Morte de Cristiano Araújo, parte 5: Os perigos de fazer reparos em rodas e pneus
Após três meses, o resultado da perícia automotiva do Range Rover Sport envolvido no acidente no qual o cantor Cristiano Araújo e sua namorada foi divulgado. Apurou-se que a velocidade na hora do capotamento era de 179 km/h.
A principal causa tratou-se da ruptura de uma das rodas, a qual sofreu danos em uso anterior e havia passado por reparos. Ela se partiu com o excesso de carga decorrente do alto peso do veículo em tal condição de rodagem. Os parágrafos abaixo detalharão o que ocorre em tais condições.
PROCESSO DE FABRICAÇÃO
Em primeiro lugar, explicarei como se faz a fabricação e reparo de rodas de liga leve. Elas são feitas de blendas de níquel, cobre, magnésio e alumínio, sendo este último o metal predominante, por um processo chamado fundição. Os materiais são fundidos (“derretidos”) e é feita a liga, a qual é derramada em um molde no formato final.
Após o resfriamento, o produto passa pelas fases da têmpera e revenimento, com o intuito de aumentar sua resistência. Por último, recebe o acabamento e pintura, para ficar com a aparência final. O resultado final consiste em um bloco uniforme e rígido, de alta resistência.
Grosso modo, o processo de fundição guarda alguma semelhança com o de fabricação de chocolates, no qual a matéria-prima é derretida e colocada em um molde com o formato desejado.
COMO É EXECUTADO O REPARO
Quando uma roda de liga leve sofre danos, o metal fica deformado no local do impacto, como um tecido esgarçado. Quando o mecânico ou borracheiro faz o reparo, se utiliza uma maçarico para aquecer o material da roda, e a peça é retificada com marteladas a quente. Caso haja muitas imperfeições, é adicionado novo metal a título de reforço do original e restauração do formato original. Por último, os processos de lixamento e pintura são efetuados, a fim de devolver a estética original da roda.
Voltando novamente à analogia do chocolate, imagine um boneco de chocolate que tem um braço quebrado, e o confeiteiro aquece a peça principal para colá-lo de volta em seu lugar. Após o acabamento, a aparência fica idêntica, mas a estrutura fica mais frágil em caso de novo impacto e as propriedades são alteradas.
O mesmo ocorre com as rodas de liga leve: apesar de parecerem idênticas externamente, sua resistência fica seriamente comprometida e expõem os ocupantes do veículo a acidentes, como no caso de Cristiano Araújo.
EFEITOS DA VELOCIDADE NAS RODAS E PNEUS
Como qualquer componente mecânico, rodas e pneus são submetidos a forças e impactos, exigindo grande resistência mecânica. No caso dos conjuntos de rodagem, duas variáveis exercem maior influência: carga e velocidade.
Um Range Rover Sport pesa 2.335 kg, segundo o fabricante, fato o qual isoladamente já representa enorme solicitação de carga, superior a muitos veículos comerciais como vans e caminhões urbanos. No momento do acidente, o veículo tinha quatro ocupantes mais bagagem, perfazendo um peso bruto total superior a 2.800 kg. A primeira variável possuiu maior influência no acidente.
A velocidade de 179 km/h apurada na perícia também aumenta enormemente a carga sobre os pneus. Os fabricantes realizam milhares de horas de teste, chegando a rodar mais de um milhão de quilômetros para garantir a performance e segurança de seus automóveis.
Neste caso, o veículo foi projetado para andar com estas carga e velocidades, mas com rodas em perfeito estado de conservação.
Conforme explicado anteriormente, a roda reparada não suportou a carga e se partiu, causando o capotamento do utilitário, devido ao enfraquecimento da estrutura do material metálico causado pelo processo de soldagem.
A CAUSA PRIMORDIAL DO ACIDENTE FOI A RODA QUE SOFREU REPAROS, QUANDO DEVERIA SER DESCARTADA E SUBSTITUÍDA POR UMA NOVA.
Outra medida que evitaria o acidente consistiria em respeitar os limites de velocidade da rodovia, de 100 km/h. Tomando esta velocidade como referência, a carga sobre as rodas de outro rodando a 150 km/h aumenta em quatro vezes. Em comparação com outro circulando a 200 km/h, o esforço imposto é multiplicado por dez.
Isso mesmo. A força aplicada nas rodas de um carro a 200 km/h é DEZ VEZES MAIOR em comparação com outro a 100 km/h.
RODAS DANIFICADAS NÃO DEVEM SER REPARADAS
Por isso, tenha cuidado ao reparar uma roda e/ou pneu que sofreu grandes danos. Em baixas velocidades, nenhuma alteração será notada, e mesmo rodando em estradas nas condições normais.
O defeito pode se manifestar apenas em condições extremas, como velocidades acima dos limites fixados pela lei, em manobras bruscas ou com o veículo carregado. Mesmo que esses componentes sejam muito caros, não é prudente fazer reparos em caso de grandes danos. Troque. Cristiano Araújo pagou com a vida.
Parabéns pela explanação. Muita gente não sabe que está andando com seu automóvel em condição insegura por desconhecer o assunto.
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