Toyota é Toyota. Será?
Publicado em 18/10/2015, atualizado em 22/12/2017
Nos anos 90, quando a Toyota entrou em nosso mercado, a marca não era vista com muito bons olhos pelos consumidores. Seus produtos custavam caro, motores fracos e falta de peça, fato que os deixava em grande desvantagem em relação aos modelos nacionais.
Com o intuito de se tornar competitiva, a montadora japonesa fez campanhas de marketing realçando sua alta confiabilidade e fama de “carro que não quebra”, algo que os veículos entregavam. Após um início tímido, a marca conquistou lentamente uma legião de fãs e fanboys. (Saiba quem são os fanboys neste link). Eles usam argumentos como “Toyota é Toyota”, “Toyota não quebra”, “Toyota ganha de todos”, “Toyota é o melhor”.
Este artigo visa a detalhar alguns pontos fracos da marca e fazer o consumidor ponderar sobre algumas situações nas quais não vale a pena escolher a marca, sempre seguida da antítese com a explicação dos pontos fortes do “jeito Toyota” de fazer carros.
De fato, a Toyota se mostra uma das marcas que mais crescem em meio ao caos automotivo. O quarteto fantástico (saiba quais são as marcas neste link), ao qual ela pertence e cresce a passos largos em nosso mercado, com suas qualidades cada vez mais destacadas. Sucesso merecido. Em todo lugar, encontra-se facilmente consumidores satisfeitos com seus modelos, dos quais boa parte se mantém fiéis à empresa.
Por outro lado, alguns se mostram tão fanáticos que ficam cegos para as fraquezas desta fabricante e forças de seus concorrentes. Costumam dizer “Toyota é Toyota” e compará-los com veículos de categorias superiores e até premium (como BMW e Mercedes), com tecnologia, requinte e preço superiores.
1. ACABAMENTO MINIMALISTA, QUASE SIMPLÓRIO
Na maioria dos casos, seus concorrentes diretos entregam acabamento mais caprichado pelo mesmo valor. A Toyota valoriza a rentabilidade acima de tudo, e a parte mais custosa na produção de um automóvel são os revestimentos e detalhes.
Assim, o controle de custos se mostra um obsessão pelos seus engenheiros e técnicos, e o meio que eles encontram de fazer acontecer reside na eliminação dos itens não essenciais, resultando em um veículo barato de produzir e de preço elevado. Isso resulta em altas margens de lucro, justificadas por ser “um Toyota”. Por isso, vale a pena conferir o que os rivais oferecem.
Nota-se algumas economias de acabamento como abertura do porta-malas de acionamento por cabo no Corolla, o instrumento combinado no centro do painel do Etios e a ausência de coberturas plásticas na parte interna da tampa do porta-malas de diversos modelos da linha, em todos os anos/modelo.
O acabamento minimalista, com menor quantidade de materiais, entrega dois pontos fortes muito interessantes: veículos muito leves devido à retirada de componentes não essenciais, favorecendo desempenho e consumo.
A eliminação destas fontes de ruído também contribui para preservar o silêncio a bordo em exemplares com muita idade e quilometragem, sem os incômodos grilos de plásticos soltos e os rangidos de chassis castigados pela torção. Segundo a Toyota, menos é mais. Os consumidores assinam embaixo.
2. CARROS “PELADOS”, SOMENTE COM O ESSENCIAL
Seguindo a mesma lógica do item anterior, os veículos recebem apenas os equipamentos mínimos exigidos por lei ou pelos consumidores. Por exemplo, a marca vende a Hilux SW4 SR, de R$ 160 mil, mas que não possuía controles de tração e estabilidade até a linha 2016. A principal motivação para a inclusão das assistências de segurança ativa consistiu na gritaria geral de público e crítica, posto que toda a concorrência já dispunha deste item, até em modelos de entrada.
O Corolla também carecia dos assistentes eletrônicos de controle dinâmico em todas as versões, os quais se tornaram itens de série muito tardiamente, na linha 2017.
O Etios Platinum tinha preço superior a R$ 50 mil, equipado com motor de apenas 98 cavalos de potência. Após receber uma atualização em 2016, houve um incremento para 107 cavalos. Mesmo assim, o rendimento continua aquém de seus principais concorrentes.
No mesmo ano, a marca nipônica disponibilizou a opção de câmbio automático para o seu compacto. Entretanto, foi escolhida uma caixa de quatro marchas bastante obsoleta, apesar de confiável. Parafraseando Mogli, a Toyota entrega somente o necessário. Sem firulas e perfumarias complicadas para o cliente médio.
3. TECNOLOGIA ATRASADA EM RELAÇÃO AOS CONCORRENTES
Esta política consiste em um dos pilares da alta confiabilidade. Mecânica simples favorece a redução do número de falhas, resultando em melhor confiabilidade. Porém, a Toyota se vale de tecnologia antiga em seus modelos de maior volume.
Em sua linha não há em sua linha nenhum motor a gasolina com turbo nem injeção direta, tampouco havia controles de tração e estabilidade nos veículos fabricados no Brasil até meados de 2015.
A filosofia Toyota foi descrita em detalhes neste outro artigo sobre a indústria automobilística japonesa:
4. MANUTENÇÃO EXCLUSIVAMENTE NA REDE AUTORIZADA
Um dos fatores mais importantes na construção da reputação da Toyota consiste na qualidade do pós-venda, referência em todo o mercado. Os serviços sempre aumentaram a rentabilidade das autorizadas, com a obrigatoriedade de executar revisões e manutenções exclusivamente na rede oficial, a fim de manter a garantia de três anos.
