Motor potente garante bom desempenho?
A afirmação do título constitui uma das generalizações mais repetidas sobre a performance de um veículo. O senso comum a criou com base nos carros de competição, especialmente os de Fórmula 1. Nada mais falso, posto que estes sofrem influência ainda maior dos demais fatores explanados neste artigo.
Assim, o número de cavalos de um motor não passa de um atalho mental com vistas a transformar um conceito complexo em simples, buscado por aqueles que não desejam empreender o esforço de aprender mais sobre o assunto.
A meta desta matéria objetiva a quebrar este mito, explicando-o de forma completa e simplificada, ao mesmo tempo. O consumidor pouco instruído tende a reduzir a questão do desempenho somente a potência do motor, sem considerar os sete outros parâmetros técnicos, também muito importantes, descritos a seguir:
1 – TORQUE
O torque (ou momento torsor) de um motor define a capacidade deste de tirar o veículo da mobilidade e carregar peso, incluindo o do próprio veículo. Ele é medido em N.m (newton x metro) ou kgf.m (quilograma-força x metro).
Comparando dois motores de mesma potência (ambos com 140 cavalos, por exemplo), mas com valores diferentes de força motriz (um com 200 N.m e outro com 250 N.m), o segundo apresentará desempenho bem superior, especialmente em aceleração e subidas. Em caso de motores de mesma potência, prefira o que tem maior torque.
2 – ROTAÇÃO DE POTÊNCIA E TORQUE MÁXIMOS
Grosso modo, o propulsor não tem rendimento uniforme em todos os regimes de funcionamento, por isso aumentamos a rotação para aumentar o desempenho.
As melhores unidades motrizes são as que entregam potência e torque nos giros mais baixos, eliminando a necessidade de elevar demais a rotação do motor, tornando a condução mais confortável e econômica.
Em um exemplo de dois motores, ambos de 100 cavalos e 170 N.m de torque, um deles atinge os valores máximos de potência e torque a 5200 rpm e 2800 rpm, respectivamente. O segundo atinge a 6000 rpm e 4000 rpm. O primeiro apresentará performance superior em aceleração e economia, pois trabalha mais “folgado”, sem necessidade de muita aceleração, além de proporcionar melhor durabilidade e menos manutenção.
Aprenda mais sobre relações de marcha em Câmbio curto e câmbio longo: entenda a influência no desempenho do carro
3 – RELAÇÃO DE TRANSMISSÃO
O número de marchas e o seu escalonamento influenciam fortemente o desempenho do veículo. Quanto mais marchas, melhor. O motor tende a trabalhar sempre perto do regime ideal de funcionamento, melhorando o desempenho e economia. Simplificando, um veículo com câmbio de 6 marchas desempenha melhor do que um de 4 velocidades.
Aprenda mais sobre os benefícios das caixas de múltiplas marchas neste artigo: Câmbios de 9 e 10 velocidades. Para quê tanta marcha?
Outro ponto importante são as relações de marchas, ou seja, quando serão feitas as trocas. De modo geral, são separadas em curtas e longas. O “câmbio curto” é aquele no qual se troca de marchas mais cedo, proporcionando melhor aceleração, mas se paga com aumento de consumo e desconforto ao rodar em estradas, devido às altas rotações.
O câmbio de relações alongadas entrega menos aceleração, podendo deixar o carro “chocho” para acelerar, mas privilegiando a condução em estradas e a economia. Não é recomendado para motores de baixa performance.
Em suma, um motor de mesma potência pode ter desempenhos muito diferentes conforme as relações de transmissão da caixa de velocidades.
4 – PESO DO VEÍCULO

105 cv que valem por 210!
A potência é um indicador importante, mas depende do veículo que está ao redor dele. É um quociente que diz quantos quilos cada cavalo tem que puxar. A performance é definida pela relação entre o peso do veículo (em quilos) dividido pela potência do motor (em cavalos).
