradoras afirmam que o segmento auto gera prejuízos em seus balanços, os quais costumam ser cobertos pelos demais segmentos, como vida, previdência e residencial.

Um segmento de motoristas sofre mais com os altos preços. Jovens entre 18 a 25 anos assinam apólices que podem custar até quatro vezes mais em relação a um condutor na faixa de 45 a 55 anos.

As estatísticas não mentem: o estrato que abrigam maior número de condutores que se envolve em acidentes graves está na faixa dos 18 a 25 anos. Analisando mais a fundo, os analistas de risco descobriram que cerca de 15% dos acidentes – causados por menos de 10% dos segurados – geram quase 90% das despesas com sinistros.

A partir destas informações e utilizando as novas tecnologias disponíveis em carros modernos, fabricantes e seguradoras trabalham para implantar uma nova modalidade de apólice de seguro, a qual pode gerar grande economia para uma parcela significativa dos condutores. Veja qual é nos próximos parágrafos.

GPS E TELEMETRIA

A nova forma de cobrança de apólice de seguro aproveita os avanços tecnológicos da localização por satélite (GPS, ou global positioning system – sistema de posicionamento global, em inglês) e da telemetria, a qual extrai informações pelos sistemas OBD (onboard diagnostic – diagnóstico a bordo, em inglês).

A tecnologia OBD já é muito conhecida pelos adeptos da preparação, pois ela permite a leitura de dados sobre o funcionamento do veículo, e fazer análises sobre o modo de condução daquele veículo.

Por meio da telemetria, as seguradoras podem obter muitas pistas sobre o comportamento daquele motorista ao volante, como aceleração e velocidade do veículo, rotação média, realização de manutenção, dentre outros.

A inserção destes dados em sistemas de inteligência artificial, os quais analisam a forma de condução, contribuem para um cálculo individualizado e preciso do valor da apólice.

O rastreamento por GPS, por sua vez, permite detectar por onde o veículo trafega, a frequência de uso, quilometragem média diária e total anual, os locais (CEP´s) onde passa o dia e pernoita, e mais uma enorme miscelânea de dados.

De posse dos dados retornados pela telemetria e rastreador, as companhias de seguro poderão revolucionar os métodos de cálculo dos prêmios de seguro.

O ÓTIMO DE PARETO E OS PRÊMIOS DE SEGUROS

Em 1897, o engenheiro e cientista italiano Vilfredo Pareto lançou um estudo sobre a distribuição de renda na população italiana, o qual ficou conhecido como o ótimo de Pareto.

Este estudo descobriu que 20% da população detinham 80% da riqueza em circulação naquele país.

A partir dele, milhares de outros estudiosos descobriram que o mesmo princípio se aplica a praticamente tudo. Aproximadamente 20% da população detém 80% das terras, 20% da população consome 80% da bebida alcoólica produzida, 20% das indústrias fabricam 80% dos bens disponíveis e…

…cerca de 20% de todos os motoristas geram 80% de todos os sinistros cobertos pelas seguradoras.

O advento das tecnologias da telemetria e GPS permitirão às empresas fazer cálculos de prêmios de seguro mais precisos e personalizados, conforme os critérios do próximo tópico.

PRÊMIO DE SEGURO INDIVIDUALIZADO

Com base no princípio de Pareto e nas novas tecnologias, o condutor que permitir à seguradora ler os dados de telemetria e posicionamento de seu veículo poderá ter seu prêmio de seguro calculado com maior precisão, de modo fiel aos riscos que incorre de fato.

Distorções no preenchimento dos dados de apólice, tais como condutor principal, CEP´s de permanência e pernoite, quilometragem total anual e frequência semanal de uso podem ser corrigidas pelos dados extraídos dos controles acoplados ao veículo.

No próximo ano, a apólice será recalculada segundo os dados reais.

