O Toyota Corolla é líder entre os sedãs médios por mérito ou marketing?
Os números não mentem. Desde o lançamento da nona geração do modelo, em 2003, mais conhecida como “Brad Pitt“, o Toyota Corolla tem liderado as vendas entre os sedãs médios na maior parte do tempo nestes quinze anos.
Nas vendas totais, o sedã fabricado em Indaiatuba aparece com regularidade no Top 10 entre todos os modelos.
A partir de 2014, com o lançamento da décima primeira – e atual – geração, não são poucos os meses nos quais o modelo da Toyota não vende mais do que a soma de seus concorrentes juntos. Nem mesmo o lançamento da décima geração de seu arquirrival, o Honda Civic, tem ameaçado sua liderança absoluta.
Um dos artigos mais lidos da página Educação Automotiva aborda a diferença de visão entre os entusiastas e detratores do Fiat Marea (clique aqui para ler), modelo notadamente polêmico, que divide opiniões e gera discussões acaloradas.
O Toyota Corolla também tem sua disputa: apesar da boa fama, alguns fãs afirmam que só trocam seu exemplar por outro e que o padrão de qualidade supera modelos premuim alemães.
Os detratores apontam a fama de “carro que não quebra” apenas como jogada de marketing para vender um carro com “acabamento, equipamentos e tecnologia de VW Gol a preço de BMW”.
Não há possibilidade de questionar a hegemonia do Toyota Corolla. Os números de vendas não podem ser negados. A pergunta central deste artigo é: o sucesso é merecido ou apenas jogada de marketing ou capricho do mercado de usados?
AMADO PELOS FÃS E REJEITADO PELOS HATERS PELAS MESMAS CARACTERÍSTICAS
O Toyota Corolla passa pelos mesmos questionamentos de outros modelos muito populares, tais como o VW Gol, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Chevrolet Monza e até mesmo seu rival Honda Civic. Seu sucesso se deve mesmo à superioridade técnica ou apenas marketing ou tendências de mercado?
Como os modelos citados acima, o sedã de Indaiatuba conquistou uma legião de fãs que dizem que ele é “inquebrável”, repetem o bordão “Toyota é Toyota” e juram que só trocarão seu Corolla por outro exemplar.
Como não existe unanimidade no mundo automotivo, os haters do modelo também marcam posição afirmando que o modelo oferece menos equipamentos em relação a concorrentes do mesmo valor. Até pouco tempo atrás, uma forte crítica residia na ausência dos controles de tração e estabilidade, hoje presentes em toda a linha.
Os detratores do sedã da Toyota – e até mesmo os fãs – fazem piadas sobre a idade de seus compradores, dos quais grande parte registram mais de cinquenta aniversários. Esta fama roda o mundo, como mostra este artigo da Bloomberg, e apelidos como “Vovorolla” são conhecidos até mesmo entre os não-entusiastas.
COROLLA E O DILEMA TOSTINES

O Toyota Corolla é o carro mais vendido de todos os tempos
O slogan do famoso biscoito se aplica perfeitamente ao caso do Toyota Corolla. Ele “vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”
Para obter uma análise mais precisa, existe a necessidade de dividir a exposição em duas partes. Primeiramente, traçar os perfis de seus compradores fiéis, os clientes que o rejeitam e do consumidor brasileiro médio.
Em paralelo, analisar seus pontos fortes e deficiências, em paralelo com outros modelos. O objetivo consiste em chegar a uma resposta completa, a qual consiga abranger todos os perfis de motorista. A exemplo do artigo do sedã de cinco cilindros da Fiat.
PERFIL DO CONSUMIDOR MÉDIO BRASILEIRO
Qualquer análise mercadológica de nosso mercado automotivo esbarra na questão financeira. Ter qualquer carro custa muito caro para comprar em manter no Brasil. As vias se encontram em estado de conservação sofrível em sua maior parte e há pouca oferta de bons produtos e mão-de-obra qualificada disponível.
