Quero um carro para a vida toda! Quais as qualidades que ele precisa ter?
A indústria moderna se caracteriza pela crescente quantidade de lançamentos e novos produtos, criando novas necessidades e desejos nos consumidores. Estes, por sua vez, compram e trocam seus veículos sempre pensando na próxima aquisição – em prazos cada vez menores.
Nossos pais e avós compravam um automóvel com o objetivo de mantê-lo por muitos anos em suas garagens.A dificuldade e alto custo de trocá-lo impunha critérios de escolha mais conservadores, especialmente no que concerne à sua durabilidade.
De tempos em tempos, alguém faz a seguinte pergunta:
QUERO UM CARRO QUE DURE A VIDA INTEIRA. QUAL MODELO VOCÊ RECOMENDA?
Dada a variedade das necessidades e gostos pessoais, é evidente que não existe uma resposta pronta e acabada. Para decepção de muitos. Felizmente, os veículos mais resistentes possuem algumas características em comum que os farão ser passados de geração em geração. Este artigo traz as cinco mais importantes.

Qualquer carro tinha custo muito elevado naqueles tempos. Assim, o feliz motorista que tinha condições de comprar um modelo novinho em folha dava por certo que seria o único que ele poderia comprar durante sua vida. Como se fosse uma segunda casa. Ou deveria mantê-lo por longos anos, o que de fato ocorria.
As diretrizes de projeto de um novo modelo seguiam o dimensionamento para vida infinita. Na engenharia de produto, isso significa que a máquina – no caso, o automóvel – é construída para durar para sempre, apenas substituindo os componentes desgastados.
Este conceito contrasta com o da obsolescência programada, mais aplicado a partir dos anos 80.
Quando os leitores pedem para “indicar um modelo que duraria a vida inteira”, duas traduções técnicas desta pergunta são “me indica carro que foi projetado para ter vida infinita” e “qual carro não sofre obsolescência programada”.
Ambas as abordagens têm suas vantagens e desvantagens. Os próximos parágrafos trarão as características dos automóveis e utilitários projetados para durar pelo prazo nos quais as peças de reposição estiverem disponíveis.
De todas as qualidades indispensáveis para um veículo ser durável, a mais importante é:
1 – CHASSIS BEM CONSTRUÍDO
Praticamente todos os sistemas e componentes do veículo podem ser reparados ou substituídos, à exceção do chassis, a estrutura sobre a qual ele é construído.
O CHASSIS É A ALMA DO CARRO
Os modelos mais longevos, fabricados em todas as épocas, compartilham a característica: sua estrutura resiste às irregularidades das ruas brasileiras por décadas. Sem esta qualidade, não é possível ter um carro que dure a vida inteira.
E como uma pessoa sem grandes conhecimentos pode identificar um automóvel com boa construção de chassis, visto que ele não pode ser visto?
O consumidor comum pode realizar alguns exames simples e checar alguns detalhes do veículo, em pelo menos cinco unidades do modelo, de dois a quinze anos de uso, se possível.
- Abrir e fechar todas as portas e tampas do veículo, sempre conferindo se a operação pode ser feita com facilidade, sem a necessidade de batê-las, forçá-las ou empurrá-las;
- Se as portas, capô e tampa do porta-mais de um veículo com mais de dez anos e/ou 200 mil quilômetros rodados ocorrem normalmente, pode-se concluir que o modelo é bem construído;
- Verifique o alinhamento destas mesmas peças móveis quando fechadas. Se não houver desalinhamento claramente visível, ou estiverem salientes ou reentrantes em relação à carroceria, o chassis é bem construído;
- Modelos de estrutura frágil sofrem de problemas de torção de carroceria e desalinhamento de peças, assim como de dificuldade de abrir e fechar portas e tampas;
- Dirija-os, se possível. Fique atento aos exemplares de mais idade e quilometragem, pois são estes que indicam a solidez estrutural. Veículos robustos se mostram firmes e estáveis ao rodar, mesmo após muitos anos de uso. A ausência de ruídos na carroceria, ao passar em irregularidades e contornar curvas também indicam boa construção;
- Observe também se os exemplares mantêm bom alinhamento de direção e firmeza ao rodar em velocidades acima dos 100 km/h. Modelos de construção menos robusta não mantêm o alinhamento direcional, geram trepidações no volante e transmitem insegurança ao rodar em rodovias;
- Automóveis com estruturas de boa rigidez são firmes em curvas e silenciosos ao rodar após muitos anos de uso, enquanto modelos que padecem de problemas de torção são barulhentos ao rodar e não transmitem segurança no controle direcional, passando a sensação de suspensão “borrachuda” e sem estabilidade. A verdadeira causa está no chassis muito “mole” e desgastado do uso.