Pode-se constatar que muitos motoristas receberão bons descontos na apólice, devido ao seu perfil de baixo risco; enquanto outros serão pesadamente penalizados por sua grande exposição, podendo chegar ao extremo de ter seu seguro negado no ano seguinte.

Os dois tópicos abaixo trazem listas dos beneficiados e prejudicados com a nova abordagem.

OS BENEFICIADOS

Tecnologias que permitem descobrir a exposição individual de cada veículo levarão a um cálculo mais justo dos valores da apólice, gerando grandes economias para os segurados e também para a seguradora. Os perfis mais beneficiados são:

  1. Veículos que rodam pouco – No sistema atual, o prêmio do seguro é calculado segundo a frequência informada na contratação da apólice. Com o rastreamento em tempo real, a empresa poderá saber com precisão a frequência de uso do veículo, o CEP no qual permanece, se fica em garagem fechada e o itinerário por onde circula. Naturalmente, quem roda pouco pagará menos.
  2. Veículos que circulam em perímetro urbano – Acidentes em rodovias costumam gerar perda total, devido às velocidades elevadas demandadas. Por sua vez, veículos que rodam a maior parte do tempo em cidades, em velocidades menores, pagarão menos devido à menor exposição a acidentes de maior monta.
  3. Veículos que pernoitam em garagem fechada – Uma das fraudes mais comuns consiste em motoristas que passam informações incorretas sobre o local no qual o veículo fica estacionado. A geolocalização permite descobrir seu estacionamento real, premiando quem reduz a exposição a roubos e danos.
  4. Motoristas que respeitam as leis de trânsito – A telemetria instalada pela seguradora permite descobrir as velocidades nas quais o veículo trafega, se o motorista comete infrações de trânsito ou se viaja muito para outras cidades estados. Aqueles que respeitam as regras de trânsito podem receber descontos devido à sua redução na exposição ao risco.

OS PENALIZADOS

Neste tópico, deve-se ressaltar que o mau comportamento ao volante não é a única causa de penalização. Condutores que utilizam o veículo de modo profissional ou rodam em condições de maior exposição também poderão pagar prêmios mais salgados, mesmo conduzindo de modo prudente.

As seguradoras não têm interesse em perder estes clientes. Assim, algum benefício deverá ser oferecido a estes clientes. Por sua vez, os motoristas que geram a maior parte dos riscos sofrerão grandes aumentos de um ano para o outro.

Eles são:

  1. Motoristas que rodam grandes distâncias todos os dias – Taxistas, motoristas de aplicativos, comerciantes, entregadores, vendedores ambulantes e outros perfis que circulam por longas horas, todos os dias, certamente pagarão mais caro pela apólice. Cabe às empresas buscar alternativas para atendê-los e reduzir a exposição ao risco, dada a sua importância para o bom funcionamento da economia.
  2. Veículos que circulam com frequência em rodovias – Especialmente no interior, morar e trabalhar em cidades diferentes exige que o motorista circule grandes distâncias em rodovias e se exponha ao risco de acidentes de grande monta, devido à maior velocidade média. Neste caso, o comportamento do condutor terá grande influência no valor da apólice. Aqueles que respeitam os limites de modo consistente não sofrerão grandes acréscimos no momento da renovação, enquanto os “velocistas” contumazes poderão ver o valor do prêmio explodir no ano seguinte.
  3. Veículos que são dirigidos por muitas pessoas – Declarar na apólice um condutor principal divergente do real para obter redução no prêmio não será mais possível. A telemetria permite reconhecer os diferentes padrões de aceleração, frenagem, controle direcional, troca de marchas e respeito ás leis de cada motorista. No próximo ano, o valor do prêmio poderá ser uma média dos riscos incorridos por todos eles.
  4. Condutores que não respeitam as leis de trânsito – Os algoritmos de inteligência artificial das empresas permitem identificar se o condutor esterça, acelera e freia de modo brusco, se ultrapassa os limites de velocidade e até se dirige embriagado ou com sono. No ato da renovação da apólice, o resultado dessas práticas será apresentado em reais.
  5. Veículos estacionados na rua ou em CEP´s diferentes do informado – A prática de informar endereços divergentes dos reais na apólice será ineficaz para obter reduções nos valores. O rastreador permite que a seguradora saiba todo o histórico de circulação do veículo e a realização do cálculo com base nas informações reais. Provavelmente, esta informação pode desaparecer das apólices no futuro.
  6. Fraudadores – Cerca de 10% do valor dos prêmios de seguros servem para cobrir fraudes. Com a possibilidade de obter dados reais do veículo – com a permissão do segurado – levará à grande redução do número de golpes a seguradoras. O repasse aos consumidores ocorrerá conforme os motoristas autorizem a instalação dos equipamentos.

