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Subaru: obsessão pela simetria

A grande massa dos motoristas rejeita ou desconhece os modelos da Subaru. Por outro lado, seus produtos possuem um fã-clube fervoroso e são admirados pela maioria dos GearHeads. As baixas vendas e as dificuldades de revenda e manutenção afastam o consumidor comum deles.

A marca segue a estratégia de permanecer como “carro de nicho” e despreza a luta pela liderança dos rankings de vendas, como suas conterrâneas Honda e Toyota, e permanece focada em agradar a sua “tribo” composta de poucos clientes, mas fanáticos e apaixonados pela marca.

Os líderes de emplacamentos utilizam a mesma receita mecânica, de motor transversal, tração dianteira e comportamento subesterçante. Segundo os fãs da marca nipônica menos vendida e mais amada, os outros são todos iguais. Por sua vez, a Subaru possui uma obsessão pela simetria e perfeita distribuição de peso e tração, buscando a dirigibilidade mais neutra possível.

A figura abaixo detalha mais sobre esta exótica e sofisticada construção, encontrada apenas em modelos mais premium como os Porsche.

receita subaru obsessão pela simetria

Os motoristas com conhecimentos mais aprofundados de mecânica automotiva percebem rapidamente a diferença entre os Subaru e os carros convencionais, as quais serão descritas com maiores detalhes abaixo.

TRAÇÃO INTEGRAL

receita subaru obsessão pela simetria tração integral awd

Visando à redução de peso e simplicidade mecânica, a esmagadora dos veículos ofertados em todo o mundo possuem motor transversal e tração dianteira, à exceção dos modelos premium, nos quais a tração traseira predomina.

Por sua vez, a Subaru equipa a maior parte dos seus modelos com tração integral desde meados dos anos 90, buscando melhor distribuição de peso e equilíbrio dinâmico em curvas. Naquela época, as tecnologias de assistência eletrônica ainda engatinhavam como método de controle do comportamento dos veículos em curvas, arrancadas, frenagens e no fora-de-estrada.

Assim, a busca pela melhor dirigibilidade tornava obrigatória a busca pela melhor distribuição de peso e tração entre as rodas. Então nasceu o sistema Symmetrical AWD, marca registrada da Subaru, a qual angariou milhares de fãs e admiradores.

A tração integral não significa o mesmo que tração nas quatro rodas. Confira a diferença neste artigo.

Como o próprio nome já diz, ele se diferencia dos modelos convencionais pela simetria mecânica entre motor e transmissão. A figura abaixo, elaborada pelo site SubaruWRX.org, explica com maiores detalhes as diferenças entre os Subaru e os concorrentes:

subaru_awd_4wd

  • Os modelos convencionais carecem de simetria e equilíbrio;
  • O comprimento desigual das juntas homocinéticas e eixo-cardã, responsáveis pela transmissão de potência e torque para as rodas, podem fazer o veículo puxar para um dos lados ao acelerar;
  • Distribuição de peso desigual.

Observe a simetria perfeita entre os eixos de tração e a distribuição de peso na figura acima e a que ilustra este tópico, a qual retrata o sistema Symmetrical AWD da Subaru. O resultado final consiste em equilíbrio dinâmico aprimorado e dirigibilidade superior aos concorrentes.

MOTOR BOXER

receita subaru obsessão pela simetria motor boxer

A simetria tão buscada pela Subaru também passa pelo projeto do powertrain, o qual também respeita sua marca registrada. No lugar de um motor transversal com pistões posicionados em pé e câmbio posicionado de um dos lados do veículo, o motor boxer da montadora japonesa entrega a mesma simetria de um motor longitudinal, com a caixa centralizada no package. Esta solução elimina a concentração de peso em um dos lados do automóvel devido ao seu posicionamento.

O motor boxer, com cilindros contrapostos e posicionados na horizontal, também contribui para o rebaixamento do centro de gravidade, resultando em melhor estabilidade e comportamento dinâmico do veículo. Esta configuração é usada pelos ilustríssimos modelos VW Fusca e Porsche 911 com o mesmo intuito, apesar da montagem central ou traseira.