Dadas as limitações orçamentárias e operacionais, o consumidor brasileiro se mostra bastante conservador ao comprar carros e valoriza mais a confiabilidade do que a tecnologia avançada. Facilidade de revenda e manutenção simples predominam em detrimento de segurança, respeito ao meio ambiente e projeto moderno.
O artigo abaixo explica em detalhes como pensa e o que deseja o consumidor de carros no Brasil.
Conheça os 8 fatos para entender a cabeça do consumidor brasileiro
Como se pode observar, o Toyota Corolla entrega quase todas as características valorizadas pelo motorista brasileiro, com exceção do preço acessível. Daí, pode-se deduzir que a maioria dos brasileiros teria este modelo se pudesse pagar por ele.
O CONSUMIDOR FIEL AO COROLLA
Deixando de lado as brincadeiras sobre a idade dos compradores ou o design do veículo, os proprietários do sedã da Toyota seguem o padrão do consumidor médio em sua maior parte.
Mesmo com opções mais modernas ao alcance de seu bolso, os “toyoteiros” seguem fiéis à proposta de “carro para quem não quer ter trabalho”, apenas abastecer e levar na revisão. Fácil de usar, prático, apenas com os equipamentos essenciais e, acima de tudo, que não deixe na mão.
Para este perfil, assistentes de manobra, teto solar, painéis cheios de telas TFT, assistentes de manobra e mudança de faixa, rodas aro 18″ e outras perfumarias não valem mais de que um carro “inquebrável”.
Para melhorar a análise, os proprietários que utilizam o veículo para fins profissionais não devem ser incluídos. Taxistas, motoristas de aplicativos, vendedores, empresas de transporte institucional, dentre outras, enxergam o automóvel como mera ferramenta e renegam o gosto pessoal a segundo plano. Boa parte escolhe o Toyota Corolla para o trabalho, mesmo preferindo outros modelos.
Com o perfil dos fãs do Corolla bem definido, o diálogo abaixo serve para contrastar as preferências com outros motoristas que acham o modelo “sem sal” ou “carro de tiozão”.
O “toyoteiro” é questionado por seu amigo “jetteiro” sobre as desvantagens do Corolla em relação ao Jetta, segue um diálogo nesta linha:
- Jetteiro: Você não acha que o Corolla está defasado em tecnologia?
- Toyoteiro: Não sinto falta. O que importa é que o Corolla não quebra.
- Jetteiro: O Corolla não é turbo. Anda menos e gasta mais até que o Jetta 1.4.
- Toyoteiro: Quando levo na concessionária, pago 500 reais na revisão e o atendimento é bom. Você paga mais que o dobro para ser mal atendido. Fora que eu só vou na concessionária para fazer revisão, não para ter que trocar turbina e kit de dupla embreagem.
- Jetteiro: É o preço que pago para ter um carro alemão, bom de dirigir. Câmbio CVT é sem graça e o Jetta faz muito mais curva que o Corolla, é muito mais na mão.
- Toyoteiro: Eu quero é conforto, não andar em um carro duro que nem o Jetta.
- Jetteiro: Conforto? O Corolla é muito apertado atrás. Não consigo nem sentar atrás de mim mesmo sem raspar o joelho no banco da frente. Sem contar que o Jetta tem teto solar, assistente de manobra e rodas aro 18″. O Corolla não tem nem como opcional e o aro 16″ parece roda de skate.
- Toyoteiro: Quem quer teto solar para entrar água? E pneu aro 18″ custa mais que o dobro que o aro 16″. É mais de R$ 1.000 a cada quatro pneus. E não confio em assistente de manobra, isso não deve funcionar. E o Corolla é bom de mercado, desvaloriza menos.
- Jetteiro: Só se for o GLi e o XEi. O Altis desvaloriza mais que qualquer Jetta. Fora a tecnologia alemã, muito mais refinada.
- Toyoteiro: Desvaloriza, mas pelo menos o Corolla vende rápido. O Jetta é difícil encontrar alguém que compre.
E assim segue a conversa…
Quem tem razão? Os dois, cada um sob a sua ótica. Este exemplo serve para destacar o que os fãs do Corolla priorizam e suas deficiências, tão expostas pelos motoristas que não o apreciam.
