Carro japonês dura mais?
Ao chegar ao mercado brasileiro no início dos anos 1990, os modelos importados do Japão não ofereciam grandes atrativos em relação aos fabricados por aqui ou importados de outros países.
Os Honda Civic e Toyota Corolla de vinte e cinco anos atrás pareciam acanhados e anêmicos em relação aos modernos europeus Fiat Tempra e Chevrolet Vectra A, coqueluches automotivas na época da reabertura de importações. No segmento superior, Toyota Camry e Honda Accord se mostravam mais competitivos, mas também não foram páreo para Chevrolet Omega – o absoluto – e BMW 325i, um alemão que revolucionou o mercado com sua potência e prazer ao dirigir.

Este modelo japonês dos anos 90 não foi páreo para…

…este modelo italiano. O mercado era muito diferente naqueles tempos.
Competindo com modelos mais compactos e de motorização mais modesta, um forte trabalho de marketing foi realizado pelas marcas nipônicas baseado no atributo que os diferenciava das demais: confiabilidade e durabilidade.
Não resta dúvidas de que os publicitários tiveram enorme êxito em seu trabalho. Assim, a pergunta tema deste artigo é a seguinte:
Carro japonês quebra menos e dura mais? Eles realmente são mais confiáveis que a concorrência ou foi um paradigma criado pelo marketing e imaginário popular?
A RESPOSTA É SIM.
Entre os modelos mais vendidos, automóveis de fabricantes japoneses tendem a se mostrar mais duráveis e apresentar menos falhas em comparação com a média do restante da indústria.
No exterior, existem empresas que calculam índices de confiabilidade segundo diferentes métricas. Indicadores de controle de qualidade usualmente mensuram a confiabilidade em falhas para cada 100 mil unidades. Na prática, a metologia se mostra muito mais sofisticada.
Este site britânico dá um exemplo de como funciona um índice de confiabilidade. Em todos os rankings, automóveis japoneses aparecem nas primeiras posições em confiabilidade, invariavelmente.
Lamentavelmente, ainda não temos uma consultoria brasileira que preste serviço semelhante ao da brilhante JD Power, nos EUA. Em seu ranking de confiabilidade de marcas, três dos cinco fabricantes do Top 5 são da Terra do Sol Nascente. Confira. Não haveria surpresa alguma se os resultados aqui obtidos não diferissem dos de outros países.
QUAL O “SEGREDO” DO “CARRO QUE NÃO QUEBRA”?
O “segredo” dos japoneses é conhecido desde muito antes da existência da indústria automobilística naquele país. No Brasil, sua aplicação bem sucedida ocorre desde os anos 1920 por aqui com o Ford “Bigode”.
Numerosos exemplos o seguiram, citando os legendários VW Fusca, Chevrolet Opala, modelos Volkswagen equipados com o propulsor EA 827, mais conhecido como AP (Alta Performance) e a linha Chevrolet com os motores Família I e II debaixo do capô, seguem a mesma receita que consagrou os modelos japoneses na atualidade.
Resguardados os padrões de boa confiabilidade de cada período da indústria, o “segredo” da resistência e durabilidade se mostra comum a todos:
O SEGREDO É A SIMPLICIDADE MECÂNICA.
A evolução contínua e paulatina da tecnologia ocorre desde a criação da indústria automobilística em 1886, conforme descrito neste artigo. Engenheiros e técnicos trabalham arduamente no desenvolvimento de inovações de todos os tipos, para todos os sistemas. A partir deste ponto se iniciam as divergências entre os fabricantes e suas reputações de confiabilidade.
Alguns deles utilizam o vanguardismo tecnológico como bandeira de marketing, a exemplo da francesa Citroën, a alemã Audi e a italiana Fiat. Em seus materiais promocionais, citações como “a primeira marca a usar suspensão pneumática em seus veículos” (peça para o Citroën Xantia), “Vorsprung durch Technik” (Avanço pela tecnologia, em alemão), slogan da Audi, e “a marca com os motores mais avançados do Brasil” (panfleto para o Fiat Marea) promovem a imagem de “marca inovadora” e “pioneira em tecnologia”.
Não por acaso, a maior parte destes fabricantes se encontram nas últimas posições nos rankings de confiabilidade. As tecnologias mais recentes tendem a apresentar maior número de falhas em seus estágios iniciais enquanto passam por testes no mercado. Conforme o aprimoramento se desenvolve e o grande público adota as inovações, todas as empresas tornam este equipamento de série. Aí está o pulo do gato dos japoneses.
Eles sempre adotam as novas tecnologias POR ÚLTIMO, com alto grau de confiabilidade, após os concorrentes gastarem seus recursos em pesquisa e desenvolvimento.
