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Qual a nova receita de sucesso dos carros americanos?

bandeira dos estados unidos

A partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, a indústria automobilística mundial passou por um processo de rápido desenvolvimento tecnológico. Fabricantes europeus e norte-americanos, os mais famosos naquele tempo, tomaram caminhos completamente opostos.

Os tempos de bonança nos EUA favoreceram os modelos grandes, sofisticados e potentes, enquanto os habitantes do velho continente priorizavam modelos econômicos, compactos e racionais. Por aqui, os projetos de modelos de entrada tinham origem europeia, enquanto os mais luxuosos vinham dos Estados Unidos.

Até o final dos anos 70, com as sucessivas crises do petróleo, a ascensão das indústrias alemã e japonesa e o forte crescimento dos mercados emergentes, os carros e utilitários norte-americanos foram a referência de performance, qualidade e tecnologia. Os modelos mais desejados tinham origem na terra do Tio Sam, em sua maioria.

O aumento brutal do preço dos combustíveis, o desenvolvimento tecnológico da indústria alemã e a confiabilidade, eficiência energética e racionalidade dos fabricantes nipônicos logo fizeram os automóveis americanos parecerem carroças desengonçadas, beberronas e obsoletas.

O objeto do desejo dos consumidores deixou de ser Cadillac e Oldsmobile e migrou para Mercedes-Benz e BMW. Entre os carros de entrada, Ford e Chevrolet foram ofuscadas por Honda e Toyota.

Depois de quase trinta anos, o trio de ferro de Detroit reagiu e voltou ao top of mind dos consumidores do mundo inteiro, com a receita clássica, mas revista e atualizada. Veja como a indústria automobilística mais tradicional do mundo virou a própria mesa.

OS ANOS DOURADOS DA INDÚSTRIA DE DETROIT

carros americanos charger mustang

A vitalidade da economia ianque favoreceu a produção de veículos imponentes, confortáveis, espaçosos e de bom desempenho. Os propulsores de 8 cilindros em V – os icônicos V8 – se tornaram sinônimo de carro americano e são cultuados por seu povo e por muitos entusiastas no mundo inteiro.

Enquanto a Europa ainda se reconstruía do caos da Segunda Guerra, buscando modelos compactos e racionais, a exuberância, conforto e motores cada vez mais potentes. Quanto maior, mais exótico e mais possante, melhor. Enormes grades cromadas, lanternas no formato de ogivas, pinturas de duas ou mais cores e frisos, capôs e porta-malas compridos e frisos por toda a carroceria ditaram os projetos dos modelos clássicos dos anos 50 e 60.

A tradicionalíssima indústria automobilística norte-americana concentrou a maior parte de suas plantas na região de Detroit, outrora conhecida como “cinturão de ferro”. Lá nasceram ícones que encantam gerações, mesmo depois de cinquenta anos de sua fabricação, tais como Chevrolet Impala e Camaro, Ford Mustang e GT40 e Dodge Charger e Challenger. Mesmo com suas releituras modernas e tecnologicamente atuais, os  modelos originais são insubstituíveis.

Motores com deslocamentos como 7.0 e até 8.0 apareciam com frequência naqueles tempos de petróleo, com desempenhos impressionantes para os padrões da época. Infelizmente, a crise do petróleo e uma recessão econômica com baixo crescimento e inflação galopante assolou os EUA e enterraram os carros V8 potentes e beberrões, impondo a substituição por modelos leves e econômicos – de desempenho anêmico.

Como os fabricantes de outros países se adaptaram ao novo cenário mais rapidamente, especialmente os japoneses, a indústria americana entrou em declínio e teve seu espaço ocupado por novos concorrentes. Carros americanos viraram sinônimo de desajeitados, ineficientes e ultrapassados. Logo, “o cinturão de ferro” passou a ser apelidado de “cinturão enferrujado”.

RECEITA REVISTA E ATUALIZADA

carros americanos ford fusion hybrid

Ford Fusion Hybrid

Em segundo plano desde o final dos anos 1970, as montadoras de Detroit reagiram. Foi-se o tempo no qual a indústria americana sobrevivia de fazer carros grandes, beberrões e com pouca tecnologia. O conforto, amplo espaço interno e imponência tradicionais receberam conjunto mecânicos de tecnologia atual, eficiência energética e muitos itens de conveniência, versatilidade e infotenimento. Tudo a preços muito competitivos.

Os problemas crônicos de alto consumo de combustível, tamanho exagerado, estabilidade ruim em curvas e tecnologia desatualizada em relação aos rivais europeus e asiáticos. Sem comprometer a tradição automotiva de um país inteiro, os automóveis e utilitários de origem americana receberam os adventos da modernidade, preservando as preferências de seus consumidores fiéis.

Atualmente, o sucesso de modelos americanos no Brasil, a exemplo dos Chevrolet Camaro e Equinox, Ford Fusion e Chrysler 300 C, encontrados em grande quantidade em nossas ruas e com muitos admiradores, corroboram a volta das marcas americanas ao rol dos objetos de desejo dos consumidores, após um período de vinte anos de domínio de concorrentes alemães e japoneses.