Seu trunfo reside no excelente atendimento e cuidado em simplificar a vida do motorista, reduzindo seu trabalho a levar o veículo nas revisões programadas. Por outro lado, a manutenção se mostra dificultada no caso de veículos mais antigos e/ou com baixo volume de vendas, pois os itens como óleo, amortecedores e pastilhas de freio não podem ser encontradas fora das autorizadas.
Para os mecânicos fora da rede autorizada, investimentos adicionais são necessários, pois as máquinas e ferramentas necessárias para a execução dos serviços estão disponíveis para venda apenas pela marca, a preços altíssimos, encarecendo a manutenção em relação aos concorrentes no mercado de modelos com mais de sete anos, cujos donos evitam os serviços de concessionárias.
5. PREÇOS EXTORSIVOS EM ALGUNS MODELOS E VERSÕES
O Corolla Altis, versão topo de linha do modelo, custa mais que alguns veículos premium de marcas como Audi, BMW ou Volvo. Seu rival direto, o VW Jetta TSI, custa o mesmo, entregando motor 58 cv mais potente e mais equipamentos como teto solar, central multimídia com Apple Car Play ou Android Auto, assistente de manobra e piloto automático adaptativo.
Enfim, o nível tecnológico do carro mexicano se mostra anos-luz à frente, sem cobrar mais por isso. Os entusiastas da marca japonesa alegam seguro e manutenção caros e menor confiabilidade como pontos fracos do sedã da Volkswagen, argumento que procede.
Neste caso, o trade-off a se fazer gira em torno da confiabilidade e custos para o Toyota ante desempenho e tecnologia para o Volkswagen, como mostra a figura abaixo.
No caso de veículos como o Camry e RAV4, seus concorrentes são Mercedes-Benz C200 e GLK200, Land Rover Evoque, BMW 325i e X3, Jaguar XE, entre outros. O resultado consiste em vendas pífias, pois concorre com veículos superiores em status e prestígio, como Jaguar, BMW, Mercedes, Audi e Volvo, quando deveria lutar por mercado com Ford, Chevrolet, Volkswagen, Nissan e Honda.
Apesar dos preços elevados, as vendas vão de vento em popa e os lucros líquidos igualam fabricantes que vendem o dobro de unidades.
6. NÃO É “INQUEBRÁVEL”
Como qualquer modelo, os Toyota apresentam alguns problemas crônicos, indo de encontro ao que prega o marketing. Porém, seus veículos sofrem de alguns defeitos recorrentes como qualquer outro fabricante, fato que não desabona a reputação da marca, mas prova que as afirmações dos fãs da marca de “carro inquebrável” configuram flagrante exagero.
Pode-se citar alguns exemplos. As pastilhas de freio dos Corolla automáticos se desgastam muito rápido, com vida de apenas 15 a 20 mil quilômetros, ante 25 a 35 mil na média dos demais concorrentes. Problemas na injeção eletrônica e amortecedores deste popular modelo também aparecem com frequência em exemplares de usuários menos cuidadosos com o combustível e imperfeições das vias, os quais derivam de deficiências no processo de tropicalização. Nos modelos mais recentes, ocorrem com menor frequência.
O Etios sofre de imprecisão no marcador de combustível e infiltração nos faróis nos modelos pré-atualização de meio de geração. A Hilux sofre com problemas de estabilidade, obtendo reprovação no “teste do alce”, o qual simula o desvio de um obstáculo na pista, consistindo de uma manobra com mudança brusca de direção e posterior guinada à rota original.
A picape mostrou a iminência de capotamento nos testes realizados com as duas últimas gerações. A engenharia da marca afirma que a introdução dos controles de estabilidade sanaram o problema.
Em suma, a boa confiabilidade da Toyota se mostra inquestionável, especialmente em seus conjuntos de motor e câmbio. Seu chassi e carroceria também apresentam durabilidade notável, rodando por centenas de milhares de quilômetros sem ruídos ou problemas graves de torção. O acabamento permanece íntegro, sem degradação, rachaduras ou rompimento dos materiais plásticos, apesar da simplicidade.
Esses defeitos comuns não desabonam a boa fama amealhada, pois as autorizadas costumam saná-los com presteza e bom atendimento. Todas as marcas padecem de algum deles, e a Toyota não é exceção.
TOYOTA É TOYOTA?
Incontestavelmente, a Toyota se tornou das marcas mais admiradas e desejadas do grande público de carros no Brasil e amealhou um grande fã clube. As qualidades dos modelos da marcas, muitas e importantes, coroam sua estratégia certeira para seu crescimento no mercado e o sucesso é merecido.
Conhecida pela confiabilidade, durabilidade e qualidade no pós-venda, alguns fanboys da marca japonesa dizem que os carros são “inquebráveis” e “passam de pai para filho”. Seu mantra é “Toyota é Toyota”. Um gritante exagero, pois todo veículo possui seus calcanhares-de-aquiles, e estes não são diferentes.
Para encerrar o artigo com justiça. A Toyota tem ganhado muito mercado de forma merecida, pois tem fornecido bons produtos e serviços aos seus clientes. Por outro lado, ela enfrenta fortes concorrentes em todos os segmentos nos quais atua, dos quais muitos competem em pé de igualdade e muitas vezes superioridade.
Assim, não se pode endeusar a marca e comprar cegamente seus veículos, sob o risco de pagar mais caro e levar um carro menos equipado. Fazer pesquisas detalhadas, pedir orientação para alguém com conhecimentos aprofundados sobre carros e pesquisar outras opções de diversos fabricantes consiste em ação essencial antes de assinar o cheque.
A Toyota fabrica carros de qualidade. Muitos concorrentes também.
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