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Dia Mundial sem Carro, do debate sobre mobilidade ao ódio puro e simples ao automóvel

Criado em 1997 na França por ativistas da causa ambiental, o “Dia Mundial sem Carro” teve como objetivo discutir propostas e melhorias para a mobilidade urbana e levantar alternativas e propostas para esta importante questão, de acordo com os avanços tecnológicos. Em pouco tempo, a data foi adotada por diversas cidades ao redor do mundo.

Uma pauta importante, a priori, de interesse geral, acabou se tornando uma perseguição cruel contra uma das invenções mais importantes da história recente: o automóvel. Por dedução, iniciou-se uma caçada àqueles que apreciam as máquinas belas e potentes e consideram o ato de dirigir algo prazeroso, também conhecidos como entusiastas, gearheads ou petrolheads.

Gearheads e ambientalistas convergem em muitos pontos no que concerne à mobilidade urbana, mas o radicalismo anti-carro dos últimos, com frases do tipo “carro é o novo cigarro”. Os parágrafos a seguir abordarão os pontos em comum e os pontos de atrito entre os autoentusiastas e car haters.

PERFIL DOS ATIVISTAS ANTI-CARRO, OU CAR HATERS

A infeliz declaração do ex-prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, o qual afirmou se no seu governo “o paulistano iria pensar duas vezes antes de tirar o carro da garagem”, representa o pensamento dos apoiadores do “Dia Mundial sem Carro” e o ódio aos que curtem carros e/ou ganham seu pão através deles.

Vale lembrar que a Prefeitura da Cidade de São Paulo coloca à disposição mais de cem carros para transporte de autoridades, ao custo de mais de um milhão de reais por ano aos pagadores de impostos, e o referido prefeito rodava, no ano de 2014, a bordo de um Chrysler 300C alugado, conforme relato desta locadora de veículos de luxo. Outros dois modelos à disposição do ex-prefeito eram um Chevrolet Omega 3.6 V6 e um Toyota Corolla, ambos blindados.

A grande ironia consiste no fato de que se trata de um modelo norte-americano, com motor 5.7 V8, mais de cinco metros de comprimento e cuja média de consumo de combustível gira em torno de 5 km/l. O marketing da Chrysler usou como slogan “Puro luxo” para o full-size de origem ianque.

Outro meio de transporte bastante popular entre as autoridades paulistanas é o helicóptero, também muito poluente, ao custo de cerca de R$ 2,5 milhões anuais para os paulistanos. A incoerência entre discurso e prática prejudica a credibilidade das ações.

Entre os seguidores do ex-prefeito, se encontram ambientalistas e cicloativistas, os quais execram o carro como meio de transporte. Curiosamente, aqueles de maior poder aquisitivo não costumam abrir mão do seu próprio exemplar ou de alternativas como aplicativos de transporte ou táxi. Defendem a construção de ciclovias e o uso de transporte público como alternativas de mobilidade urbana, mas eles próprios não os usam.

Entre os gearheads, este perfil é chamado de car hater. Sua principal característica passa longe da escolha do meio de transporte e reside basicamente no discurso anti-carro, considerando-os um inimigo a ser eliminado.

Muitas pessoas não possuem nem desejam possuir um automóvel, ao mesmo tempo no qual reconhecem sua importância e o valorizam como alternativa de transporte urbano, de cargas ou em viagens. Este perfil não é car hater, pois aprecia o conforto e conveniência dos carros e os enxerga como aliados na hora de atender suas necessidades.

A crítica central deste artigo está neste destaque:

Não defendo que os car haters deixem de utilizar seus automóveis e utilizem apenas bicicletas e transporte público, mas apenas que respeitem a liberdade da população de se locomover como preferir, incluindo os próprios. O ódio gratuito aos carros depõe contra o “Dia Mundial sem Carro” e prejudica a busca de soluções para a mobilidade urbana.

O QUE PENSAM OS GEARHEADS

Apaixonados por carros também utilizam ônibus, metrô e trens e defendem sua melhoria contínua. Alguns também utilizam ciclovias, mesmo defendendo outras soluções de mobilidade mais eficientes, priorizando o transporte público em detrimento do individual, como as bicicletas.

Outra proposta gearhead consiste na transformação das ciclovias em motofaixas, a fim de reduzir os acidentes envolvendo motos e facilitando o tráfego dos veículos motorizados de duas rodas, mais rápidos que as bikes e fundamentais para entregas. Vale lembrar que a maioria dos apaixonados por carro também são por motos, e sabem que o transporte feito por meio delas custa menos que passagens de ônibus, metrô e trem, consistindo em excelente alternativa ao carro e bicicleta.

Os apaixonados por carro detestam congestionamentos, por isso defendem o uso de transporte público, táxi, motos, bicicletas e aplicativos de transporte. Para eles, dirigir é um momento de prazer e sua relação com o veículo traz fortes vínculos emocionais.