E SE EU NÃO QUISER INSTALAR OS EQUIPAMENTOS, O QUE ACONTECE?

Os clientes que optarem por não instalar os equipamentos de coleta de dados de condução ficarão restritos a um grupo considerado de alto risco pelas empresas, e tenderão a pagar prêmios cada vez mais caros, conforme os motoristas aceitem a instalação dos rastreadores e equipamentos de telemetria.

Muitos poderão ser impedidos de contratar apólices. A negativa de instalação dos equipamentos de telemetria, em conjunto com a ocorrência de sinistros graves em sequência podem negativar uma parte dos condutores que geram prejuízos aos demais segurados e às empresas.

UM EXEMPLO DE COMO SERIA NA PRÁTICA

Para explicar como ocorreria a precificação das apólices de seguro de veículos equipados com rastreador por GPS e telemetria, vamos partir da metodologia de cálculo atual e traçar vários perfis.

Ao final, chegar-se-á a conclusão de que a variação de preço será muito maior e os valores, mais justos para cada cliente.

O modelo a ser usado como exemplo é o Ford Ka SE 1.0 2016 abaixo.

ford ka 2018 estrelas crash test

Pelo método atual, a variação de prêmio já se mostra muito grande, variando de R$ 1.300 para perfis de baixo risco, pouco uso e bom CEP a cerca de R$ 5.000 para os casos de maiores riscos. O preço médio da apólice gira em torno de R$ 2.000.

Com a implantação do sistema de coleta de riscos por telemetria, geolocalização e análise por algoritmos de inteligência artificial, esta lista de valores estimados pode ser oferecida aos clientes.

PERFIL 1

Exemplar que pernoita em garagem fechada e circula apenas nos finais de semana, em pequenos trajetos na cidade. Segurado de 55 anos, casado, roda 5 mil quilômetros por ano

Este perfil traduz o menor risco possível. O valor do prêmio tão baixo como R$ 300, a depender dos serviços solicitados. A baixíssima frequência de utilização do veículo e perfil do motorista ajusta o valor do prêmio ao risco quase inexistente.

PERFIL 2

Exemplar utilizado para ir e voltar ao trabalho e fazer atividades familiares. Roda todos os dias, mas raramente em estradas. Segurada de 35 anos, casada, com filhos, roda 10 mil quilômetros por ano

Outro perfil bastante favorável. Como o uso do veículo se mostra pouco exposto a riscos, o prêmio custaria menos de R$ 1.000, a depender de outros fatores como existência de outros condutores e histórico de sinistros.

PERFIL 3

Exemplar utilizado para ir e voltar de universidade e trabalho. Circula com regularidade em rodovias. Segurado de 19 anos, solteiro, roda 15 mil quilômetros por anos

Um dos perfis mais controversos, com maior índice de sinistros do mercado. Neste caso, a instalação dos equipamentos pode ajudar a trazer reduções nos valores conforme o jovem construa seu histórico de condução.

No primeiro ano, o prêmio deve girar em torno de R$ 2.500 e sua queda ou elevação dependerá do modo de guiar ao longo do tempo, podendo ser reduzido para R$ 1.400 após dois anos ou subir para mais de R$ 6 mil em caso de envolvimento em acidentes.

