8 grandes mudanças tecnológicas que os gearheads terão que aceitar
No universo do automóvel, as mudanças ocorrem de modo gradual e ininterrupto. Porém, elas não agradam a todos em todas as ocasiões e geram os sentimentos mais variados em todos os públicos, sem exceção.
O avanço tecnológico fascina algumas pessoas coma possibilidade de se libertar de tarefas chatas ou estressantes, abertas às novas possibilidades que surgem. Simultaneamente, provoca insegurança em outra parcela mais receosa das alterações em seu cotidiano, ou com dúvidas em relação ao seu funcionamento.
Quando se trata do mundo do automóvel, as pessoas tendem a oferecer resistência à implantação de novas tecnologias pelos mais diversos motivos. Custos, segurança, manutenção, necessidade de novos aprendizados ou simplesmente apego ao que já está consagrado são as razões mais comuns. No início, novas tecnologias têm pouca adesão e ganham adeptos de maneira gradual.
Os autoentusiastas demonstram enorme interesse em tudo o que diz respeito a carros, motos e todo tipo de veículo motorizado, mas algo curioso acontece neste grupo pequeno e fanático. Curiosamente, observa-se uma enorme resistência a algumas inovações tecnológicas, especialmente aquelas baseadas em eletrônica que afetam sistemas mecânicos e o modo de guiar.
Neste artigo, a bola da vez são os apaixonados por carros, também conhecidos como gearheads. Os oito itens abaixo são mudanças que desagradam a este grupo defensor do “carro raiz”, mas que teremos que dizer a eles “aceita que dói menos”:
1 – OS FABRICANTES SE TORNARÃO “FORNECEDORES DE SOLUÇÕES DE MOBILIDADE”
A maioria das pessoas só deseja ir do ponto A ao B, sem nenhum vínculo afetivo com o automóvel ou motocicleta, tampouco interesse sobre o assunto. Este público gostaria de abandonar o volante, pois não possuem interesse em carros e, para eles, a função dos carros é a mesma dos ônibus e trens.
E onde há uma necessidade a ser suprida, existem muitas empresas trabalhando na solução. No início da década, empresas de tecnologia descobriram que muitos indivíduos se dispunham a dar carona remunerada para fazer algum dinheiro e uma outra parte com vontade de vender o seu, tampouco usar transporte público.
Assim nasceram os aplicativos de transporte, tão populares nos dias de hoje: Uber, Cabify, 99 e congêneres fazem parte do dia-a-dia de milhões de pessoas no mundo todo.
Os fabricantes de automóveis detectaram esta mudança e resolveram dar um passo além: construir veículos que rodam sozinhos ou com pouca influência do condutor. Assim, investem pesado em tecnologia de condução autônoma e pretendem dar um passo adiante.
Ao invés da mera fabricação e comercialização de modelos, algumas empresas testam serviços nos quais o consumidor não transfere a propriedade do veículo para o seu nome, mas assina um serviço de transporte e paga mensalmente ou conforme o uso.
Desta forma, o usuário fica dispensado do trabalho em fazer manutenção e seguro, pagar impostos, abastecer, lavar, estacionar e todas as tarefas envolvendo o veículo com o pagamento de um valor mensal da mesma maneira de um aluguel.
Um serviço que parece sensacional para um motorista comum decepciona os gearheads. Carros de frota são todos iguais, como ônibus e trens. Para este grupo, delegar a condução e manutenção do veículo a uma empresa é um sacrilégio, pois elimina a parte mais prazerosa do automóvel: a personalização e interação com o veículo, o qual representa a melhor forma de passar suas horas de lazer.
Felizmente, automóveis tradicionais serão oferecidos por muito tempo e os apaixonados por carros não ficarão desamparados. Executivos de montadoras são unânimes em afirmar que enquanto houver demanda por eles, haverá modelos a ser ofertados.
2 – CARROS HÍBRIDOS E ELÉTRICOS SERÃO A MAIORIA ATÉ 2030
A preocupação ambiental e economia de dinheiro em postos de combustível dão o tom no rápido crescimento de veículos com propulsão híbrida e elétrica.
No passado, estes modelos possuíam baixa autonomia, desempenho fraco, baixa durabilidade, alto peso e custos de fabricação elevados. O ponto nevrálgico dos híbridos e elétricos era – e ainda é – as baterias. A rápida queda nos custos torna este tipo de veículo cada vez mais popular e desejado.