A boa construção estrutural é o ponto inicial na busca de um carro para a vida inteira. Motores podem ser retificados, componentes mecânicos, eletrônicos e elétricos são passíveis de substituição e o acabamento pode ser renovado.
No final, a construção sólida de chassis e carroceria direciona o restante da escolha. De nada adianta um motor durável em uma carroceria torta e barulhenta.
2 – MECÂNICA DE BAIXA MANUTENÇÃO

Um motorista que busca um carro para a vida inteira não deseja grandes dispêndios de tempo, dinheiro e preocupação com ele, correto? Escolher um modelo de baixa manutenção é o segundo passo.
Preste atenção no termo baixa manutenção. Ele vai além dos convencionais “mecânica simples, robusta e barata” por abordar a questão de forma mais abrangente. O proprietário de um modelo durável precisa escolher entre algumas prioridades da lista abaixo:
- Mecânica simples e barata, mas que precisa visitar a oficina com frequência para fazer manutenções preventivas e corretivas. Farta oferta de peças e mão-de-obra; Exemplo: VW Fusca, Gol e Santana, Fiat Uno e Strada, Chevrolet Classic.
- Mecânica sofisticada e cara, mas robusta, confiável e que frequenta pouco as oficinas especializadas, para manutenção preventiva em quase todas as vezes; Exemplo: Toyota RAV4, Subaru Outback e Forester, e Honda Accord.
- Mecânica popular e com farta oferta de peças e mão-de-obra, de baixa frequência de manutenção e alto volume de vendas; Exemplo: Honda Fit e Civic, Toyota Corolla e Hilux, Chevrolet S10.
Ou todas as alternativas anteriores, se existisse tal modelo. Ao final, o proprietário deve definir seu orçamento e prioridades. Observar relatos de outros donos e as condições dos exemplares bastante rodados e antigos também sinalizam sobre o conjunto mecânico utilizado.
Um automóvel escolhido para acompanhar o motorista em todos os passeios precisa estar sempre pronto para o próximo, dispensando cuidados especiais. A pergunta-chave sobre a mecânica é:
SE VOCÊ VIAJAR COM SEU CARRO DE DEZ ANOS PARA A AMAZÔNIA, PARA O NORDESTE OU PARA A ARGENTINA, VAI ENCONTRAR PEÇAS E MECÂNICOS PARA REPARÁ-LO, SE NECESSÁRIO?
Se for o único carro ou o principal, esta pergunta tem grande importância, pois um modelo sem assistência técnica acessível para de rodar na primeira pane. Os modelos comprados para rodar no local, em distâncias curtas e/ou a lazer, ela não precisa ser levada ao pé da letra, se a manutenção for bem programada. Isto leva ao próximo item.
3 – ELE NÃO POSSUI EQUIPAMENTOS EXÓTICOS

Inovações tecnológicas são muito desejáveis e se incorporam a cada novo lançamento. Neste processo de tentativa e erro, alguns equipamentos não emplacam por diversos motivos, como o da figura acima.
O motorista que busca um casamento carro para vida inteira deve evitar estas tecnologias exóticas e/ou de baixa escala, pois enfrentará dificuldades futuras para fazer as manutenções.

Controles eletrônicos, tetos solares panorâmicos, computadores de bordo, sistemas de suspensão diferentes, motorizações de baixo volume de vendas e até mesmo modelos equipados com faróis de xenônio podem trazer problemas ao proprietário que quer permanecer com o mesmo carro por muitos anos, pois sua manutenção encontrará dificuldades.
4 – PRESTE ATENÇÃO NA QUALIDADE DOS MATERIAIS DE ACABAMENTO
As peças de carroceria, estética e acabamento fabricadas em plástico, borracha, tecido e couro são as primeiras a apresentar sinais de deterioração no veículo, sinalizando o esmero de construção de mecânica, chassis e carroceria.
Mesmo podendo ser substituídas ou reparadas de forma relativamente simples, os componentes fabricados nestes materiais compõem parcela considerável nos custos de produção do veículo, e a redução de sua qualidade é a primeira medida para contê-los – e sinalizar que o mesmo foi feito no restante dos subsistemas.