Fabricantes como General Motors e Ford continuam entre os líderes de vendas globais devido a uma paixão antiga americana, a qual ganha adeptos no mundo inteiro em um ritmo impressionante: picapes, jipes, crossovers, minivans e utilitários esportivos. A especialidade da indústria de Detroit, os trucks constituem segmentos dos quais eles jamais perderam a liderança.

A TERRA DAS “BANHEIRAS”, PICAPES E SUV´S

carros americanos ram laramie

RAM Laramie 1500

Em tempos de petróleo caro, mesmo para os padrões ianques, basta o preço do barril do petróleo baixar de US$ 50 para as vendas de modelos com esta motorização decolem e a paixão nacional pelos motores V8 se reaviva, deixando em segundo planos os modelos econômicos.

Durante crises ou picos na cotação do barril, vendas de modelos de quatro cilindros ou híbridos aumentam por razões econômicas, mas basta o cenário voltar à normalidade para que os americanos retomem sua paixão por modelos cheios de cromados, capôs compridos, motores V8 de mais de cinco litros de deslocamento, amplo espaço interno, suspensão e bancos macios e mais de cinco metros de comprimento.

Carros americanos continuam grandes, apesar da aproximação aos padrões mundiais nos últimos anos. Mesmo com a onda de padronização de modelos em todos os mercados, por todos os fabricantes, a classificação de tamanhos daquele país continua um patamar acima do restante do mundo. O quadro abaixo exemplifica as diferenças, citando seu enquadramento em cada mercado:

  • Fiat 500 – Brasil: subcompacto – Europa: subcompacto – EUA: minicarro;
  • Chevrolet Sonic – Brasil: compacto – Europa: compacto – EUA: subcompacto;
  • Chevrolet Cruze – Brasil: médio – Europa: médio – EUA: compacto;
  • Toyota Camry – Brasil:  grande – Europa: grande – EUA: médio;
  • Mercedes-Benz Classe S: Brasil: luxo – Europa: limousine – EUA: full size.

Outra paixão americana, especialmente nos estados do meio-oeste, centro e no Texas, são os pickup trucks e SUV´s, os enormes utilitários que mais parecem caminhões com acabamento e equipamentos de automóveis. Em pouco tempo, as vendas de utilitários irão superar as de automóveis, e este fascínio redneck por modelos altos e largos se alastra pelo mundo inteiro. Neste território, as três grandes marcas de Detroit reinam absolutas.

DESIGN EXUBERANTE

carros americanos cadillac eldorado

Cadillac Eldorado 1960

Carros americanos são grandes. Ponto. Mas a tradição americana de design vai além do tamanho. Cromados espalhafatosos, estilo imponente e chamativo, com grades, faróis e lanternas enormes atrai muitos compradores locais e de todo o mundo.

Desde os anos 40, os famosos “rabos-de-peixe” cativam fãs no mundo todo e criaram um estilo nacional inconfundível, com suas linhas marcantes e repletas de vincos, detalhes cromados e pinturas biton, muito populares nos anos 50 e 60 e de volta à moda atualmente. Capôs e porta-malas enormes, com grades e lanternas de desenhos fora do padrão redondo ou quadrado, também marcaram época.

Em oposição ao desenho elegante e equilibrado das escolas europeias, o design americano sempre optou pela exuberância e imponência, vista até os dias de hoje em modelos como o Chrysler 300C, Ford Edge e Chevrolet Camaro, para citar alguns exemplos. Ao comparar com modelos europeus como Mercedes-Benz Classe E, Audi Q3 e BMW Z4, de mesmas categorias e preços similares, a diferença de estilos aparece claramente.

CONFORTO ÍMPAR

O acerto clássico americano de suspensão pode ser visto nos seriados e filmes feitos por lá. Quem não se lembra de alguém que freia um carro até sua parada, e a frente sobe e desce quatro ou cinco vezes até cessar a oscilação?

Ao contrário dos modelos alemães, os quais priorizam handling e estabilidade em altas velocidades, modelos made in USA colocam o conforto em primeiro lugar, em detrimento do controle direcional, optando por acertos de suspensão mais macios. Em estradas com limites de velocidade de até 110 km/h e fiscalização intensa, não há a necessidade de controle direcional tão acurado como nos modelos alemães, pátria das autobahnen.

Outra marca norte-americana, amplamente divulgadas nos filmes de Hollywood, são as estradas de longas retas no meio do deserto. Em muitos lugares daquele país, as condições do asfalto são bastante precárias, similares às brasileiras em muitos casos. Assim, um conjunto de suspensão menos rígido ajuda a melhorar o conforto a bordo. A maior parte dos motoristas de lá priorizam a maciez em relação ao controle direcional.

ESPAÇO INTERNO

Os modelos americanos clássicos dos anos 60 e 70 mediam quase seis metros de comprimento, boa parte compostos por capô e porta-malas, sem refletir em ganho de espaço interno e compartimento de bagagem.