Suas vantagens são evidentes. Baixa emissão de poluentes, excelente economia de combustível, silencioso e confortável ao rodas, menores custos com impostos e manutenção e, supostamente, acredita-se que seja menos danoso ao meio ambiente. Excetuando-se esta último aspecto, improcedente, todos os demais trazem grandes benefícios aos motoristas e centros urbanos, justificando a demanda crescente por modelos com motorização híbrida e elétrica.
A maioria dos gearheads torce o nariz para estes veículos por motivos evidentes. Sua dirigibilidade se mostra sem graça, apesar das boas arrancadas. A ausência de ronco de motor e trocas de marcha decepciona quem busca prazer ao dirigir. Apesar da boa aceleração em baixa velocidade, modelos híbridos e elétricos não apresentam bom desempenho em velocidades mais elevadas e a condução esportiva esgota a carga das baterias em poucos quilômetros. Não é uma alternativa nada entusiasta.
Países europeus desejam encerrar a produção de modelos com motores a combustão interna entre o ano de 2030 a 2050. Felizmente, modelos a combustão ainda têm muitas décadas pela frente, posto que a demanda por eles ainda será grande. Por outro lado, os gearheads terão que aceitar a predileção pelos carros equipados com enormes baterias.
Saiba mais sobre os carros híbridos e elétricos clicando neste link.
3 – A CONDUÇÃO AUTÔNOMA SUBSTITUIRÁ OS MOTORISTAS
Para um petrolhead, dirigir constitui um dos maiores prazeres da vida, especialmente os modelos potentes, confortáveis e de dirigibilidade empolgante. Por outro lado, os não-entusiastas gostariam de abandonar para sempre o volante, delegando a tarefa para outra pessoa ou uma máquina. O número de pessoas que vendem seus automóveis para se locomover por aplicativos cresce a cada dia.
Muitas vantagens ocorrerão da automação da condução dos veículos, especialmente nas grandes capitais. Menos trânsito e com melhor fluxo, redução na quantidade de acidentes, melhor aproveitamento dos recursos de transporte e… mais espaço nas ruas para os motoristas que apreciam dirigir um bom veículo.
Com a plena implantação dos veículos autônomos, cria-se um empecilho para os car lovers: a restrição da condução tradicional em alguns lugares e horários, obrigando a utilizar apenas modelos autoguiados nestas circunstâncias. Alguns não abririam mão do volante em hipótese alguma, mesmo no trânsito pesado.
Nos grupos de temática automobilística, ouve-se os piores comentários sobre a condução autônoma e seus males e riscos. Novamente, vale ressaltar que esta nova tecnologia pode ser benéfica a todos, ao retirar do volante os motoristas menos habilidosos e interessados, de maneira voluntária.
4 – CROSSOVERS E SUV´S SERÃO A CATEGORIA MAIS VENDIDA
Um dos fenômenos mais criticados pelos apaixonados por carros é a explosão das vendas de utilitários esportivos de todos os portes e categorias, para todos os gostos e bolsos. Em um futuro próximo, sedãs, peruas e esportivos serão desejados apenas por entusiastas.
Para o cidadão comum, o maior espaço interno, versatilidade, posição elevada de dirigir e imponência falam mais alto do que o prazer ao dirigir e melhor desempenho. Os fabricantes têm equipado estes modelos com bancos de layout variável, telas multimídia para todos os ocupantes e todo tipo de dispositivo eletrônico.
A tecnologia mitigou as desvantagens dos SUV´s, tais como o alto consumo de combustível e estabilidade ruim no asfalto. O consumidor comum tem aderido aos modelos “aventureiros de shopping center” e se descolado da proposta original fora-de-estrada.
O segmento já é o segundo maior no Brasil e nos países desenvolvidos e ainda apresenta muito potencial de crescimento. O declínio dos modelos de teto baixo se mostra irreversível e os petrolheads terão que aceitar esta dura mudança.
Este artigo explica uma parte do fenômeno dos SUV´s.
5 – A INTERAÇÃO HOMEM-MÁQUINA SERÁ CADA VEZ MENOR
No início, o motorista tinha todo o controle do veículo em suas mãos. Até o ajuste de mistura rica ou pobre dependia de ajustes manuais do carburador. Com o advento da eletrônica embarcada, os veículos passaram a exigir cada vez menos intervenções do condutor.