Dado o contraste de posições, traçar o perfil dos detratores do Corolla se mostra simples.
GEARHEADS, OS HATERS MAIS FERRENHOS DO COROLLA
“A vida é muito curta para dirigir carros chatos” é o lema dos consumidores que preferem modelos mais empolgantes. Alguns podem afirmar que o design do sedã da Volkswagen citado acima é mais sóbrio que o Toyota, o que se mostra quase um consenso.
Os entusiastas, por sua vez, exaltam a excelente dirigibilidade e tecnologia avançada do Jetta e dos carros alemães de modo geral. Vale lembrar que os japoneses priorizam os mercados norte-americano e asiático na concepção de seus projetos, ao passo que os modelos germânicos os concebem para a Europa, com suas ruas e estradas bem pavimentadas.
A diferença de prioridades aparece muito bem. Enquanto a Toyota privilegia a funcionalidade, durabilidade e robustez, as marcas alemãs investem em tecnologia de ponta, refinamento mecânico e acabamento caprichado.
Naturalmente, a preferência dos apaixonados por carro recai sobre a escola alemã, dado que estes se dispõem a aplicar mais tempo e dinheiro em veículos que entregam prazer ao volante. Por isso rejeitam as versões nacionais do Corolla sedã.
Estes clientes clamam a volta da Fielder, a perua do Corolla. Curiosamente, as station wagons deixaram de ser “carro de mãe” para ganhar o status de “familiares esportivos”, com nomes como “sportwagon”, “touring sports” e cair nas graças dos gearheads.

Toyota Fielder 2019. Muitos entusiastas esperam por sua volta.
Também clamam pela vinda do Auris ou Corolla hatch, mesmo que pertençam a segmentos em declínio, mas considerados mais “entusiastas”.

Toyota Auris. Os fãs do VW Golf gostariam de ter mais uma opção.
O COROLLA E OS CONCORRENTES
Com o perfil dos simpatizantes e detratores do sedã da Toyota claramente delineado, o confronto com seus concorrentes mais populares é inevitável. Posto que o segmento de sedãs médios sempre foi disputado, a hegemonia do sedã de Indaiatuba está sob constante ameaça.
Para compreender a posição da Toyota, olhar o segmento em retrospectiva desde a década de 1970 permite uma visão mais clara.
A hegemonia que a Chevrolet manteve no segmento de sedãs executivos, a partir do início dos anos 70, foi tomada de assalto pela dupla nipônica trinta anos depois. Para não ser mais reconquistada.
- Quais os trunfos que permitiram que modelos como Opala, Monza, Vectra e Omega dominassem o mercado?
- Qual a razão da perda súbita do mercado para a Honda e Toyota?
- Mesmo após o relançamento de um produto competitivo em 2012, o Cruze, por que a marca não retomou o prestígio no passado?
AS FORÇAS
- O Corolla lidera o segmento por larga margem devido às suas qualidades alinhadas ao perfil do consumidor brasileiro;
- Todos os equipamentos mais valorizados estão disponíveis, enquanto outros com pouca procura não constam no catálogo;
- A qualidade do modelo se concentra no essencial. O mercado considera o motor e câmbio Toyota como referência em durabilidade e manutenção da categoria;
- Estrutura, chassis e carroceria oferecem ótima rigidez torcional, comprovada pela nota máxima nos testes de impacto da LatinNCAP;
- Modelo mais popular do segmento, possui pouca desvalorização nas versões mais populares e grande procura no mercado de seminovos, em todas as gerações;
- O pós-venda se encontra entre os melhores do Brasil, com preços de revisões razoáveis. Em muitos casos, o bom atendimento nas oficinas fideliza o cliente à marca.
