Os carros que ganharam apelidos carinhosos
Simca Chambord, apelidado de Belo Antônio
A criatividade e o senso de humor são marcas registradas do brasileiro. Atribuir apelidos sempre foi uma constante na vida de todos nós, principalmente entre os homens.
Os automóveis também não poderiam escapar, como o Simca Chambord (1958-1867) da foto acima, apelidado de Belo Antônio. O sujeito em questão foi personagem de um filme muito popular nos anos 60, o qual era um rapaz boa-pinta e bastante popular entre as mulheres, mas sofria de impotência sexual, moléstia sem solução à época. A comparação com o sedã da marca francesa se estabelecia na parca potência do motor 2.4, de apenas 100 cv e 15,5 kgm.m de torque, claramente insuficientes para dar boa propulsão ao modelo de belas linhas.
Este é um exemplo de como a mente imaginativa do brasileiro gerou dezenas de apelidos para modelos de todas as épocas. Em casos extremos, o apelido acaba sendo mais famoso que o nome original. Confira mais alguns:
Renault Dauphine, o “Leite Glória”

Renault Dauphine, o “Leite Glória”
O modelo de estreia da fabricante francesa não obteve muito êxito, e hoje se mostra mais lembrado pelo apelido jocoso de “Leite Glória”. Esta marca de leite em pó tinha o slogan “desmancha sem bater”, pois seus flocos ficavam soltos.
Para o azar do compacto, a qualidade construtiva de seu chassi e carroceria eram sofríveis, e os componentes se desalinhavam com pouco tempo de uso, transformando o carro em uma verdadeira escola de samba de tantos ruídos. O mesmo acontecia com a mecânica, muito frágil. Devido à sua baixa durabilidade e confiabilidade, o Dauphine ganhou a alcunha do leite em pó, pois desmancha sem bater.
VW Kombi, o “pão Pullman”

A lendária Kombi, o pão de forma sobre rodas
A nossa querida Kombi, a qual foi produzida por 56 anos aqui no Brasil, ganhou um apelido bastante intuitivo: pão Pullman, ou pão de forma, devido ao formato de sua carroceria se parecer muito com o produto empacotado. Talvez os mais jovens não se lembrem, pois o apelido foi popular em seus primeiros anos de mercado.
Volkswagen 1600, vulgo “Zé do Caixão”

Volkswagen 1600, vulgo “Zé do Caixão”
No final dos anos 60, a Volkswagen decidiu inovar no design. Abandonou o estilo clássico de seus Tipo 1 (Kombi) e Sedan (Fusca) para fazer algo mais adequado à época, com linhas mais retas e melhor aproveitamento de espaço, mantendo a consagrada mecânica boxer a ar com aprimoramentos. Então nasceu o 1600.
A despeito da melhoria do espaço interno e amplo porta-malas em comparação ao Fusca, o design de linhas retas foi um fracasso de público, o qual logo enxergou a forma do paletó de madeira. Os filmes de José Mojica Marins, o mestre do terror brasileiro, se mostravam um sucesso, e logo o modelo foi apelidado de “Zé do Caixão”.
Com a chegada da Variant, Brasília e TL, o modelo foi descontinuado.
VW Gol “Batedeira”

A primeira versão do Gol, de 1980, ganhou o apelido de “batedeira”
A primeira versão do Gol, lançada em 1980 com o intuito de substituir o Fusca, ganhou posteriormente o apelido de “batedeira”, por utilizar a mecânica refrigerada a ar, como a dos demais modelos da VW, exceto o Passat.
Após o lançamento de versões com motores arrefecidos a água em 1983, de funcionamento mais suave e uniforme, os modelos boxer ganharam o apelido de batedeira, devido ao seu ruído. Restam poucos modelos com estes propulsores, posto que o carro mais vendido do Brasil por 27 anos só embalou em vendas em 1986, com o clássico propulsor AP.
Fiat Uno, a “botinha ortopédica”

Fiat Uno, a “botinha ortopédica”
A partir do final dos anos 70, o aproveitamento de espaço passou a ser uma obsessão, principalmente em carros compactos. Uma das soluções mais comuns em modelos de origem italiana e francesa consistia em posicionar os assentos na posição vertical, como se os ocupantes se sentassem em uma cadeira.
Devido à posição alta e ereta, contrariando o paradigma de assentos baixos e deitados, aliado ao formato da carroceria, o Fiat Uno ganhou o apelido de botinha ortopédica, uma infame imposição dos ortopedistas às crianças dos anos 80, com o intuito de melhorar a postura dos pequenos. Mais tarde, a solução médica se mostrou inadequada e foi abandonada. O nosso querido Uninho sobreviveu até o fim de 2013.
Monza “tubarão”

Segunda geração do Chevrolet Monza, mais conhecido como “tubarão”
Passada a moda das linhas retas e geométricas, marca registrada do design automotivo oitentista, as formas arredondadas passaram a ser a preferência na década seguinte. Em 1988, o Chevrolet Monza brasileiro (Opel Ascona na Europa) foi substituído pelo Vectra, o qual chegou em terras tupiniquins quatro anos depois.
Mesmo assim, o nosso Monza ganhou uma nova geração em 1991 e durou até o final de 1996, deixando muitas saudades e entusiastas do modelo até os dias de hoje. Esta renovação abandonou as formas quadradas na dianteira, dando lugar para um formato em cunha, lembrando o nariz de um tubarão, daí o apelido.
Ford Escort “sapão”