MOTORES E TRANSMISSÕES
No passado, a Volkswagen adotava a mesma postura conservadora. Vale lembrar que o primeiro modelo do Gol, lançado em 1980, teve sua carroceria projetada para receber o motor AP a água, mas a marca optou por equipá-lo com o tradicional boxer aircooled, por exigência dos clientes, ainda apegados à confiabilidade da mecânica do Fusca e Kombi.
Resguardados os padrões tecnológicos e de qualidade de cada década, a postura das marcas nipônicas segue a mesma filosofia. Desde o final da década de 1980, os motores turbocomprimidos equipam um número cada vez maior de modelos, restando poucas marcas sem esta opção em sua linha.
Uma delas é a Toyota. Alegando a insuficiência na durabilidade, alto índice de falhas para os padrões da marca e encarecimento nos custos de manutenção, sua opção recaiu sobre a motorização híbrida, resultando no modelo mais vendido do mundo do segmento, o Prius. Esta montadora utiliza o turbocompressor em alguns modelos e versões esportivos de baixo volume de vendas.
Por sua vez, a Honda tem se mostrado reticente na utilização de sobrealimentação de seus modelos, equipando apenas modelos de baixo volume de vendas como a versão topo-de-linha Touring do Civic. A Nissan segue o mesmo caminho da primeira, optando pelos elétricos puros ao invés de conjuntos com dois motores. Sua grande aposta é o Leaf, um hatchback totalmente elétrico.
Para as caixas de mudança de marchas, vale a mesma regra. Nada de dupla embreagem ou modelos com mais de oito marchas. As marcas nipônicas preferem o CVT, de construção mais simples, ou transmissões comprovadamente resistentes como as veteranas automáticas de quatro marchas, aplicadas há mais de trinta anos e ainda em utilização em modelos de entrada como o Toyota Etios. Novamente, menos é mais.
DEMAIS SISTEMAS
Qualquer pessoa com conhecimentos automotivos mais aprofundados que já visitou linhas de montagem ou desmanches certamente notou a menor quantidade de componentes plásticos e a tendência à simplificação, como abertura do porta-malas por cabo ao invés de comando elétrico. Os modelos e versões mais simples não possuem revestimentos acústicos e acabamento nos compartimentos do capô e de bagagem. Afora a redução de custos de produção, há também o alívio de peso com foco na redução do consumo.
Os conjuntos elétricos não possuem sistema antiesmagamento nem módulo para subida de vidros ao travar o veículo de série na maioria dos modelos e versões. Ar condicionado digital se mostra exclusividade de modelos importados e versões mais caras, assim como as assistências eletrônicas de controle de tração, frenagem e estabilidade. Até pouco tempo atrás, havia modelos Toyota de quase R$ 200 mil sem equipamentos disponíveis em modelos populares com preço abaixo dos R$ 50 mil.
O artigo Toyota é Toyota. Será? trata de algumas dessas economias feitas pelos japoneses e corrigidas apenas por força de lei e exigência dos consumidores. A Honda segue as mesmas práticas ao oferecer modelos acima de R$ 80 mil com dois airbags, ar condicionado analógico e sem assistências eletrônicas de comportamento dinâmico.
Apesar de tudo, a “filosofia Mogli” de “somente o necessário” contribui para a melhoria da confiabilidade, redução nos custos de manutenção e eficiência energética. Todos pontos valorizados pelos compradores, ao contrário de motores turbo de alta performance e sistemas de infotenimento ultrasofisticados e difíceis de usar, caminho seguido pela Volkswagen nos últimos anos.
CARROCERIA E CHASSIS
Na outra ponta, observamos chassis e carroceria construídos de forma simplificada, mas com muito capricho nas soldas, materiais, controle dimensional e montagem. Mesmo após muitos anos de uso, modelos japoneses costumam apresentar menos ruídos de plásticos soltos e rangidos na carroceria, assim como portas, capô, faróis, lanternas, tampas e demais peças da carroceria desalinhadas.
Diferentemente de outros fabricantes, a aplicação de aços de alta resistência se mostra mais comedido e o foco permanece na qualidade de fabricação, colocando os modelos japoneses entre os mais seguros do mercado. Mesmo os modelos com apenas dois airbags e sem eletrônica se saem bem devido à rigidez estrutural.
Grande parte a economia de custos realizada nos itens supérfluos se perde aqui, posto que o padrão mais rígido de qualidade exige equipamentos mais sofisticados – e caros – e trabalhadores mais bem treinados – e bem pagos. Tudo em nome da qualidade.
ENTÃO OS CARROS JAPONESES SÃO AS MELHORES ESCOLHAS PARA TODO MUNDO?
