Os 6 itens automotivos hoje valorizados que eram rejeitados no passado

VW Brasília quatro portas, com pintura metálica e ar condicionado. Para desagradar mais o consumidor da época, faltou apenas as rodas de magnésio.
Com o avanço tecnológico, a mudança das preferências dos consumidores se mostra algo natural e até esperado. Este artigo relata seis equipamentos e características dos automóveis que se mostram valorizadas nos dias de hoje, mas no passado representavam verdadeiros “micos”.
Porém, sempre havia um motivo para justificar a ojeriza, e outro para que ela deixe de existir. O relato abaixo conta a história completa destes acessórios:
1 – Pintura metálica
Na década da psicodelia, cores vivas fizeram muito sucesso. Desde que não fossem metálicas.
A pintura metálica surgiu na década de 70 e consiste na adição de compostos metálicos na tinta, dando um aspecto reluzente para o veículo. Especialmente na cor prata, conferia aspecto futurista ao automóvel e o comprador pagava caro por ela.
Nos seus primeiros anos, virou mico por um motivo prático: sua durabilidade se mostrava reduzida, ou seja, ficava fosca e com aspecto de “queimada” em cerca de dois anos.
Os consumidores torciam o nariz na hora dos reparos de funilaria, pois no caso de pintura de apenas uma peça, era necessário repintar todo o veículo, pois a diferença de cor era muito grande e prejudicava a estética. Até o final dos anos 80, as corem metálicas desvalorizavam o automóvel no mercado de usados. O avanço da tecnologia e melhoria da durabilidade fez os tons caírem no gosto do público.
2. Quatro portas
Comum em sua terra natal, o VW Passat B1 vendeu pouquíssimo por aqui em sua versão com mais entradas.
Para os motoristas mais novos, este item se mostra o mais difícil de acreditar. Atualmente, a esmagadora maioria dos consumidores prefere veículos de quatro ou cinco portas, com exceção dos esportivos, populares de entrada e veículos de carga. O que poucos se lembram é que nossos pais e avós faziam questão de carros de duas portas.
Isso acontecia por dois motivos. O primeiro diz respeito à engenharia de chassis e carroceria, a qual se mostrava pouco avançada para nossas estradas em péssimas condições. O resultado de um veículo ter quatro portas era desalinhamento crônico das peças da carroceria e muitos, muitos ruídos.
Por último, as portas não eram equipadas com travas de segurança para crianças, o que levou a alguns acidentes envolvendo crianças que abriam as portas acidentalmente. Este foi facilmente resolvido.
Novamente, a evolução tecnológica empreendida a partir do início dos anos 90, após a reabertura das importações, sanou as deficiências e o consumidor brasileiro passou a preferir os veículos com portas traseiras quase por unanimidade.
3. Câmbio automático
Três marchas ultra longas. A segunda só entrava a 60 km/h. Seu avô ainda o chama de câmbio “hidramático”.
O primeiro câmbio automático apareceu nos anos 50, produzido por uma empresa chamada Hydramatic, cujo nome foi sinônimo de transmissão automática por muitos anos. Alguns motoristas mais experientes ainda falam “câmbio hidramático”.
O item se tornou muito popular nos Estados Unidos a partir dos anos 70, e apenas vinte anos depois apareceu em terras tupiniquins em maior quantidade. Hoje em dia é item quase obrigatório em veículos na faixa acima de R$ 50 mil e ganhando cada vez mais espaço entre os demais.
Os primeiros modelos foram rejeitados por razões técnicas bastante evidentes: grande perda de desempenho e aumento de consumo em relação às versões manuais, trocas de marcha lentas, dirigibilidade ruim, manutenção caríssima e dificuldade em encontrar assistência técnica.
O desenvolvimento tecnológico, novamente, sanou os problemas e pode conceber versões de desempenho até superior às transmissões manuais, e é aplicado em veículos superesportivos, de carga e até populares. Diversas pesquisas mostram a preferência dos consumidores pela opção sem pedal de embreagem.
4. Ar condicionado
Custava quase outro carro, matava o desempenho e o consumo ia para a Lua.