AS FRAQUEZAS
- Apesar de se adequar com a demanda do consumidor médio, o mercado automotivo passa por mudanças e o modelo evoluiu pouco desde a nona geração “Brad Pitt”. Mesmo com a evolução em chassis e segurança, os concorrentes têm tomado a dianteira em tecnologia;
- Os motores 1.8 e 2.0 permanecem com poucas alterações nos últimos quinze anos, entregando maior consumo e desempenho inferior em relação aos concorrentes. A negativa em equipar seus modelos com motores turbinados, de maior eficiência energética e desempenho superior, tem deixado o Corolla em desvantagem neste quesito;
- O menor nível de equipamentos faz falta para os consumidores mais ávidos por tecnologia moderna, especialmente assistências eletrônicas de controle dinâmico, direção, estacionamento e telemetria, disponíveis em concorrentes há algum tempo;
- A qualidade dos materiais de acabamento deixa a desejar para modelos na casa dos R$ 100 mil. Os críticos do modelo apelidam os plásticos do Corolla de “acabamento de Gol”. Apesar da boa montagem e ausência de ruídos com o passar do tempo, a melhoria da aparência dos materiais se mostra obrigatória. Seu rival Honda Civic está em melhor situação.
AS OPORTUNIDADES
- Seu companheiro de showroom, o Prius, já incorpora mecânica híbrida e tecnologias de eficiência energética. A décima-segunda geração, a ser lançada ano que vem, deve incorporar o mesmo conjunto utilizado no veículo “verde” da Toyota;
- Caso não haja grandes variações de preço entre os modelos, as força da marca Toyota e o prestígio do Corolla tendem a crescer com a incorporação de um conjunto que entrega médias de consumo de 18,9 km/l, em conjunto com as reduções de impostos e outros benefícios pontuais;
- A Toyota dispõe de tecnologia de última geração na matriz e filiais americana e europeia. A inclusão das mais importantes por aqui traz a oportunidade de consolidar a liderança e reforçar ainda mais a boa imagem da marca.
AS AMEAÇAS
- Os preços excessivos em relação ao produto oferecido permite à Toyota desfrutar de margens de lucro gordas. Um concorrente que lançar um produto mais moderno e política de preços agressiva pode tomar o mercado;
- Muitas vezes, os executivos da marca se mostram hesitantes em entrar em um mercado, lançar um novo produto ou implantar uma nova tecnologia em um modelo. Em um mercado cada vez mais concorrido e de tecnologia em rápida mudança, a empresa pode perder vendas para um concorrente que atue com mais celeridade;
- O Prius é o carro híbrido mais vendido do mundo, e a próxima geração o Corolla deve receber o mesmo conjunto mecânico. A maioria dos concorrentes está trabalhando em modelos híbridos e elétricos, especialmente após a sanção do Rota 2030, novo regime automotivo que entra em vigor em novembro de 2018. Há um mercado enorme a ser conquistado facilmente pela Toyota, mas uma decisão errada pode entregá-lo aos rivais.
O CARRO MAIS VENDIDO DE TODOS OS TEMPOS
Entre os fãs do Corolla, há uma máxima que afirma que “se todo brasileiro pudesse comprar um carro de R$ 100 mil, o Corolla seria o modelo mais vendido do Brasil”.
As vendas mundiais do modelo confirmam essa tese. O Toyota Corolla é o modelo mais vendido de toda a história da indústria automobilística e lidera as vendas globais na maior parte desta década.
Ao contrário do VW Gol e Chevrolet Onix, o Corolla é uma preferência mundial. Após onze gerações e centenas de versões e variantes, a fama de “pau-para-toda-obra” e “inquebrável” ganhou o mundo.
Um caso emblemático da popularidade do modelo japonês é o mercado do Afeganistão: naquele país, 8 em cada 10 automóveis que circulam nas ruas são versões do Corolla, de todos os anos e gerações.
O Corolla é um modelo de sucesso tão avassalador que seus críticos apontam seus defeitos, mas reconhecem suas qualidades. Sentados ao volante de um Civic, Cruze, Jetta, Sentra, Audi A3, Passat, Fusion ou BMW 320i.
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sugiro edição no diálogo jetteiro e toyoteiro:
está errado…
Jetteiro: O Corolla não é turbo. Anda mais e gasta menos até que o Jetta 1.4.
o certo seria:
Jetteiro: O Corolla não é turbo. Anda menos e gasta mais até que o Jetta 1.4.
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Corrigido. Obrigado.
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