Há diferenças de qualidade entre os Honda nacionais e importados, novos e antigos?
A abertura das importações de veículos no início do anos 1990 trouxe dezenas de marcas, antes desconhecidas da maioria dos brasileiros, para ampliar o leque de opções além das “quatro grandes” e hoje fazem parte do dia-a-dia do motorista brasileiro. Sem dúvida, a Honda desponta como uma das mais admiradas por aqueles que a conheceram quando ainda não tinha inaugurado sua primeira fábrica no Brasil, na cidade de Sumaré, interior de São Paulo.
Em comparação com os concorrentes tradicionais, os modelos oferecidos pela outrora “estreante” não se mostravam muito atraentes nem competitivos. Em 1993, o Civic 1.6 custava tanto quanto um GM Vectra CD ou um VW Passat B4 alemão. Um Accord saía da loja pelo mesmo valor de uma BMW 325i. Posto isso, as baixas vendas assolaram a marca japonesa, somada à má fama da qual os fabricantes nipônicos padeciam naqueles tempos, similar ao que ocorre hoje com marcas chinesas e coreanas.

Civic 2012 (IX) versus Civic 1992 (V). Os hondeiros mais fanáticos criticam a queda de qualidade, especialmente no acabamento
Para aqueles com olhar mais apurado, um ponto chamava muito a atenção nos automóveis japoneses: a grande resistência mecânica e ótima qualidade dos materiais empregados no acabamento e excelente execução da montagem. Logo de início, estas características conquistaram um fã-clube pequeno, mas fervoroso, da marca.
A princípio, era composto em grande parte por descendentes de japoneses os quais haviam trabalhado como dekassegui no Japão e alguns empresários e executivos que queriam sair do lugar comum dos carros das “quatro grandes”. Chamava a atenção os fatos de conhecerem profundamente seus veículos e de ressaltarem sua qualidade e durabilidade.
Apesar de parecerem malucos – como os fanáticos por Hyundai parecem agora – foram responsáveis em grande parte pela construção da reputação da qual a marca desfruta atualmente.
Com a popularização da marca no Brasil e o aumento no volume de vendas, a Honda flexibilizou sua política de qualidade e acabou por perder uma pequena parcela deste público “fundador”, e a maioria critica a redução na qualidade dos materiais dos modelos mais novos, como Fit, Civic e HR-V brasileiros, especialmente quando comparados com as versões americana e japonesa.
O mesmo fã-clube que fornecia marketing gratuito para a Honda durante muitos anos, está decepcionado e afirma que só gosta dos modelos importados da marca, como o Accord e CR-V e que “só compra Fit, HR-V e Civic se forem os importados dos Estados Unidos”. Apesar do radicalismo, será que os hondeiros não querem passar uma mensagem para a marca que ajudaram a construir?
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
A primeira vez na qual andei em um automóvel Honda foi no final de 1994, em um Civic EX azul da mãe de um colega de escola, idêntico ao da foto em destaque. Reconheço que a primeira impressão não foi das melhores.
O visual acanhado – a referência de design da época era o Tempra, bem mais exuberante e chamativo – do motor fraco e barulhento, interior apertado, do assoalho que raspava em todas as lombadas e valetas. Não oferecia conforto melhor que os já defasados VW Santana e Chevrolet Monza e levava um banho dos novíssimos Fiat Tempra, Chevrolet Vectra A e, principalmente, Chevrolet Omega.
Para ser honesto, eu não dava nada para os carros da Honda naquela época. Passei a reconhecer seu valor apenas a partir do momento no qual ganharam idade e mostraram sua resistência mecânica superior em relação à concorrência. Alguns anos se passaram até que eu pudesse compreender os argumentos de seu pequeno e então crescente fã-clube.
“NUTELLIZAÇÃO” DOS SUV´S
Devido ao foco no mercado americano, a Honda sempre ofereceu extensa linha de utilitários esportivos, sempre com boa capacidade de fora-de-estrada, boa qualidade de acabamento, bem equipados e com resistência mecânica acima da média. Esta receita granjeou ótima reputação para a marca no segmento.
Porém, os executivos sucumbiram às vicissitudes do mercado brasileiro e abandonaram esta receita, em favor de outra muito em voga por aqui: a do “SUV Nutella”. Seu nome técnico é crossover, um automóvel de teto elevado e posição de dirigir de utilitário com tração dianteira e sem capacidade de enfrentar terrenos acidentados, cuja única vantagem off-road em relação a um hatch ou sedã consiste em 3 ou 4 centímetros extras na altura livre do solo.
