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O que são as bitolas de um carro?

bitolas do carro largura entre as rodas

As cotas em vermelho representam as bitolas do carro. Créditos da foto: sugarriverracing

A bitola de um automóvel exerce uma considerável influência em seu comportamento, assim como a distância entre eixos, explicada no post anterior (leia aqui).

Toda a performance depende de suas características técnicas, das quais precisamos para compreender o porquê de um modelo popular rodar com grande economia, ao mesmo tempo em que sofre com buracos; um utilitário esportivo o qual entrega ótimo desempenho no fora-de-estrada, mas fica mais sujeito a capotamentos; a razão pela qual um monoposto de Fórmula 1 impõe supremacia aos concorrentes na maior parte do tempo, mas perde de um carro de equipe pequena em pistas lentas.

O post de hoje explica o que são as bitolas de um automóvel, um termo cuja origem provém dos trens e possui o mesmo significado.

A bitola nada mais é que a distância entre a roda esquerda e direita do mesmo eixo, como mostram as cotas em vermelho na foto de capa deste artigo. Simples assim.

Nos trens, a bitola se mostrava muito importante devido à largura dos trilhos, as quais variavam conforme a região na qual eles trafegavam. Um conjunto motriz locomotiva-vagão estaria restrito a rodar apenas nas ferrovias com bitolas compatíveis, ou deveria trocá-las para seguir viagem, caso possível. Para os automóveis, a complexidade aumenta bastante.

A partir desta definição começa todo o trabalho de dinâmica do veículo, o qual se mostra bastante complexo ao incluir outras dimensões, como peso, altura, comprimento, largura, distância entre eixos, distribuição de massa, dentre dezenas de variáveis.

Para explicar o mais importante, voltamos para o conceito da mesa com quatro pés utilizado para explicar a distância entre eixos. Nada mais natural, pois as bitolas consistem na distância perpendicular à primeira.

Para uma mesa retangular permanecer estável, deve guardar determinadas proporções, como não ser muito estreita e comprida ou larga e curta. Caso contrário, ela tombará com facilidade, como se pode facilmente compreender. No mundo  ideal, a peça mais estável seria uma quadrada e baixa. Para um veículo, vale exatamente a mesma lógica.

As bitolas devem ter dimensões coerentes com a distância entre eixos para prover boa estabilidade, equilíbrio dinâmico, espaço interno e para bagagens e boa distribuição de peso. Além disso, um design bonito depende de proporções harmoniosas entre comprimento, largura, altura e posição das caixas de roda, unindo o belo ao funcional.

Naturalmente, bitolas mais largas melhoram a estabilidade. A distância entre eixos quase sempre será maior que as bitolas, o que significa que alargá-las trará suas proporções mais próximas da forma de “quadrado” (bitolas e entre eixos com as mesmas medidas), ideal para performance.

Tal conceito se pratica há tanto tempo que já nos anos 60, início da indústria automobilística nacional, o alargamento de bitolas do VW Fusca se mostravam uma importante alteração para ganho de estabilidade e handling, como mostra a foto abaixo, retirada desta matéria do site Opasgarage:

alargamento de bitola do fusca

Em um veículo com sistema de direção tão rudimentar quanto o VW Fusca, sem qualquer tipo de assistência, com pneus finos e bitola traseira estreita, a diferença era enorme.

Deste conceito veio a prática de colocar rodas e pneus mais largos para melhorar a estabilidade, erroneamente atribuída à maior quantidade de borracha em contato com o solo ao invés da verdadeira causa: o ligeiro alargamento das bitolas dianteira e traseira, proporcionado pelos conjuntos de medidas maiores.

Outro aspecto muito relevante consiste na largura das bitolas dianteira e traseira, as quais raramente são de mesma medida. Em veículos de proposta esportiva, voltados para a alta performance, as bitolas traseiras costumam ser mais largas para controlar o sobresterçamento, melhorando o controle  direcional do veículo. A largura dos pneus traseiros é maior que os dianteiros pelo motivo descrito no quadro acima.

Os carros de Fórmula 1 e demais monopostos de competição representam o grau mais extremo da busca pela estabilidade: entre eixos longo, bitolas largas e baixíssimo centro de gravidade.

