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O que um fabricante precisa oferecer aos clientes para se destacar na crise automotiva?

carros

A queda nas vendas de veículos nos primeiros quatro meses de 2015 supera 25% em relação ao mesmo período de 2014. Agregada à crise econômica geral que assola o Brasil, as montadoras passam por grandes dificuldades e precisam se reinventar urgentemente. Neste momento delicado do mercado automotivo, é possível ocorrer algo bom?

Em chinês, o ideograma para a palavra crise embute dois significados: perigo e oportunidade.

Perigo para os fabricantes acomodados e que confiam em que tudo permanecerá como sempre foi. Estes acabarão perdendo participação no mercado e serão menos relevantes no futuro. Em casos mais graves, serão obrigados a encerrar as operações por aqui, a exemplo da Mazda e da Alfa Romeo no final dos anos 90.

Aquele momento econômico ofereceu uma oportunidade para as marcas que vislumbraram mudanças na mente do consumidor e ofereceram produtos inovadores que atenderam seus anseios. Estas empresas viram sua participação no mercado aumentar, passaram a ser grandes players e estão na cabeça dos motoristas, como Honda, Toyota e Hyundai conquistaram na última década, obtendo mais de 20% do mercado brasileiro.

A pergunta que não quer calar é a seguinte:

O QUE UMA MONTADORA PRECISA OFERECER AOS CLIENTES PARA CRESCER NA CRISE AUTOMOTIVA NO BRASIL?

Converso muito sobre carros com meus amigos e familiares. Compreendo que há uma mudança latente na mentalidade do consumidor de veículos brasileiro, e a montadora que se antecipar em comercializar as mudanças que identifiquei abaixo certamente crescerá. Assim, as enumero em ordem de importância:

 

1 – CONFIABILIDADE MECÂNICA

Nenhum proprietário de veículo gosta de frequentar oficinas, tampouco ficar na rua. As montadoras que mais ganharam mercado na última década (Honda, Toyota e Hyundai), tem como principal trunfo a fama de apresentar poucos defeitos.

Tais marcas se dão ao luxo até de cobrar mais caro por isso e ainda ganham mercado, obtendo crescimento em meio à crise automotiva. Por outro lado, as marcas que têm fama de quebrar muito têm despencado em vendas, caso da Peugeot e Citroën, as quais venderam menos da metade de 2014.

Então pode-se afirmar: fabricantes que investirem em qualidade e confiabilidade crescerão, aqueles que negligenciarem este quesito não sobreviverão.

2 – MODELOS DE ENTRADA COMPLETOS

Considera-se há alguns anos o fato de um modelo completo é muito mais do que ar condicionado, vidros/travas elétricas e direção hidráulica. Somados aos obrigatórios airbag duplo e freios ABS, pode-se afirmar que este é o novo básico.

O consumidor brasileiro não quer mais pagar mais de R$ 30 mil reais em um popular 1.0 sem estes itens, mas infelizmente ainda os encontramos em nosso mercado. Com a entrada de novas marcas, especialmente as chinesas, que comercializam veículos completos por preços competitivos, faço a segunda afirmação:

O fabricante que oferecer veículos modernos e completos a preços competitivos, de preferência abaixo dos R$ 30 mil, ganhará muito espaço no Brasil. Os que insistirem em vender modelos pelados e caros definharão.

3 – PADRÃO DE QUALIDADE EM LINHA COM MERCADOS DESENVOLVIDOS

Todos sabem que os carros são absurdamente caros no Brasil. Para piorar, a qualidade se mostra inferior aos similares de primeiro mundo. Recebemos veículos com design semelhante por fora, mas menos seguros, equipados, com motores defasados e acabamento (muito) empobrecido.

As montadoras tiram equipamentos, pontos de solda da carroceria, os materiais de revestimento interno são inferiores e a tecnologia é defasada. Na Europa, os veículos são comercializados por valores tão altos como por aqui, mas o nível de qualidade é bastante superior. Ou seja, pagamos mais e levamos menos. Daí deriva a terceira oportunidade para a montadora que quiser sair vencedora da crise:

A marca que oferecer veículos com nível de qualidade, tecnologia, segurança e acabamento iguais aos oferecidos nos mercados desenvolvidos, praticando preços compatíveis, ganhará espaço no mercado brasileiro. A montadora que continuar comercializando carros com nível de qualidade inferior, “depenados”, inseguros e a valores altos, perderá relevância rapidamente.