Nos dias de hoje, o enquadramento ao gosto mundial e o avanço tecnológico que permitiu a construção de conjuntos mecânicos leves, compactos e potentes causou a redução das dimensões internas e aumento do espaço interno.

Os produtos atuais são mais espaçosos e acomodam mais bagagem que os antigos, em sua maioria. O melhor aproveitamento do package do veículo ocorre pelo menor volume ocupado pelo conjunto mecânico e melhor distribuição dos espaços, mesmo com 50 a 80 centímetros a menos. Outras soluções de engenharia melhoraram a habitalidade dos exemplares mais modernos.

Os porta-malas de modelos antigos eram largos e fundos, mas muito rasos, o que comprometia sua capacidade de carga. Mesmo com grande capacidade, a colocação dos objetos não favorecia seu aproveitamento em relação aos formatos mais cúbicos dos projetos modernos. No habitáculo, assentos muito volumosos e túneis de eixo-cardã altos tolhiam o espaço para os passageiros e contrariam a impressão de que modelos enormes eram mais espaçosos em relação aos atuais.

 

O RONCO DO V8

motor V8 7.2 chrysler 440

Como relatado de forma reiterada neste artigo, o motor símbolo da indústria automobilística ianque possui entusiastas fanáticos pelo ronco grave e alto dos motores de oito cilindros em V, aspirados e de grandes deslocamentos volumétricos.

De preferência medidos em polegadas cúbicas. Motores V8 como o Ford 302 (5.0), Chevrolet 427 (7.0) e Chrysler 440 (7.2).

EXCELENTE CUSTO-BENEFÍCIO

Automóveis norte-americanos custam pouco em relação a similares alemães e japoneses. Pelo mesmo preço de um alemão ou japonês médio premium, como BMW Série 3 ou Toyota RAV4, é possível levar um exemplar de marca americana da categoria superior, como o Ford Fusion ou Dodge Journey.

Além de pertencer a categoria superior, estes modelos vêm mais equipados que seus concorrentes premium, os quais custam o mesmo em suas versões básicas ao competir com os americanos em versões completas. Muitos compradores são conquistados pela fartura de espaço e equipamentos, abrindo mão do refinamento, economia e desempenho esportivo dos modelos germânicos.

O CAVALO MAIS BARATO DO MUNDO

Entusiastas fazem uma conta bastante peculiar: a relação reais pagos por cavalo-vapor. Neste aspecto, os modelos americanos dominam as primeiras posições. Entusiastas que buscam carros potentes a preços baixos, especialmente no mercado de usados, acabam escolhendo modelos americanos em grande parte das vezes.

Pode-se adquirir modelos como Ford Mustang e Chevrolet Camaro de cinco ou seis anos de idade, os quais entregam em torno de 400 cv com seus V8, por menos de R$ 100 mil no mercado de usados. Não se compra um alemão como o BMW M3 com menos de oito anos por esse valor.

O mesmo vale para modelos zero quilômetro. Um Ford Fusion entrega 248 cv, ante os 156 cv de uma Mercedes C180. O Chevrolet Equinox rende 262 cv, ante os 150 cv de um Audi Q3.

RELATIVA SIMPLICIDADE MECÂNICA

Uma das grandes queixas de alguns consumidores aos modelos alemães reside na alta complexidade da construção mecânica, resultando em custos de manutenção mais altos. Modelos made in USA seguem as preferências daquele público, os quais preferem motores grandes e de mecânica mais tradicional.

Na atualidade, a referência em eficiência mecânica e reparabilidade está nos modelos asiáticos, dos quais muitos modelos americanos replicaram a receita. Por se tratar de uma preferência daquele mercado, modelos comuns nos EUA vêm como premium para o Brasil, a exemplo do Ford Fusion e Chevrolet Camaro, com o benefício dos preços de manutenção mais em conta em relação aos rivais alemães da mesma faixa de preço.

MAIS IMAGEM POR MENOS PREÇO

O que você prefere? Um carro americano grande recheado de equipamentos ou um alemão básico? Este é o (doce) dilema fundamental de quem está em dúvida entre um automóvel americano e um alemão, dentro de um orçamento.

Aqueles que valorizam status da marca e refinamento tecnológico ficarão com a primeira opção. Outro grupo prefere um modelo maior, mais robusto e chamativo, espaçoso, potente e equipado e levará para casa o modelo made in USA.

Para pessoas com mais conhecimento sobre carros, os modelos de luxo chamarão mais a atenção. Por outro lado, os menos entendidos confundem facilmente uma BMW 320i com um Honda Civic, ao passo que um Jeep Grand Cherokee parece mais sofisticado em relação a um Audi Q3, devido aos equipamentos de conveniência, a fartura de cromados, tamanho avantajado e o ronco do V8.

Carros made in USA são amados por alguns e rejeitados por outros, mas jamais passarão despercebidos nas ruas e mentes dos motoristas. A vistosa beleza americana não dá margem à indecisão.

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