Por que o brasileiro é tão infiel às marcas de carros?
Nos Estados Unidos, os consumidores de carro costumam ser fiéis a uma única marca, especialmente os mais velhos. Esse é um reflexo da antiga rixa entre Chevrolet e Ford, presente desde o início da indústria automobilística em Detroit, que passa de geração em geração.
Alguns chegam ao extremo de falar “só ando de Ford porque meu avô e meu pai dirigiram Ford a vida inteira”. Os fãs da Chevrolet falam a mesma coisa, e o mesmo vale para as marcas de luxo. Alguns compram apenas Cadillac ou Lincoln, marcas locais, e rejeitam os alemães BMW, Mercedes e Audi. Mas por que isso não acontece no Brasil?
Em terras tupiniquins, chega a ser até motivo de piada defender uma marca ou modelo. Até se cunhou um termo pejorativo para isso: fanboy (leia o significado aqui). Estes indivíduos, os quais fazem insistente apologia a uma marca ou modelo, conpor mais conceituada que a marca seja.
Mesmo nos países desenvolvidos, com mercados mais consolidados, conhecidos pela maior fidelidade dos consumidores aos seus fabricantes preferidos, este conceito perde força entre os mais jovens. Todavia, a defesa de uma marca ou modelo por aqui a infidelidade é estimulada e até valorizada.
Até meados dos anos 90, nosso mercado era fechado e tinha apenas quatro grandes marcas: Volkswagen, Chevrolet, Ford e Fiat. A primeira era conhecida por ter qualidade – e preço – superiores naquele tempo, amelahnado consumidores fiéis àqueles modelos até os dias de hoje, inclusive entre os jovens.
Com o avanço da tecnologia e aumento da concorrência, a montadora que chegou a ter 80% do mercado decaiu paulatinamente na preferência dos consumidores, até poucos são aqueles que falam “só compro carro da Volkswagen” e isso soa absurdo nos dias de hoje.
Entre os compradores de carros de luxo, a infidelidade é ainda maior, ao contrário do que ocorria no passado, quando alguns se gabavam de possuir apenas carros da Mercedes-Benz ou da Alfa Romeo. Hoje em dia, chique é possuir um de cada marca e manter discussões detalhadas e acaloradas sobre as vantagens e defeitos de cada fabricante e/ou modelo.
E quais as causas da infidelidade dos brasileiros às montadoras de veículos? A princípio, elenco as três principais:
1 – Ausência de um grande fabricante nacional
Em países como EUA ou França, que têm grandes marcas nacionais, os consumidores costumam se fidelizar a uma marca nacional. Com a ausência de um grande fabricante do Brasil, não existe esse senso patriótico, deixando o cliente mais livre para pular para a montadora que quiser.
2 – Demanda reprimida por décadas
Nosso mercado era pequeno e com pouquíssimas opções até a abertura das importações pelo ex-presidente Fernando Collor em 1990. Antes, para cada intenção de compra, estavam disponíveis somente de 2 a 4 opções. Com o avanço da indústria, hoje temos algumas dezenas, ou até centenas, de modelos e versões em todas as categorias. E por ter sofrido com a baixa oferta por tanto tempo, hoje o brasileiro quer experimentar de tudo.
3 – Questões culturais
Este é um outro aspecto do motivo acima. O brasileiro adora experimentar o novo e o diferente, seja em comida, viagens, tecnologia e tudo mais. A cultura brasileira é aberta à novidade e diversidade, e isso leva o motorista a não se apegar a uma marca, tornando o trabalho de fidelização muito mais árduo por aqui.
Mas a infidelidade dos consumidores a fabricantes e modelos é boa ou ruim? Por um lado é boa, pois estimula as montadoras a aprimorar constantemente os produtos e serviços, a fim de fazer o cliente comprar outro veículo da marca, fazer todas as revisões, avaliá-la positivamente e recomendar para os amigos.
O lado negativo está no baixo grau de exigência do consumidor brasileiro, que em grande parte escolhe o modelo somente pelo design e preço de compra. Isso faz com que as empresas descuidem da qualidade, oferecendo produtos inferiores aos similares de outros países.
São dois lados da mesma moeda, que as montadoras devem aprender e respeitar se quiserem crescer em nosso mercado. Os consumidores também precisam buscar educação automotiva, com o intuito de fazerem melhores escolhas e levar à melhoria da qualidade dos produtos.
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