O controle de qualidade de plásticos, borrachas e revestimentos varia muito entre modelos de entrada e topo-de-linha, apresentando os seguintes sinais de qualidade:
- Exemplares com dez anos ou mais de uso, e que mantêm seus plásticos e borrachas sem ressecamento, rachaduras, deformação, flexibilidade e sem cor esbranquiçada ou amarelada demonstram qualidade superior;
- Peças plásticas de carroceria como para-choques, retrovisores, grades, frisos e maçanetas mantém a aparência original após muitos anos, assim como as guarnições e borrachas das portas, capô e porta-malas devem manter as propriedades mecânicas de amortecimento e capacidade de absorver ruídos e impactos;
- Lanternas e faróis fabricados em polímeros devem manter a cor e transparência originais, sem desbotar ou esbranquiçar com o tempo;
- No interior, os tecidos devem resistir ao desgaste da movimentação dos passageiros, sem rasgar ou esgarçar com facilidade. Se o revestimento for de couro, não pode estar desgastado ou ressecado com pouco tempo de uso;
- Observar o assento do motorista dá muitas pistas sobre a qualidade do acabamento. Assento, volante e pedais com pouco desgaste após os 100 mil quilômetros indicam o provável uso de materiais de qualidade.
Cabe uma ressalva neste item. Nem sempre existe sincronia entre o acabamento caprichado, a confiabilidade e a durabilidade do modelo ou dos materiais.
Muitos fabricantes optam por priorizar a qualidade construtiva e confiabilidade mecânica, deixando a sofisticação do acabamento em segundo plano. Isso resulta em acabamento enxuto, de aparência simples, de poucas peças, mas resistente à passagem do tempo.
Outros concorrentes utilizam material mais nobres, mas que se degradam ao serem expostos ao clima, impactos e atrito decorrente do uso. Neste caso, o tempo é o senhor da qualidade. Observar os exemplares mais antigos indica a opção do fabricante pela durabilidade, aparência, ou o uso de materiais mais caros que trazem as duas qualidades.
Os dois itens abaixo são de menor importância, mas podem trazer dicas importantes sobre a qualidade e longevidade de um modelo de carro.
5 – VERSÃO BÁSICA OU TOPO-DE-LINHA?
O controle de qualidade nos modelos fabricados até a década de 90 não era tão desenvolvido, gerando variações consideráveis entre os produtos. No momento de testar os componentes e fazer a aferição de cada um, as unidades aprovadas recebiam “notas”, que definiam para qual versão eles seriam destinados.
Exemplo: um automóvel possui três versões que utilizam o mesmo motor.
O controle de qualidade dos motores é dividido em notas “A”, “B”, “C” e “Reprovado”, sendo os nota “A” de melhor aderência aos padrões de qualidade, “B” de resultados intermediários e “C” os aprovados próximos aos critérios definidos pela engenharia.
As notas definem para qual versão eles serão destinados:
- Os que recebiam nota “A” são destinados à versão topo-de-linha, mais cara e equipada;
- Os avaliados como nota “B” equipam as versões intermediárias;
- Os nota “C” equipam o restante das versões e as unidades excedentes vão para o mercado de reposição;
- Os reprovados são descartados, desmontados e as peças que atendem às especificações vão para o mercado de reposição;
Ao chegar às concessionárias, as versões mais completas receberam os componentes com melhores notas no controle de qualidade, e possuem maior possibilidade e probabilidade de obter maior vida útil.
Vale lembrar que o controle de qualidade é um método estatístico e avalia somente os parâmetros definidos pelos projetistas no processo produtivo.
Para quem pretende adquirir um modelo zero quilômetro com o intuito de ficar muitos anos com o mesmo veículo, este critério pode ter alguma relevância.
Até a década de 90, o controle de qualidade não era muito rígido, e permitia grande variância dimensional entre os produtos e a nota obtida no controle de qualidade interferia na durabilidade.
Contudo, a grande melhora nos métodos reduziu a diferença entre as unidades de melhor resultado e as aprovadas no limite, trazendo pouca diferença na vida útil final dos modelos mais modernos. Porém, a influência ainda permanece no mercado de reposição e pode indicar ou não a necessidade de manutenções futuras.
A nota no controle de qualidade não contempla o uso do veículo, o qual pode ter sofrido acidentes ou ter passado por trocas de sistemas importantes, como motor, transmissão e sistema elétrico.