Como as pessoas valorizam aspectos diferentes em um automóvel, alguns motoristas torcem o nariz para os modelos da ilha do Monte Fuji devido à sua aparência deveras simplória, motorização com menor tecnologia agregada e preços elevados em relação aos equipamentos oferecidos em relação à concorrência.
Pelo mesmo valor, pode-se adquirir o Honda Fit e o Ford Fiesta. Neste caso, pode-se optar entre um modelo com o mesmo motor 1.5 aspirado disponível há quase dez anos sem grandes alterações – mas muito robusto e confiável; e outra unidade 1.0 turbinada acoplado a uma caixa de dupla embreagem, de desempenho matador para o porte e preço dos veículos.
O modelos japonês entrega o bom, básico e bem-feito, em uma embalagem discreta, ao passo que o compacto da marca do oval azul ostenta as tecnologias mais modernas, farta lista de equipamentos e design chamativo, apesar da idade.
Aqui mora a explicação para o fato de modelos japoneses não obterem grandes fãs entre o público entusiasta, amante de tecnologia e alto desempenho. Do lado oposto, eles amealham seus consumidores mais fanáticos entre os motoristas mais conservadores, geralmente de faixa etária acima de 50 anos e que “não querem ter dor de cabeça com carro”.
Em suma, os GearHeads apelidam modelos japoneses como o Toyota Corolla de “Vovorolla” e o Honda Fit de “carro de moça”, ao mesmo tempo em que os motoristas mais tradicionais chamam o VW Golf de “carro de playboy” e dizem que o Citroën C4 Lounge 1.6 THP manual é “duas alegrias: uma quando compra e outra quando vende”.
OS CARROS JAPONESES SÃO “FUSCAS MODERNOS”?
Do ponto de vista de confiabilidade e durabilidade, sim. E chamá-los de “Fuscas modernos” consiste em um grande elogio, posto que o clássico besouro ainda mora no imaginário popular como ícone de resistência, versatilidade e durabilidade.
Alguns afirmam que o Honda Civic e Toyota são os “GM Monza e VW Santana modernos”. Procede, posto que o público de ambos os modelos permanece o mesmo e os japoneses tomaram o segmento de assalto concorrendo com adversários de peso como VW Jetta e GM Cruze, com mais tecnologia embarcada e menor prestígio.
Como conseguiram? Adotando a receita que os antigos “donos” do segmento abandonaram: eliminação das “firulas tecnológicas”, visual discreto, mecânica simples, confiabilidade mecânica e grande durabilidade.
CARRO JAPONÊS DURA MAIS?
Sim. A filosofia dos fabricantes desta nacionalidade busca o bom, básico e bem-feito, sem perfumarias e feitos para precisar de pouca manutenção, seguro, econômico, durar muitos anos. Ter aparência discreta e que não fique datada após muitos anos de uso. Não são feitos para encantar e empolgar, e sim para cumprir sua função de transporte da forma mais direta e eficiente possível. E
Eles refletem a cultura do povo que os criou, uma das nações mais avançadas do mundo.
excelente matéria.
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Honda pra mim e a melhor 12 anos com um motor original fora outros muitos que eu ja vi rodar muito
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Somente discordo com relação às manutenção dos carros da Honda terem baixo custo. A tal calibragem das válvulas que é feita a cada 40 mil km é absurdamente cara, e chegam a 2 k facilmente. Se os japoneses primam pelo bom , bem feito e barato de manter, pq continuam c esses motores, posto que desconheço motor de outra montadora que necessite de tal manutenção que como já falado custa muito caro.
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Ja tive Civic e afirmo, quebra e dá defeito como qualquer outro carro.
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SE O SEU QUEBROU, COM CERTEZA FOI POR ABSOLUTA FALTA DE MANUTENÇAO E DESLEIXO. JÁ TIVE VÁRIOS, DE TODAS AS GERAÇÕES (6 A 10)DESDE OS ANOS 90, NOVOS E USADOS, RODEI COM VÁRIOS ACIMA DE 200.000KM, SEM ABSOLUTAMENTE NENHUM PROBLEMA SÉRIO. EMBREAGEM (NOS MANUAIS) TROCADA SOMENTE ACIMA DE 180K. DISCOS DE FREIO TAMBÉM DURAM NO MÍNIMO ATÉ 150K . DE RESTO SÓ MANUTENÇÃO BÁSICA, AO CONTRARIO DE GM E FORD, QUE JÁ DAVAM PROBLEMA NA SAÍDA DA CONCESSIONÁRIA.
SÓ RECLAMA QUEM NUNCA TEVE UM DE VERDADE.
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Artigo muito esclarecedor, agregou!
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Meu Suzuki S-Cross manda um abraço!
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