A quase totalidade dos automóveis novos ofertados vem com ar condicionado de série em 2015, mas o equipamento era evitado pelos consumidores há poucos anos. Apareceu há quarenta anos em modelos topo de linha como Ford Galaxy ou Chevrolet Opala, mas pouquíssimos o possuíam, pois causava forte perda de desempenho e aumento de consumo, somado ao altíssimo preço deste opcional, chegando a um quarto do preço do veículo.
Após a chegada dos importados, com tecnologias mais avançadas, se popularizou entre os modelos mais caros e passou a ser oferecido como opcional em modelos populares, mas muitos proprietários retiravam o equipamento com o intuito de economizar combustível.
Mesmo com o avanço tecnológico, modelos de menor potência sofriam com seu uso. Novamente, a pesquisa e desenvolvimento melhorou a eficiência e reduziu o valor do acessório, popularizando o acesso. Nas regiões Norte e Nordeste, todos os carros novos recebem o climatizador de fábrica há mais de vinte anos.
5. Rodas de liga leve
Com o “ótimo” estado de conservação de nossas ruas, quem era o louco?
As rodas esportivas surgiram em competições automobilísticas no início dos anos 60. A principal necessidade dos bólidos residia na redução de peso, e as ligas de magnésio proporcionavam esta vantagem.
Dez anos depois, elas se popularizaram nos carros de rua, e todo playboy equipava o seu possante com jantes de liga leve. Porém, a maioria dos motoristas as rejeitava devido à sua baixa resistência a impactos, pois perdiam a circunferência rapidamente e se trincavam em impactos contra buracos e obstáculos. A condição sofrível de nossas ruas e estradas inviabilizavam o seu uso constante.
Com o passar dos anos, houve a mudança das ligas de magnésio para alumínio, resultando em igual leveza com maior resistência. Os engenheiros e designers criavam novos materiais, desenhos e geometrias com vistas à melhor resistência, obtendo sucesso.
Nos dias de hoje, não há diferença significativa na durabilidade de rodas de aço e liga leve, sendo que as primeiras se restringem apenas a veículos de entrada e comerciais.
6. Motor 16 válvulas

A má fama se devia à baixa confiabilidade de alguns motores ou à preguiça dos mecânicos em aprender a mexer? Ou os dois?
Os engenheiros de motores descobriram que o cabeçote multiválvulas se mostra uma forma eficiente de melhorar o rendimento do propulsor sem necessidade de aumentar o deslocamento (“cilindrada”).
Saiba a diferença entre os motores de 8 de 16 válvulas neste link.
Este arranjo apareceu no início dos anos 90 em veículos importados e nacionais como os Fiat Tempra e Tipo, mas não obteve muito sucesso devido à pouca oferta de potência e torque em baixas rotações, dirigibilidade pobre, baixa durabilidade e manutenção cara.
Novamente, o avanço da engenharia trouxe outras inovações para auxiliar o cabeçote multiválvulas, como os coletores de admissão e escape de geometria variável, velas mais eficientes, injeção direta, comandos roletados, componentes de cabeçote mais leves, dentre outros.
Em suma, os motores de válvulas por cilindro são empregados na quase totalidade dos veículos novos, excetuados os de entrada com projetos de motor mais antigos.
Antigamente, um comprador perguntava se o veículo tinha 8 ou 16 válvulas. Hoje, a maioria não se atenta a este detalhe e valoriza o bom desempenho e economia, pois não há mais problemas com manutenção ou falta de força em baixa.
CONCLUSÃO
Provavelmente, alguns motoristas mais “puristas” ou menos atualizados ainda criticam algumas delas, mas a grande massa já as deseja ou até exige, como no caso do ar condicionado.
Hoje, aquele seu tio-avô que diz que não compra modelos com climatizador porque “bebem muita gasolina”, câmbio automático porque “quebra muito” ou pintura metálica porque “tem que repintar o carro todo se arranhar o para-lama” virou motivo de piada na família.
Novas tecnologias surgem a todo momento, frequentemente sem o funcionamento ideal. A lista acima mostra a evolução do produtos e dos consumidores também. Qual equipamento renegado nos veículos atuais você acha que vai se um sucesso daqui a cinco ou dez anos?
Cabe a todos se manter atualizados nos assuntos automotivos, para não virar nosso tio que detesta motor 16 válvulas porque “a manutenção é cara”, mas adora carros japoneses porque “não quebram”.
O VW Brasília nunca saiu com ar condicionado
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