A jogada de mestre da Fiat para se manter na liderança de produção de veículos

Fiat Argo, o lançamento da marca mais relevante de 2017
Talvez você tenha clicado neste artigo por acreditar que a manchete está errada.
Só que não. Ela está correta.
De fato, a Fiat deixou de liderar as vendas por marcas desde 2015, ficando atrás da Chevrolet e disputando a segunda posição com a Volkswagen. Todavia, ela continua na liderança das vendas por grupo automotivo, devido a uma grande antecipação das mudanças nas preferências do consumidor, como descrita nos parágrafos abaixo.
MERCADOS DE ATUAÇÃO
O grupo FCA se beneficia da atuação em todas as categorias: automóveis, comerciais leves e caminhões. A GM, líder do segmento de automóveis e comerciais leves não participa deste último, o qual concedeu a liderança de vendas ao conglomerado ítalo-americano por pequena margem. No Anuário da Indústria Automobilística Brasileira de 2017, disponível no site da Anfavea, o conglomerado Fiat Chrysler lidera a produção de automóveis, comerciais leves e caminhões, na soma por conglomerado.
DIFERENÇA ENTRE PRODUÇÃO E VENDAS
No ranking da Anfavea, existe a diferença entre produção e emplacamentos, os quais segregam as vendas no mercado brasileira das exportações. Apesar de perder em unidades comercializadas internamente, as exportações também concederam a vitória ao Grupo FCA.
GRUPO FCA
Para um grupo automotivo, o qual engloba diversas marcas e consolida as receitas e lucros de todas, importa mais o conjunto da obra. O Grupo FCA, o qual possui as fabricantes Fiat, Chrysler, Dodge e RAM, preserva o conglomerado no topo do ranking devido a uma sucessão de lançamentos bem-sucedidos.
FOCO EM UTILITÁRIOS ESPORTIVOS

Jeep Renegade inaugurou a estratégia bem-sucedida do Grupo FCA no Brasil
Desde a fusão entre o Grupo Fiat e o conglomerado Chrysler, o Grupo FCA seguiu a diretriz em lançar novos SUV´s, segmento de mercado com mais forte crescimento. A marca Jeep recebeu atenção especial em sua revitalização, visando a buscar alcance mundial, especialmente nos mercados emergentes.
Por aqui, o utilitário compacto Renegade estreou em 2015 com estrondoso sucesso. Mesmo com forte competição com o rival Honda HR-V, ele granjeou posição de destaque no mercado, figurando entre os 10 mais vendidos em um mercado o qual registrava forte queda nas vendas.
Em 2016, outra jogada de mestre ao lançar a picape Toro, inaugurando um novo segmento no mercado: as picapes compacto-médias. Montada na plataforma dos utilitários Jeep, conquistou um novo público e registra boas vendas desde seu lançamento.
No final desde mesmo ano, o Jeep Compass ganhou as ruas com uma pegada mais urbana e requintada em relação ao irmão menor Renegade, conquistando a liderança geral do segmento de SUV´s, o mais aquecido do mercado. Oferecendo o melhor custo/benefício em sua faixa de preço, o Compass coroou a estratégia vencedora do Grupo FCA.
DERRAPADAS NO MEIO DO CAMINHO
Nem tudo foram flores para a Fiat neste período de caos automotivo. No mercado outrora dominado pela montadora ítalo-americana, o de compactos, dois novos modelos estrearam sem muito brilho.
Em 2016, o subcompacto Mobi (foto acima) chegou ao mercado com a missão de substituir o antigo Uno Mille, descontinuado devido às mudanças na legislação de segurança veicular introduzidas dois anos antes. Uma estratégia atrapalhada da Fiat – a qual lançou o modelo com um motor 1.0 de quatro cilindros já obsoleto, design que não agradou, poucos equipamentos a preços nada convidativos – fez o modelo “micar”.
Até os entusiastas da marcas, os “fiateiros” (leia aqui sobre eles), pedem a substituição do modelo.
Em 2017, a marca italiana renovou seus hatches compactos premium: saíram os veteranos Palio e Punto para a chegada do Argo. Nos primeiros meses, as vendas não deslancharam devido ao preço inicial considerado alto pelo público. Promoções e ajustes no valor tem melhorado os resultados. Porém, os dois novos compactos não recuperaram a antiga liderança da marca no segmento.
VALOR AGREGADO É O QUE IMPORTA
Após a estratégia implementada nos últimos anos pelo Grupo FCA ter logrado grande sucesso, a lucratividade da empresa apresentou incremento significativo, posto que as margens de lucro de SUV´s se mostra muito maior em relação aos compactos. Vendas para empresas também entregam menor rentabilidade em relação às feitas para consumidores finais.
O perfil anterior de vendas apresentava concentração na venda direta para pessoas jurídicas de compactos de baixo valor agregado. Com a nova política de produtos e crescimento da marca Jeep, deu-se ênfase no segmento de SUV´s compactos, de alta lucratividade, para pessoas físicas.
LIDERANÇA E SAÚDE FINANCEIRA
Em suma, a Fiat abandonou o perfil de grandes volumes com baixas margens em produtos de pouco valor agregado para o oposto: produtos de maior qualidade percebida e maior ticket médio. O resultado se mostro muito saudável para o balanço da empresa.
A política anterior colocava o Grupo FCA na liderança de vendas, mas as margens magras pressionavam o lucro líquido, o qual chegou a patamares inferiores a fabricantes com um terço do volume comercializado – neste caso, Toyota. O foco em SUV´s melhorou bastante o desempenho financeiro da empresa.
Os únicos incomodados com esta mudança são os entusiastas de modelos antigos da marca, como Stilo, Bravo, Brava, Marea, Tempra e Tipo os quais relembram saudosos da esportividade e design italiano dos hatches e sedãs que saíram de linha e não deixaram sucessores. No mundo dos negócios, o consumidor que coloca o dinheiro no caixa da empresa sempre tem razão. Para o bem e para o mal.
Se os consumidores querem SUV´s, a Fiat Chrysler os venderá com prazer. A empresa soube se antecipar à demanda dos clientes e lançou os produtos certos, na hora certa e hoje colhe os frutos da jogada de mestre. A soma das marcas concede a liderança em unidades e lucros. Sucesso total.