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Os perigos de comprar um veículo com base apenas em design

Entre os profissionais da área automotiva e os aficionados pelo assunto, há um consenso  de que o brasileiro médio possui nível de conhecimento sobre carros muito baixo, e isso resulta em enorme quantidade de compras por impulso, as quais levam a arrependimento posterior. Isso pode ser ocasionado por diversos fatores, mas destaco o principal deles:

A COMPRA DE UM VEÍCULO UTILIZANDO O DESIGN COMO PRINCIPAL FATOR DE ESCOLHA.

Claro que todos nós apreciamos carros belos e nos sentimos bem ao volante de um deles. Este é um desejo natural e saudável. O problema começa quando o design se sobrepõe a outros aspectos mais relevantes, como custos de financiamento, seguro e manutenção, confiabilidade mecânica, consumo de combustível, abrangência da rede autorizada, dentre diversos fatores práticos.

HYUNDAI VELOSTER

os perigos de comprar carro baseado apenas em design

O Hyundai Veloster teve grande sucesso em seu lançamento, mas virou mico após os consumidores constatarem que seu desempenho não corresponde ao sugerido pelo design esportivo.

Outros fatores mais subjetivos também podem levar a grandes decepções em compras baseadas apenas na aparência do veículo. Uso como exemplo o Hyundai Veloster, o qual ilustra a matéria.

Fez grande sucesso em seu lançamento devido ao design belo e esportivo, mas foi rejeitado posteriormente pelo seu motor fraco, o mesmo do compacto HB20, entregando desempenho inferior até mesmo de alguns populares 1.0. Este veículo é ironizado nas comunidades automotivas, sendo chamado de “Lentoster”, “Moloster”, etc.

A decepção com o modelo foi tão grande que a marca coreana interrompeu suas vendas em meados de 2014 sem alarde, e voltou a vendê-lo em 2017 com motor turbo de 190 cv, mas sem alarde.

Este descompasso entre o design e o desempenho tornou o modelo um dos mais emblemáticos casos de bullying automotivo na comunidade gearhead. O dano na imagem do  modelo foi tão grande que a marca evita chamar a atenção para o modelo, diferentemente da campanha de lançamento em 2012.

FORD ECOSPORT

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Pode-se citar também o Ford EcoSport. Lançado em 2003, foi o pioneiro na categoria de SUV compacto e permaneceu como único representante do segmento durante muitos anos. Soberano no segmento que criou, obteve sucesso desde seu lançamento e permitiu  a sobrevivência da fabricante norte-americana no Brasil. Baseado no compacto Fiesta, seu custo de produção se mostrava próximo do “irmão” e permitia vendas a preços mais elevados.

A categoria dos SUV´s sempre foi muito desejada no Brasil desde os tempos da Rural e Veraneio. A falta de concorrentes ao EcoSport permitiu sua sobrevivência por longos anos, com grandes margens de lucro para a empresa, a despeito da má qualidade de seu acabamento, desempenho de popular com consumo de carro grande, segurança e estabilidade deficientes e altos custos de manutenção e seguro.

A compra do SUV compacto da Ford, baseada em design, custava caro em relação a outros modelos da própria marca como o Focus, uma família composta por um hatch e sedã médios oferecida por preços similares e motorização e conteúdo superiores. Todavia, como o EcoSport se mostrava uma compra emocional, pois raramente os proprietários eram demovidos da ideia de ter um jipinho compacto com motor 1.6 pelo valor de um hatch médio com um 2.0 debaixo do capô.

Felizmente – para o consumidor – a concorrência acordou e dezenas de concorrentes do EcoSport foram lançados a partir de 2014, forçando a Ford a aprimorar seu produto, o que ela tem feito com êxito para concorrer com Renault Duster e Captur, Jeep Renegade e Compass, Honda HR-V, Hyundai Creta e Nissan Kicks.

O acirramento na disputa pela categoria mais desejada da atualidade fez muito bem ao Ford EcoSport. Quem te viu, quem te vê.

GRUPO PSA E MARCAS CHINESAS

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Este fenômeno pode acometer toda uma marca. Cito três exemplos: Citroën, Peugeot e JAC Motors. As duas primeiras foram a quinta e a sexta mais vendidas, mas suas vendas caíram 70% nos últimos dez anos devido à baixa confiabilidade mecânica, manutenção cara e mau atendimento nas concessionárias.

A JAC Motors fez uma entrada estrondosa no Brasil, com marketing agressivo, mas afundou pelo mesmo motivo das francesas. Todas entregam design bonito em carros sem qualidade e confiabilidade, resultando em consumidores insatisfeitos, deterioração da imagem do fabricante e queda nas vendas.