Defendem que aqueles que não sentem o mesmo prazer procurem meios mais eficientes e convenientes para se deslocar, inclusive chamar um gearhead por um aplicativo de transporte. Caso ainda prefira dirigir seu próprio carro, terão prazer em ajudar a tirar dúvidas.

Em geral, car lovers adoram ronco de motor e cheiro de gasolina. Mas somente em situações que proporcionem prazer ao dirigir. Aqui reside um ponto de convergência entre eles e os apoiadores do “Dia Mundial sem Carro”: o ar das grandes metrópoles se encontra muito poluído e algo precisa ser feito para melhorar o quadro.

Apesar da falta de apelo dos modelos híbridos e elétricos, muitos entusiastas os reconhecem como solução para esta questão, com os benefícios da redução das despesas com combustível e impostos. Para este grupo, a modernização da mobilidade urbana deve passar pelo aprimoramento tecnológico e inovação, não por canetadas de políticos e burocratas criando restrições e novos tributos.

Por outro lado, não aceitam qualquer tipo de proibição e perseguição aos modelos a combustão tão necessários para que prestadores de serviço trabalhem entregando suas mercadorias e possam atender clientes. Muitos desses profissionais moram em bairros afastados ou em outros municípios, se mostrando totalmente dependentes dos carros, motos, vans, ônibus e caminhões para ganhar o seu pão. A guerra aos carros pesa mais no bolso dos mais pobres.

Eventos relacionados a automóveis de todos os tipos recebem pouco apoio do poder público, ao contrário de eventos de outras temáticas como moda, artes, festas populares, religiosos e protestos de todos os tipos. Gearheads apreciam esta grande miscelânea de eventos conforme suas preferências pessoais, criticando apenas os empecilhos impostos pelo poder público quando se trata de eventos automotivos.

À exceção de algumas prefeituras como as de Águas de Lindoia, Araxá e Campos do Jordão, as quais realizam exposições de carros regularmente, elas não costumam receber apoio de prefeitos, secretários e autoridades de modo geral. A valorização de mostras de carros e motos traria benefícios a todos os participantes: prefeituras, expositores e público.

O quadro abaixo sintetiza o pensamento dos apaixonados por carros:

Desejamos melhorias nos transportes, tecnologias avançadas e vias bem planejadas, conservadas e sem congestionamentos, o que aumenta nosso prazer ao dirigir nossos carros e motos. Somos favoráveis a toda medida para melhorar a circulação de passageiros e carga.

Defendemos a liberdade de todos os cidadãos escolherem o meio de transporte que preferirem e/ou seja mais conveniente.

Criticamos apenas a perseguição aos carros, na qual alguns ativistas radicais querem tirar de nós o prazer de dirigir e possuir nossos objetos de paixão, nos tratando como se fôssemos criminosos.

COMO PENSAM OS QUE TRABALHAM COM CARROS

A cadeia de produção, comércio e reparação de veículos automotores emprega cerca de 1,5 milhão de pessoas, os quais apoiam a melhoria nos transportes e concordam com muitas das pautas propostas pelos ambientalistas.

Em oposição, também criticam a postura de combate ao automóvel, pois conhecem os benefícios que os veículos trazem a todas as atividades produtivas. Dedicam a vida à fabricação, comércio e reparação e destes depende sua sobrevivência. Ficam ultrajados ao ouvir certos discursos demonizando o fruto de seu trabalho e nada fazem além de continuar trabalhando.

O colunista Bob Sharp, do site Autoentusistas, fez um artigo resumindo o que pensam os trabalhadores do setor automobilístico sobre o “Dia Mundial sem Carro”.

A “GUERRA AOS CARROS”

Desde o início do século XX, o automóvel tem atuado como peça fundamental no progresso da humanidade. Sem ele, nenhum advento moderno ou avanço social teria acontecido. Os veículos de tração mecânica reduziram os tempos de transporte e concederam liberdade de transporte nunca antes vista.

Por outro lado, as emissões de poluentes e resíduos descartados fizeram os ambientalistas os transformarem em vilões. Para os “guerreiros da justiça social”, criou-se a narrativa de que o automóvel era um “símbolo de status e desigualdade social” e deve ser combatido como meio de “fazer uma sociedade livre de diferenças entre classes”.

Os gearhads respondem a estas acusações (risíveis) com uma piada comum no meio: A indústria automotiva francesa fazia carros inovadores até o final dos anos 1990, mas depois que criou o “Dia Mundial sem Carro”, a França recebeu a pecha de disputar a pior reputação entre as montadoras do mundo com as chinesas. Comparações entre Peugeot e Chery e/ou Citroën e JAC geram risadas constantes, apesar do exagero.

Assim, conclui-se que o “Dia Mundial sem Carro” deixou de ter qualquer relevância de discussão de mobilidade urbana e/ou ambiental e passou a ser pauta de politicagem mesquinha. Ao negar o importante papel dos veículos automotores para a humanidade, o “Dia Mundial sem Carro” algo tão sem sentido quanto o “Dia Mundial sem Computador/Smartphone”, o “Dia Mundial sem Água e Esgoto” ou o “Dia Mundial sem Hospitais”.

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