Como a esmagadora maioria dos compradores de utilitários esportivos não os utilizam em terrenos não pavimentados, a Honda seguiu a tendência do mercado de lançar crossovers ao invés de SUV´s, e assim fez ao encarecer o CR-V, feito na plataforma do Civic, e colocar os HR-V e WR-V para o mercado brasileiro, derivados no Fit.
O HR-V e WR-V não são SUV´s, são crossovers. O próprio site americano da Honda Auto os coloca nessa categoria. Utilitários esportivos legítimos têm tração 4×4, recurso não disponível no HR-V/WR-V nem como opcional. O Passport, de 1992, e o CR-V lançado em 1999, esses sim SUV´s genuínos, seguem a receita consagrada de robustez e durabilidade, capazes de sobreviver ao pior uso soviético.
Saiba a diferença entre um SUV legítimo e um crossover (“SUV Nutella”)
Pode-se ver muitos sobreviventes rodando no interior em más condições de conservação, rodando em estradas na mesma situação. Apesar da escassez de peças e “vida dura”, os jipinhos não param até que virem pó. Será que os recém-lançados HR-V e WR-V têm a mesma bravura e resistência?
EXPERIÊNCIA FAMILIAR COM A MARCA HONDA
Infelizmente, tenho a percepção de que os modelos nacionais perderam qualidade em relação aos japoneses. O primeiro Honda da família, um Civic EX 1993, o qual pertenceu à uma tia minha, rodou por 13 anos e 230 mil milhas (370 mil km – os primeiros Honda importados para cá vinham com painel em milhas) em em condições muito severas e pouquíssima manutenção.
Após tantos anos de uso, a integridade de chassi e carroceria e a ausência de barulhos e acabamento consistia em algo impressionante para um importado não tropicalizado. Na verdade, a resistência mecânica daquele “exemplar exemplar” foi surpreendente para qualquer carro.
Após observar a durabilidade exemplar do Civic 1993 da minha tia, minha mãe comprou um Fit em 2010. Trocou aquele modelo pelo 2015, mais recente. Foi deixado na concessionária com 105 mil km em 2015, cheio de ruídos de carroceria, desalinhamento das peças móveis e os plásticos do acabamento pareciam uma escola de samba. O atual melhorou muito em desempenho e é muito bom de dirigir, mas os plásticos já estão batendo.
CIVIC X CRUZE
No final de 2013, decidi trocar meu Ford Fiesta 2007 por um sedã médio, posto que viajo bastante de carro e necessito de espaço e porta-malas grande. Descartei o Toyota Corolla devido à fama de “carro de tiozão”, menção nada honrosa para um jovem (maduro) de 30 anos. A escolha natural residia no Civic. Fui a diversas concessionárias e fiz o test drive, do qual gostei muito da dirigibilidade e acerto de suspensão.
O ponto negativo ficou para o acabamento cheio de rebarbas e montagem muito aquém do padrão Honda exaltado pelos fãs de carteirinha da marca. Naquele período, a Chevrolet ofereceu R$ 12 mil de desconto para o Cruze, central multimídia grátis e taxa zero em trinta parcelas. Contava a favor o fato de ter quatro airbags de série e controles de tração e estabilidade.
Determinado a comprar o Civic, fui à concessionária da Chevrolet para examinar o concorrente com os ensinamentos dos hondeiros sobre qualidade e levei o GM para casa, apesar da performance e dirigibilidade superiores do Honda. Percebi que a indignação dos entusiastas da marca com a queda da qualidade do acabamento procedia, especialmente comparando os materiais da geração IX com a anterior, o “New Civic”.
QUEDA NA QUALIDADE DO ACABAMENTO
Os modelos 2014 do Civic e 2016 do HR-V têm relatos frequentes sobre ruídos de acabamento e torção de carroceria, problemas os quais não ocorrem em modelos importados mais antigos, como a linha 2005 do Accord, um carro de construção excelente. Basta perguntar para qualquer proprietário normal.
Caso a pergunta seja feita para um hondeiro, ele logo dirá que “os Honda nacionais não são como os de antigamente” e ouvi-lo praguejar contra a queda na qualidade do acabamento.
Histórias sobre o parceiro de clube que possui uma Accord Perua 1993 que se encontra em melhor estado de conservação que muitos Civic 2016 e de outro que rodou 1 milhão de quilômetros com um modelo 1996 cupê, sem abrir o motor nem bater um plástico, servem de munição contra as decisões da Honda em simplificar os materiais e “tirar pontos de solda”.
DIFERENÇA DE QUALIDADE ENTRE MODELOS “MADE IN BRAZIL” E IMPORTADOS

Interior do novo Accord, importado do Japão e com padrão de acabamento de classe mundial.
O CR-V das três gerações também resistem bem ao tempo e apresentam um padrão de qualidade diferente dos modelos nacionais mais recentes. Viajei aos EUA e pude observar os modelos de Fit e Civic vendidos lá. Percebi a diferença da qualidade na montagem e materiais de acabamento.