A figura abaixo detalha como esta solução mecânica rebaixa o centro de gravidade:

receita subaru obsessão pela simetria motor boxer

Observe que os pistões se encontram deitados, em oposição um ao outro. Se movimentam na horizontal.  Nos modelos convencionais, eles se posicionam em pé e fazem o movimento de subir e descer.

Já nos anos 90, a Subaru oferecia motores sobrealimentados, de potência específica acima dos 100 cv/l em sua linha WRX do Impreza. Juntamente com a Audi, Volvo e Volkswagen, esteve na vanguarda da aplicação do turbocompressor em modelos de uso diário.

A linha WRX e STi se encontram como objetos de desejo de muitos car lovers há várias gerações do modelo. Todos os integrantes da foto abaixo fazem a cabeça de muitos entusiastas:

subaru obsessão pela simetria gerações do WRX STi

BAIXO CENTRO DE GRAVIDADE

Em complemento à simetria do conjunto, o motor de cilindros opostos concentra a massa do powertrain na parte inferior do veículo devido à sua construção mais plana, em oposição ao formato vertical dos propulsores comuns.

Deve-se também observar sua posição recuada em relação ao eixo dianteiro, concentrando seu peso próximo ao centro do package. 

O resultado tem tanto êxito que os SUV´s da Subaru, o Forester, Outback e Tribeca possuem dirigibilidade superior à quase totalidade de seus pares há muitos anos, e seu “acerto puro de chassis” recebe elogios desde os primeiros modelos lançados nos anos 90, com baixos índices de capotamentos e comportamento mais equilibrado em relação a rivais mais caros e recheados de “babás eletrônicas”.

ACERTO PURO DE CHASSIS

Quando os engenheiros de dinâmica veicular fazem o setup inicial do chassis de um automóvel, nenhuma assistência eletrônica é aplicada até chegar ao melhor equilíbrio possível em testes de campo e de laboratório. Daí o nome “acerto puro”.

Uma vez obtido, as assistências eletrônicas de tração, frenagem, estabilidade e dinâmica começam a ser ajustadas com o objetivo de aprimorar a segurança do veículo e eliminar eventuais deficiências em seu comportamento dinâmico. Aqui se separam os modelos bem acertados dos ruins.

A melhor forma de distinguir modelos bem acertados dos dinamicamente problemáticos consiste na frequência de atuação das assistências eletrônicas: aqueles com bom setup de chassis as possuem por exigências legais e do mercado, mas raramente entram em ação mesmo quando levados ao limite.

Por outro lado, um modelo de comportamento dinâmico pobre ou marginal obriga seus controles de tração, frenagem e estabilidade a atuarem em cada curva, arrancada, frenagem ou manobra mais rápida. Mesmo em uma curva de 90 graus em piso plano, ocorre o corte do motor e redistribuição da tração para evitar perda de controle, derrapagens e capotamento.

Caso não houvesse a eletrônica, estes se tornariam veículos ruins de guiar ou até mesmo perigosos. No caso de SUV´s, essa característica se acentua devido ao teto mais alto.

Nesta hora o Symmetrical AWD da Subaru o diferencia dos rivais: a marca afirma que mesmo sem nenhuma assistência de direção, o veículo oferece dirigibilidade exemplar, enquanto os concorrentes necessitam das ajudas eletrônicas e, mesmo assim, não entregam o mesmo prazer ao guiar.

COMPORTAMENTO NEUTRO

Ao passo que automóveis com tração nas rodas da frente tendem a ser subesterçantes e os com propulsão nas rodas traseiras amealham seguidores devido ao sobresterço, os Subaru de tração integral parecem andar sobre trilhos, pois sua força é distribuída eletronicamente conforme o deslocamento de massas do veículo e condições de tração do piso.

Este sistema de tração entrega o melhor dos dois mundos: o comportamento neutro proporciona excelente desempenho em pista, equiparando motoristas comuns a pilotos experientes e trazem segurança ao rodar em ruas e estradas, especialmente em pisos molhados, mal conservados e não pavimentados.