Tente empurrar uma mesa de 4,6 metros de comprimento por dois de largura e 80 centímetros de altura, com um peso de 40% do total amarrado por baixo do tampo , quase no meio, com os pés traseiros um pouco mais largos. Veja como ela fica “pregada no chão” e você entenderá o trabalho surpreendente dos engenheiros da Fórmula 1. Desconsidere os efeitos aerodinâmicos e se concentre na distribuição de peso e dimensões.

A foto abaixo, do icônico esportivo Mazda MX-5 Miata, mostra a importância das bitolas no comportamento de um veículo. Lembre-se que este simpático esportivo é vendido há 20 anos com pouquíssimas alterações e ainda é considerado um exemplo de dirigibilidade, mesmo com parcos recursos eletrônicos de tração e estabilidade.

bitolas traseiras mais largas que dianteiras mazda mx-5 miata

Para utilitários off-road, vale a mesma lógica. Bitolas traseiras maiores que as dianteiras, em conjunto com pneus mais largos, favorecem a aderência e tração em terrenos não-pavimentados. Conjuntos roda-pneu que ficam para fora da caixa de roda fazem parte do estilo.

bitola traseira maior que dianteira mais estabilidade tração aderência

Mas como tudo na vida tem prós e contras, as bitolas mais largas também têm seus percalços. A principal consiste no menor ângulo de esterçamento, o que dificulta as manobras.

Por este motivo, veículos de carga como vans, ônibus e caminhões possuem bitolas dianteiras mais largas que as traseiras, pois circulam em centros urbanos com espaços apertados para manobras de carga, descarga, embarque e desembarque de passageiros.

Estes veículos possuem bitolas largas para compensar o alto centro de gravidade, mas a dianteira deve ser maior que a traseira para facilitar a movimentação em espaços apertados.

Bitolas mais largas favorecem o espaço interno, pois as caixas de roda ficam mais próximas das extremidades da carroceria. Tal vantagem é anulada ao instalar um conjunto de suspensão de alta performance volumoso e pesado, caso o veículo necessite de grande estabilidade e/ou resistência a pisos mal conservados.

Outro caso curioso consiste nos modelos subcompactos de proposta urbana, como o Volkswagen up!, Fiat 500 e smart. Estes modelos são tão compactos e suas rodas se situam tão próximas das extremidades que a proporção entre as bitolas e a distância entre eixos é quase de 1 para 1 (“quadrado”), um conceito utilizado desde os anos 50 em clássicos como os Mini Morris e Mini Cooper.

Sua proposta urbana faz com que a bitola dianteira seja mais larga que a traseira,. para efeitos de manobrabilidade em pequenos espaços, assim como boa agilidade no trânsito, mesmo com motores pouco potentes em suas versões básicas. As variantes esportivas apresentam ótimo comportamento dinâmico devido às medidas favoráveis à estabilidade e favorecidas pela boa distribuição do baixo peso.

Ao guiar os subcompactos urbanos supracitados, não há como negar a importância da fórmula de bitolas largas e distância entre eixos com baixo centro de gravidade, receita consagrada na Europa e aplicada com maestria pelas montadoras de lá. Prazer ao dirigir mesmo nas versões de entrada e enorme facilidade de manobra.

Para efeito de compreensão, dirija um sedã médio ou grande de marca alemã, japonesa, coreana ou americana. Veja a versatilidade em vagas apertadas e agilidade no tráfego pesado das cidades dessas “banheiras” e verá o quanto são desajeitados.

A revanche acontece nas rodovias, na qual as “barcas” entregam rodar silencioso, macio e ficam firmes no chão em qualquer velocidade, ao passo que os minicarros saem da rota com qualquer vento lateral, rodam em rotações altas e o zumbido do vento no para-brisa incomoda.

Em última análise, ambos os tipos de carrocerias apresentam vantagens e desvantagens e a comparação serve apenas para explicitar a enorme importância das dimensões, formatos e massa dos veículos, com impactos gigantescos em todos os aspectos do projeto de um veículo por si só.

Lembrando que as características de projeto são o ponto de partida que orienta a construção de todos os demais subsistemas como powertrain (conjunto motor e câmbio), freios, suspensão, direção, elétrica, materiais de construção e tudo mais.

Entender a ficha técnica de um automóvel se mostra fundamental para compreender o porquê alguns carros são bons e outros não, a fim de fazer boas escolhas.

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