Todas têm trabalhado para recuperar a confiança dos consumidores, mas reconquistá-la depois de perdida exige esforço triplicado em relação a ganhá-la pela primeira vez.

COLOCANDO A MÃO ONDE NÃO ALCANÇA

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Barato para comprar, caro para manter

Outro efeito negativo na compra baseada somente em design reside no grande desejo do consumidor de possuir aquele veículo, mesmo que esteja muito além de sua capacidade econômica de mantê-lo. A compra por impulso deixará o motorista ansioso e frustrado, que poderá ser obrigado a se desfazer do automóvel contra a vontade, ou sofrer dos problemas elencados acima.

O caso emblemático desta categoria consiste no jovem universitário, estagiário, ou em início de carreira, o qual deseja ter um carro estiloso e chamativo, como os desta lista aqui. O grande equívoco mora nos custos de combustível e manutenção, os quais seu pequeno salário não consegue cobrir. Fazer seguro está fora de cogitação, pois o valor do prêmio permite adquirir outro modelo idêntico em cinco anos.

Consegue comprá-lo, mas não sobra o suficiente para o combustível. Por conta da escassez financeira, passa os dias úteis andando de ônibus e roda com o “bólido” apenas no fim de semana, com R$ 20 de gasolina no tanque. A história termina com o veículo encostado enquanto o proprietário não arruma o dinheiro para consertá-lo ou quando é roubado.

A mensagem que fica é: jovem, não desista do seu sonho de ter um carrão. Mas faça isso apenas quando tiver condições de bancá-lo com tranquilidade. Mais vale um Fiat Uno funcionando que um Audi encostado.

GARFO PARA TOMAR SOPA

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Outro  erro muito frequente, causado pelo próprio consumidor, consiste em colocar o design acima de suas necessidades, como ocorre com aqueles que moram em prédios com vagas apertadas e compram picapes cabine dupla enormes, difíceis de manobrar.

Ou pessoas com filhos pequenos as quais compram um esportivo como o Veloster, com pouco espaço no banco traseiro e porta-malas. A não ser que possuam outro veículo mais apropriado, tal decisão por impulso tornará difícil a convivência do motorista e sua família com o carro e isso certamente trará arrependimento e prejuízos.

Ainda pode-se citar o caso do motorista com família grande, o qual roda sempre carregado, mas com grande desejo de comprar um zero-quilômetro. Entretanto, seu orçamento é limitado e permite apenas a compra de um compacto de entrada, como Fiat Mobi ou VW up! e mesmo assim ele vai em frente. Ao invés de adquirir um modelo seminovo mais espaçoso, potente e confortável para a família, insiste no compacto novo em folha e submete os membros da família ao aperto e motor fraco.

SOLUÇÃO: PESQUISAR ANTES DE COMPRAR

A educação automotiva se mostra um conhecimento fundamental para que o cidadão faça as melhores escolhas na hora de se motorizar, com o objetivo de rodar em um veículo seguro, robusto, econômico, que atenda as necessidades e dentro das possibilidades financeiras do comprador e, se possível, bonito.

Leia publicações especializadas e o máximo de conteúdo sobre os veículos que cogita adquirir. Visite concessionária e lojas e conheça-os ao vivo e a cores. Não compre sem fazer o test-drive em todos eles. Caso ainda restem dúvidas, peça ajuda a um consultor automotivo ou a alguém que detenha bons conhecimentos sobre carros, o qual não deve impor ou induzir suas preferências, deixando para o motorista a decisão final.

4 Comments »

  1. Discordo do texto. Eu tenho um Peugeot a muitos anos, e considero um carro de boa qualidade. Acima da média até.
    Na minha opinião quem escreveu esse artigo, tem preconceito com marcas francesas. O que infelizmente é comum, mas a considero injusta.
    Já o atendimento das concessionárias, realmente é ruim.

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    • Sabrina, boa tarde.

      Quando escrevi esse artigo, não refleti minha opinião tampouco preconceito, apenas o consenso do mercado de reparação e compra e venda de usados.

      A Peugeot, Citroen e JAC têm má fama em linhas gerais, mas conheço alguns casos de pessoas muito satisfeitas com todo tipo de modelo. O que todos têm em comum é o zelo e capricho com o carro.

      Com os devidos cuidados de manutenção preventiva, qualquer modelo não apresenta falhas. Infelizmente, o seu caso constitui uma exceção, pois a grande maioria dos proprietários não estão dispostos a ter o cuidado que você provavelmente tem com o seu carro.

      Quem dera todos os donos fossem assim.

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