Este é o caso mais emblemático de como a tecnologia pode beneficiar os bons condutores e penalizar os que não cumprem as leis. Os prêmios devem cair de modo geral e as seguradoras reduzirão as despesas com sinistros, beneficiando todo o sistema.

PERFIL 4

Veículo utilizado para ir e voltar ao trabalho entre municípios diferentes. Roda 90% do tempo em estradas, todos os dias. Segurado de 45 anos, casado, com filhos, roda cerca de 30 mil quilômetros anuais.

Mais um perfil que pode se beneficiar do fornecimento das informações para a seguradora e criar histórico de boas práticas ao volante. Já paga valores muito elevados pelos critérios atuais, acima dos R$ 3.000, e pode receber grandes descontos caso respeite os limites de velocidade, dirija em velocidade constante e sem manobras bruscas e evite horários noturnos, nos quais a fadiga aumenta a exposição a riscos.

Conduzindo dentro dos critérios de segurança, sua apólice pode ser reduzida pela metade. Em oposição, caso os dados colhidos e analisados indiquem elevação do risco, o prêmio poderá dobrar.

Aqui reside mais um caso no qual o comportamento influencia de modo positivo ou negativo.

PERFIL 5

Motorista de aplicativo que circula cerca de 300 a 500 quilômetros diários em circuito predominantemente urbano. Segurado de 32 anos, casado, com filhos, roda mais de 100 mil quilômetros anuais.

Este perfil se mostra muito exposto a riscos devido ao grande tempo de tráfego e natureza do serviço. Pelos critérios atuais, as companhias rejeitam este perfil. Por outro lado, produtos e serviços especiais para estes profissionais podem ser criados com o uso da tecnologia, gerando benefícios para todos os envolvidos: motoristas, passageiros e seguradora.

Um novo mercado demanda novas tecnologias. Os aplicativos de transporte tendem a crescer no mundo inteiro e novas oportunidades aparecerão para todos.

PERFIL 6

Motorista que roda cerca de 15 mil quilômetros anuais em veículo de transporte pessoal. Segurado de 42 anos, casado, e com longo histórico de sinistros de roubos acidentes.

Este é o perfil a ser eliminado do mercado, pois se encontra nos 20% do diagrama de Pareto que gera 80% das indenizações por sinistros.

Os motoristas que não seguem a lei serão os principais penalizados pela popularização dos rastreadores e equipamentos de telemetria. Ao final, sobrarão para eles duas opções:

  1. Autorizar a instalação dos coletores de dados e passar a dirigir com responsabilidade – de modo a reduzir a exposição a riscos – para continuar segurando seu veículo;
  2. Não aderir ao sistema e pagar valores ainda mais altos nas apólices, até ter seu seguro negado por todas as empresas.

MUITOS JOVENS VÃO PAGAR MENOS DO SEGURO

Mas somente aqueles que dirigirem com responsabilidade e respeito às leis. A  possibilidade da individualização da coleta de dados de exposição a riscos para todos os motoristas trará grandes descontos àqueles com bom comportamento.

A redução das despesas com indenizações e perdas com fraudes das companhias de seguro trará ganhos para todo o sistema. Em países desenvolvidos, os prêmios das apólices pode ser até cinco vezes menor em comparação com modelos idênticos aos vendidos no Brasil.

Enquanto as despesas com seguros pesam no bolso do brasileiro, elas se mostram muito pequenas em outros mercados. Segurar um Honda Civic no Brasil raramente sai por menos de R$ 2.500, enquanto as companhias norte-americanas cobram em torno de US$  1.200 para o mesmo modelo.

A partir do momento no qual as empresas puderem precificar os prêmios de seguros pela real exposição ao risco individual – com o auxílio da tecnologia e anuência dos segurados – mais pessoas entrarão no mercado e seguros e o serviço será prestado de forma mais efetiva.

As novas tecnologias prometem aliviar o bolso dos motoristas.

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