Exemplo: o veículo tem 1000 kg e 100 cv, o que resulta em uma relação peso potência de 10 kg/cv. A “pegadinha” está em buscar somente potência sem considerar o peso. Vamos supor dois veículos: um esportivo de 900 kg e 180 cv e um SUV de 2500 kg e 300 cv. As relações peso/potência serão de 5 kg/cv e 8,33 kg/cv, respectivamente.
Apesar de o esportivo pesar pouco mais da metade de um SUV, supondo a aplicação do mesmo motor em ambos, o primeiro entregará desempenho superior devido ao menor peso.
Isto prova de apenas “cavalaria” não garante boa performance.
5 – DIMENSÕES DO VEÍCULO
O desempenho não depende apenas de peso e potência. A distribuição de peso pode influenciar negativamente, como no caso do Opala, que tem o peso muito concentrado na dianteira. Por isso, muitos aficionados por este modelo colocam sacos de areia para melhorar a dirigibilidade.
As dimensões da carroceria também influenciam muito. Eis a razão de os veículos esportivos serem baixos e largos, pois esta configuração otimiza o aproveitamento da força do motor devido à concentração de massas próximas ao chão, privilegiando a estabilidade, tração e todos os aspectos do comportamento dinâmico do veículo.
Compreenda melhor a influência da dinâmica veicular nestes artigos: Centro de gravidade: por que SUV´s capotam mais que automóveis e Distribuição de peso: aspecto importante da dinâmica veícular
6 – AERODINÂMICA
As montadoras mobilizam equipes grandes e muitas horas de testes em laboratórios caríssimos, realizando centenas de testes em túnel de vento. Com o intuito de aprimorar o fluxo de ar em contato com a carroceria do veículo, a fim de extrair a melhor performance.
Veículos com menor resistência aerodinâmica permitem que mais potência e torque cheguem às rodas, a fim de obter o resultado final desejado: desempenho e economia. De preferência, ambos no mesmo veículo.
Um bom exemplo da influência da aerodinâmica e dimensões resida na comparação da performance entre dois modelos da mesma marca, equipados com o mesmo propulsor: os VW Gol e Kombi.
Rendendo números de potência, torque e peso total bastante próximos, a performance do hatch compacto se mostra muito superior em relação ao clássico utilitário devido à aerodinâmica e formato da carroceria mais favoráveis. A enorme diferença de idade dos projetos e propostas diferentes mudam completamente o resultado
FUNDAMENTOS DE DINÂMICA VEICULAR
Fugindo da abordagem reducionista de considerar apenas o rendimento do powetrain a fim de avaliar a performance de um automóvel, pode-se enriquecer muito ao abordar outras características tão relevantes quanto a “cavalaria” e chegar a conclusões mais completas e precisas.
Pode-se citar outros fatores, tais como calibração de suspensão e direção, rigidez torsional do chassis, idade do projeto, mapeamento eletrônico de motor e câmbio e até a filosofia de acerto da marca. Apesar de oferecerem menor influência no conjunto da obra, dão o “tempero” que diferencia modelos lendários de outros apenas competentes.
Viu como não é nenhum bicho de sete cabeças? Naturalmente, a potência do motor exerce grande influência na hora de escolher o carro com base em performance, mas somando mais estes sete quesitos extras permitem decidir com muito mais propriedade e embasamento.
Republicou isso em Educação Automotiva Além da Autoescolae comentado:
O desempenho do carro não se baseia apenas no número de cavalos do motor. Se fosse assim, um Renault Duster (142 cv) seria mais rápido que um VW up! TSI (104 cv), mas no 0 a 100 km/h o SUV francês é 1,4 segundo mais lento que o compacto alemão (10,7 s contra 9,3s). Entenda o porquê neste post.
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Comprei um corsa sedan frente montana ano 2003, e a especificação de potencia no documento é a seguinte; 05L/071CV, pode me dizer se ele é 1.0 ou 1.4? ja que junto a marca do veiculo não tem essa informação!…
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Olá Vilmar.
Na linha 2003 do Corsa, os motores disponíveis eram o 1.0 de 71 cv e 1.8 de 102 cv. Com certeza, o seu é o 1.0.
Obrigado pelo contato
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