Escort Mk 3, mais conhecido como “sapão”, por causa dos dois ressaltos no capô da versão Cosworth.
A terceira geração do Escort, lançada no início dos anos 90, também seguiu as formas arredondadas outrora em voga. Sua versão mais apimentada, a Cosworth (foto acima), desenvolvida pela divisão de alta performance da marca na Inglaterra, foi equipado com apêndices aerodinâmicos para obter máxima performance.
O mais famoso foram os dois ressaltos no capô, os quais lembram olhos de sapo. Daí a origem do apelido, originado entre os fãs de automobilismo e propagados pelo grande público.
Leia também: Publicidade – Lançamento de Ford Escort XR3 (1993)
História das montadoras: Ford [links]
Carros que marcaram época: Ford Escort XR3 (Brasil)
VW Fusca “Itamar”

Fusca “Itamar”, fabricado de 1993 a 1996
Com a ascensão e grande sucesso de vendas do Gol, a Volkswagen decidiu descontinuar o lendário Fusca em 1986. Em 1992, o ex-presidente Fernando Collor sofreu impeachment devido a escândalos de corrupção e seu vice, Itamar Franco, assumiu.
Interessado no fomento a veículos populares mais acessíveis, fez um pedido à Volkswagen: relançar o Fusca como opção mais barata, para que mais brasileiros pudessem ter um carro zero-quilômetro. E foi atendido. No final de 1993, o Besouro foi relançado com motor 1600, pára-choques da cor da carroceira e acabamento melhorado. Esta linha ganhou o apelido de seu patrocinador, “Itamar” Franco.
Ao contrário do esperado pelo ex-presidente mineiro, o Fusca “Itamar” não era muito mais barato que o Gol 1000, e não obteve vendas expressivas, saindo de linha em 1996 para sempre.
VW Gol “bola” ou “bolinha”

VW Gol “bola” ou “bolinha”
A segunda geração do Gol, lançada em 1994 com formas arredondadas, ganhou o apelido carinhoso de “bola” ou “bolinha”, em oposição ao Gol “quadrado”. Apesar da marca insistir no uso de geração II, o apelido popular prevalece.
Para evitar novas alcunhas, ao lançar a próxima geração, em 2000, a marca da Via Anchieta fez forte propaganda da Geração III, IV (2005), V (2008) e VI (2012), com sucesso.
VW Golf IV, ou “sapão”

VW Golf IV, ou “sapão”
Apesar de receber o mesmo apelido do rival Ford Escort, o Golf de quarta geração recebeu o apelido homônimo de “sapão” por motivos mais óbvios. Ao passo que a alcunha de seu concorrente veio de uma versão esportiva e foi dada por entusiastas, o Golf recebeu o seu pelo formato dos próprios faróis ovalados, os quais lembram os olhos de um sapo.

Reestilização do Golf IV, de 2006, popularmente conhecido como “quatro e meio”.
O facelift de 2006, apelidado de “4,5 (quatro e meio)”, por ser uma reestilização do IV, trouxe um conjunto mais anguloso, contrapondo o ovalado do “sapão”. Também ganhou a alcunha pela expectativa frustrada do público com o lançamento da quinta geração alemã, muito mais avançada. O “quatro e meio” foi uma atualização “meia-boca” para os apaixonados pelo modelo.
Toyota Corolla “Brad Pitt”

Toyota Corolla “Brad Pitt”, de 2002
A nona geração do Toyota Corolla, lançada em 2002 e vendida até 2008, ganhou o apelido de “Brad Pitt” pelo simples fato de que o garoto-propaganda de seu lançamento foi o ator de Hollywood o qual emprestou o nome para a alcunha popular. O modelo foi um sucesso de vendas em todo o mundo e é comercializado em muitos países da África e Ásia até os dias de hoje, sob diversas marcas e modelos.
Assista a propaganda que concedeu o apelido ao Corolla IX de “Brad Pitt” neste link: Propaganda de lançamento do Corolla 2003 – Brad Pitt – New Sensation
Nota: o Corolla “Brad Pitt” foi lançado em 2002 como modelo 2003.
UMA PEQUENA AMOSTRA DA CRIATIVIDADE BRAZUCA
Estes modelos são velhos conhecidos dos brasileiros, mas seus apelidos nem sempre. Existem muitos outros modelos que ganharam alcunhas populares, muitas vezes depreciativas, as quais não se mostram universalmente aceitas. Conclui-se que a criatividade do brasileiro jamais será limitada, e novos apelidos virão. Lembra de mais algum?
Capotalux
vovorola
lixonix
monstrana
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Aero-Wyllis 1963 – Unha de Puta – por causa das estranhas coberturas de faróis.
Aero Wyllis a partir de 1965 – Jipe de gravata – por causa do motor do jipe.
Honda Fit old (até 2007) – zoiúdo, gafanhoto – por causa dos faroletes esquisitos.
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D10 “Maldetinha”
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