4 – MOTORES COM BOA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Os preços dos combustíveis no Brasil quebram recordes quase toda semana, devido ao escândalo de corrupção na Petrobrás, aumento de impostos sobre o produto e problemas estruturais na rede de distribuição nacional.

Em cenário tão adverso, o consumidor compromete parcela cada vez maior de sua renda para abastecer seu veículo. E isso pesa no bolso de toda a população.

Assim, um dos aspectos mais valorizados na escolha de um automóvel zero quilômetro tornou-se o baixo consumo de combustível. Com a difusão de tecnologias como o turbocompressor e sistemas híbridos, os quais alternam gasolina/álcool e eletricidade, as fabricantes devem investir em veículos mais limpos e econômicos.

Ademais, o motorista que adquiriu um modelo de entrada não deseja mais aquele veículo fraco em subidas e ultrapassagens. Então, conclui-se que:

A montadora com foco na oferta de motores eficientes, limpos, de baixo consumo e bom desempenho prosperará. Concorrentes com oferta de produtos sem atualização tecnológica perderão vendas.

5 – Acessórios e design

Este tópico contém uma característica inerente ao consumidor brasileiro, a qual tem seu lado positivo e negativo. Ele gosta de exclusividade e de possuir algo que seu vizinho não tem. Com a popularização dos equipamentos de conforto e segurança como ar condicionado, airbags, ABS, direção hidráulica, dentre outros, eles deixaram de ser diferencial.

O fabricante que quiser se destacar da concorrência deve investir em itens que chamam a atenção do cliente pela exclusividade, como centrais multimídia, câmeras de ré, iluminação diferenciada e acessórios estéticos como aerofólios, saias laterais e frisos cromados diversos, os quais incrementam o design e dão a sensação de estar dirigindo um carro mais caro.

O brasileiro cansou de andar em carros de aparência simplória e sem diferenciais. A empresa que oferecer um carro com visual mais exclusivo e equipamentos diferenciados e tecnológicos terá muito espaço. Quem continuar oferecendo carros padronizados e sem detalhes verá a concorrência levar seus clientes.

6 – Pós-venda

O salto de qualidade na prestação dos serviços de pós-venda criou o desejo de o comprador de carros zero quilômetro de abandonar a oficina mecânica do seu bairro e fazer a manutenção de seu veículo na rede autorizada. De preferência, sem pagar a mais por isso.

Para este público, o ideal é apenas levar nas revisões programadas pagando um valor pré-definido pela montadora, em um concessionário que o atende em uma sala clara, com café e ar-condicionado e com um consultor capacitado para dar todos os esclarecimentos em linguagem clara e acessível. Nada de oficinas sujas e bagunçadas, com um mecânico falando nomes de peças complicados e com a chance de levar um susto ao saber do valor do serviço.

O consumidor médio não se interessa por detalhes técnicos. Fugir de oficinas sujas e bagunçadas e mau atendimento se mostram algo muito desejável para ele. Garantias longas e com regras claras, revisões com intervalos longos, sem oferta de serviços caros e desnecessários é uma obrigação.

O brasileiro aspira a manter a manutenção e conservação de seu carro em dia sem a necessidade de buscar conhecimento técnico ou grandes preocupações em marcar períodos para levar seu automóvel para as revisões. Ele espera apenas uma coisa:

Que a revenda o ajude a cuidar de seu veículo da forma mais descomplicada possível, fornecendo bom atendimento, comodidade e com orçamento justo e previsível. Este consiste em pré-requisito importante para desfrutar de boa imagem entre os consumidores.

A referência do mercado é o serviço de pós-venda da Honda. O fabricante que tornar a vida do cliente difícil na hora de manter seu carro, como a Kia ou a Peugeot, perderão mercado.

UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA

Fica o recado às montadoras que querem se destacar em pleno caos automotivo. Os consumidores se mostram cada vez mais preparados para procurar o melhor para si e para todos, da mesma forma como ocorreu nas ocasiões anteriores.

As empresas precisaram se reinventar e melhorar seus produtos, e desta vez não será diferente. Entregar o estado-da-arte em automóvel deixou de ser diferencial em um mercado tão concorrido, mas se tornou questão de sobrevivência. O fabricante que apenas mantiver o padrão das últimas décadas está fadada a desaparecer.

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