O fim da vida útil de algumas peças, com posterior reposição, também reduz a importância da versão na longevidade do veículo. Em modelos mais antigos e com muitos componentes originais, buscar a versão topo-de-linha pode levar à escolha de um exemplar que irá menos à oficina. Desde que ele tenha atendido ao item 3.
6 – OBTER 5 ESTRELAS NO CRASH TEST
Este item aparentemente desconexo pode dar muitas pistas em modelos mais recentes, construídos após o início dos ensaios.
Mas o que a nota no crash test tem a ver com durabilidade?
Ele guarda relação direta com o item 1 nos modelos modernos, pois a rigidez do chassi é fundamental para conquistar boas notas nos testes de impacto. De modo indireto, os reforços estruturais executados pelos fabricantes para proteger os ocupantes em impactos podem aumentar a longevidade do veículo.
Grosso modo, os pequenos impactos absorvidos pelo chassis ao passar por buracos, valetas, lombadas e pequenos impactos em muitos anos de uso geram, de forma acumulada, a deterioração causada por um só grande acidente.
Assim, a estrutura capaz de absorver bem um impacto frontal a 64 km/h tende a resistir às deformações provocadas pela rodagem por mais tempo.
Mesmo sendo uma regra empírica e sem comprovação científica, quem opta por um modelo com bom padrão de segurança (cinco estrelas nos crash tests oficiais) estará levando um modelo durável, se observar os demais critérios deste artigo.
PROPAGANDA PARA OS JAPONESES?
Os leitores mais exaltados afirmação que este artigo é uma peça publicitária para as marcas japonesas, o que se trata de meia-verdade. Este é a típica pergunta do estilo “o que veio primeiro, o ovo ou a galinha?”.
Na década de 60, a jovem indústria automobilística japonesa queria se expandir para fora de seu próprio território, a exemplo dos passos dados pelos chineses atualmente e pelos coreanos há vinte anos. E resolveram descobrir qual eram os desejos dos consumidores e estudar o modo como seus concorrentes faziam carros.
Desde então, a indústria nipônica trabalhou arduamente em aprimorar as seis características que fazem um veículo durar por décadas – e investiram pesado nisso. Ao passo que a indústria alemã priorizou tecnologia avançada, acabamento e performance, a italiana e francesa focaram em design exuberante, prazer ao dirigir e originalidade, os japoneses tomaram a qualidade e durabilidade como seu cavalo-de-batalha.
Existem marcas e modelos de todas as nacionalidades que podem durar a vida inteira, como os citados ao longo deste texto. É possível encontrar modelos da Volkswagen, Fiat, Renault, Chevrolet, Ford e até da Peugeot e Citroën com essas características, como o 205 e o clássico 2CV.
De forma involuntária, este artigo explica as características basilares da indústria japonesa e que são seu principal chamariz, assim como ainda marca os antigos Volkswagen a ar e os equipados motor AP. Carros duráveis e de baixa manutenção ainda são o sonho de muitos motoristas, e este mercado cativo sempre existirá.
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comprei o virtus e ele é ruim de acabamento e bom de segurança , acho q ele entra no critério para a vida toda, rs.
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Qual a sua avaliação dos Chevrolet americanos década 50 e 60 (BelAir, Imapala e pickup) – montados em Chassi, mecânica simples, sofisticação interna mas com peças de metal sólido.
Obrigado pela atenção.
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Olá Felipe
Os carros americanos dos anos 50 e 60 são muito longevos, pois a construção carroceria sobre chassis é bem robusta, assim como o acabamento de metal.
A mecânica é dimensionada para receber quantas retíficas for necessário, apesar de a maioria das que se encontram em circulação terem recebido motores modernos.
Quem já visitou os EUA constata que elas circulam em grande quantidade por lá, especialmente no interior.
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O que diz sobre a durabilidade dos Mercedes Benz ? Dizem que costumam serem duráveis e não ter problemas complexos como BMW. Obrigado
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A Jeep Cherokee Clássica, 98 – Com mecânica simples e robusta, montada no Chassi – Se encaixa na categoria para a vida inteira?
As peças não são das mais baratas, mas não são um absurdo e requerem pouca manutenção?
Obrigado
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Estou mencionando do motor 6 em linha 4.0 – Sport
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Ótimo artigo, Pedro. Me pergunto se o Suzuki Jimny teria as características para durar a vida toda. O que você acha?
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