Os dois vídeos abaixo mostram como este modelo se comporta na prática, assim como seu ronco grave empolga:

Os detratores do modelo afirmam que o Subaru “nivela por baixo” os motoristas, pois aqueles menos habilidosos conseguem dirigi-lo bem sem desenvolver a mesma perícia dos mais experimentados, assim como criticam a dirigibilidade “sem sal” de modelos com tração integral em comparação aos modelos de tração traseira, os quais “rabeiam” a cada curva, entregam muito mais diversão e exigem competência do “piloto”.

Apesar de os críticos terem razão no que concerne à dirigibilidade, engenheiros que projetam um modelo extremamente seguro e que permite que condutores comuns dirijam como profissionais, com parco treinamento, entregam um resultado digno de aplausos.

DURABILIDADE

Toda esse cuidado com a simetria também se reflete na grande durabilidade de seus modelos. As forças de transmissão de tração, potência e torque, as quais ocorrem de modo simétrico, com componentes de mesmo tamanho e formato, contribuem para aumentar a vida útil dos modelos. Encontra-se com facilidade exemplares de mais de vinte anos em perfeito estado de conservação, com quilometragens bastante elevadas.

Naturalmente, tal façanha depende de proprietários zelosos e que fazem as manutenções no prazo certo. As exceções consistem nos “playboys,” os quais compram os modelos da Subaru para prepará-los para competições em pista e conduzi-los de forma agressiva nas ruas e os escolhem devido à fama de duráveis e grande disponibilidade de componentes de preparação, importados dos EUA e Japão. Devido ao modo de condução, os Impreza WRX mais antigos raramente se encontram em bom estado.

NEM TUDO SÃO FLORES

Mesmo com tantas qualidades mecânicas e dinâmicas, por que os carros da Subaru vendem tão pouco?

O custo/benefício não ajuda. Com acabamento de qualidade semelhante a de modelos de massa como Honda Civic e Toyota Corolla, os modelos da Subaru custam tanto quanto outros de marcas de luxo como Mercedes-Benz e BMW. A lista de equipamentos também se nivela aos seus rivais japoneses best-sellers, mas custando o preço de um alemão chique.

Para o consumidor comum, a compra de um modelo com aparência, equipamentos e conteúdo de marcas como Honda e Toyota a preço de Mercedes-Benz e Audi não se mostra um negócio convidativo, posto que a dirigibilidade superior não é percebida por eles, ao passo que a dificuldade de manutenção e revenda sim.

SUBARU É UMA “TRIBO”

Em suma, Subaru é uma “tribo” e a marca foca seus esforços apenas em seus fãs e naquele pequeno grupo de admiradores com potencial de adquirir um em ocasião futura.

Os apaixonados por Subaru conhecem os diferenciais, prós e contras dos modelos; não precisam de trabalho de marketing por parte da marca, a qual pretende ficar pequena e restrita ao seu público fiel.

Devido ao alto preço de aquisição e manutenção dos veículos da marca, a “tribo” Subaru é menos numerosa que a dos “apezeiros”, “opaleiros”, “hondeiros”, mareeiros”, “jipeiros” e “fusqueiros”, dos quais recebe respeito e admiração de grande parte.

Mesmo assim, a marca recebe grande admiração e respeito de todos os petrolheads os quais sonham em um veículo refinado, bem projetado e prazeroso de dirigir. E para melhorar, ainda desfruta de larga oferta de equipamentos de preparação e customização, visto que a “tribo” é muito numerosa no exterior e tem grande potencial para crescer por aqui.

Então fica a provocação final: a receita de obsessão por simetria da Subaru foi tão bem-sucedida que, com uma queda nos preços dos carros e peças, converteria boa parte dos “apezeiros”, “opaleiros” e “hondeiros” para a “tribo” Subaru.

4 Comments »

  1. Dirigibilidade é uma coisa que poucos carros conseguem. Nada paga o prazer de dirigir e o Subaru é um dos campeões nesta questão.

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