Naquele país, Honda e Toyota são sinônimos de “carro simples e durável”. Podem ser vistos por todo o país, de todos os modelos, cores e anos/modelo. Possuem a aura do “carro que nunca para”, em conjunto com os pickup trucks, como a Ford F Series. Sobrevivem ao mau uso de muitos motoristas e permanecem como novos na mão de donos cuidadosos.
Por lá, não há desafio em encontrar um Honda dos anos 90 em ótimo estado de conservação devido ao grande número disponível. Por aqui, os hondeiros questionam se nossos Fit, Civic, City e HR-V desfrutarão essa fama ou foram reduzidos ao “padrão BR de qualidade” encontrado em VW Gol/Fox, Fiat Uno/Palio, Ford Ka/Fiesta e GM Celta/Corsa/Agile/Onix.
Tudo em nome da redução de custos de produção e aumento de volume de vendas.
DIFERENÇA NA QUALIDADE DO ACABAMENTO DOS MESMOS MODELOS VENDIDOS NO BRASIL E EUA

Interior do Civic IX norte-americano, com qualidade de materiais muito superior ao modelo vendido no Brasil.
Brasileiros residentes do EUA, Japão ou outros países desenvolvidos, ou pessoas que viajaram a turismo e tiveram oportunidade de andar ou dirigir um modelo da Honda vendido por lá, costumam ficar fascinadas e/ou indignadas ao comparar a diferença na qualidade dos materiais de acabamento entre as versões comercializadas no Brasil.
Enquanto a qualidade mecânica não sofre grandes alterações – com vantagens para o modelo tupiniquim em diversos casos – os plásticos de revestimento do painel e tecido ou couro dos assentos padecem de forte simplificação. Tudo em nome da redução de custos de produção, uma obsessão de todos os fabricantes em solo brasileiro.
O modelo mais emblemático no que concerne ao empobrecimento do acabamento dos Honda nacionais é o Fit: ao passo que o modelo que circula por Miami e Nova Iorque tem seu painel forrado de material emborrachado, os exemplares fabricados em Sumaré precisam se resignar ao plástico rígido, similar aos aplicados em modelos como VW Gol e Chevrolet Onix.
A imagem abaixo, do interior da versão Sport comercializada nos EUA, permite que se veja a olho nu a discrepância na qualidade dos materiais em relação às versões locais. Observe como os plásticos refletem pouca luz, a ausência de rebarbas e vãos entre as peças e as costuras vermelhas feitas com esmero, mesmo em um modelo sem revestimento em couro.

Fit Sport norte-americano
“FUNDAMENTALISMO HONDEIRO”?
Ao entrar em nosso mercado há pouco mais de vinte anos, a Honda se mostrava uma ilustre desconhecida, a exemplo da JAC Motors atualmente. Paulatinamente, amealhou uma legião de seguidores os quais tornaram-se “embaixadores” da marca, os quais geralmente possuem bons conhecimentos automotivos e com eles ajudaram a Honda a construir sua reputação.
Com o avanço das vendas e ampliação do público consumidor, a Honda mudou sua estratégia e política de produção com vistas a convergir ao perfil do motorista brasileiro e galgar posições nos rankings de vendas, o que tem sido feito com muito sucesso. O consumidor comum corrobora a estratégia da Honda, uma das poucas marcas que ganhou mercado no meio do caos da indústria automobilística.
Os fãs “fundadores” se sentem traídos pela marca, acreditando que os modelos hoje comercializados não possuem o padrão de qualidade esperado e propagado, afirmando coisas como “o Fit virou um ‘Gol da Honda'”, “só compro Civic X se for importado do Japão” ou “uma Accord 2004 tem qualidade melhor que um Civic zero quilômetro”.
Aqueles que acompanharam a trajetória da Honda no Brasil desde o início, como eu, concordamos com as críticas dos hondeiros “raiz”, mas também reconhecemos a estratégia da marca de “aderência aos padrões do mercado local” como muito bem sucedida.
Sim… não só a Honda mas qualquer fabricante brasileiro peca no acabamento interno com excesso de plásticos no interior, vocês não deveriam nem comparar aos estrangeiros pois o custo aumentaria muito afinal estamos no Brasil,mas a mecânica Honda é inquestionável assim como a qualidade de montagem basta perguntar aos revendedores, mecânicos do mercado todos são unânimes quanto a durabilidade e confiabilidade,alto valor é facilidade na revenda,tenho um city 2013 e ao contrário do que vocês dizem está com acabamento íntegro e sem ruídos..como eu disse parem de compararem com modelos similares dos E.U.A .
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