No final dos anos 1970 apareceu a injeção eletrônica. Depois vieram os freios ABS e as assistências eletrônicas de controle de tração, frenagem e estabilidade. Em paralelo, surgiram os controles de temperatura, abertura e fechamento de portas e ignição. Atualmente, os automóveis possuem dispositivos semi-autônomos que os fazem acelerar, frear e permanecer nas faixas de rolagem, e também podem fazer manobras de estacionamento com pouca ou nenhuma intervenção do condutor.
A automatização será cada vez maior até o ponto da ausência total de ação do motorista – o qual passará a ser chamado por “operador”. Para os apreciadores do prazer de dirigir, isso representaria a morte do automóvel. A dura realidade reside no fato de que o processo é irreversível e trará benefícios ao tráfego de maneira sistêmica.
Por outro lado, automóveis de condução totalmente manual nunca deixarão de existir.
6 – A ELETRÔNICA PREDOMINARÁ SOBRE A MECÂNICA
Um das melhores sensações para um apaixonado por carros é ouvir o ronco de motor. No caso dos antigomobilistas, a ausência quase total de dispositivos elétricos e eletrônicos intensifica ainda mais este instinto. Abrir o capô e observar o motor, transmissão e todos os componentes mecânicos traz uma satisfação indescritível em conjunto com o cheiro de gasolina, óleo e graxa.
A eletrificação e automação alçará a elétrica e eletrônica à posição de destaque no veículo, deixando a mecânica tradicional em segundo plano. Ao invés de motores a gasolina e diesel, veremos conjuntos movidos a eletricidade com cada vez menos partes móveis.
Uma das queixas dos apreciadores dos modelos tradicionais reside na enorme quantidade de apitos e sons eletrônicos ao dirigir, com tendência a se multiplicar com o avanço tecnológico: aviso de faróis ligados, chave no contato, cinto desafivelado, prazo de revisões, problemas mecânicos, mudança de faixa e até aviso de fadiga torna os carros modernos muito irritantes para o motorista “raiz”.
Neste aspecto, o gearhead terá de aceitar a prevalência da elétrica e eletrônica sobre a mecânica na maioria dos casos, pois haverá pouquíssimos modelos a escapar desta tendência. Enfim, resta a solução de rodar em modelos antigos.
7 – OS CARROS SERÃO CADA VEZ MAIS CAROS DE COMPRAR E MANTER
Toda essa parafernália tecnológica tem um custo de aquisição. Obviamente, multiplica-se a possibilidade de falhas ao equipar cada novo modelo com novos equipamentos. Também multiplicam-se os custos de fabricação e manutenção, com repasse ao consumidor final.
Fabricantes de veículos se queixam das baixas margens de lucro e mercado altamente concorrido no mercado global. Assim, produzir modelos mais sofisticados, para ser vendidos a preços mais altos, contribui para a melhoria da situação financeira das empresas. A Tesla Motors tem capitaneado esta tendência.
No passado, os modelos mais desejados – e caros – tinham como diferencial o acabamento luxuoso e/ou alta performance e eram vendidos por marcas de alto luxo como Ferrari, Porsche, Rolls-Royce e Bentley. Atualmente, mesmo as marcas de alto volume, como Volkswagen e Ford, oferecem veículos que custam o preço de imóveis em todo o mundo. A razão do sobrepreço? Eletrônica embarcada.
Os modelos de entrada têm ficado cada vez mais caros de forma generalizada, e o seu encarecimento se mostra a tendência. A manutenção sofrerá aumentos ainda maiores.
8 – SUA MANUTENÇÃO SERÁ CADA VEZ MAIS COMPLEXA
O aumento da sofisticação e complexidade dos veículos exige profissionais cada vez mais especializados. A figura do mecânico de bairro que conserta qualquer modelo e sistema tende a desaparecer e dar lugar a profissionais especializados em novas tecnologias.
A quase onipresença da eletrônica exige o uso de equipamentos caros, de difícil operação e de rápido avanço na tecnologia. A diversificação nas soluções tecnológicas criará novas profissões, a qual exigirá constante atualização e investimento dos reparadores em treinamentos, cursos e equipamentos. Naturalmente, o custo será repassado para o proprietário.
Assim como os modelos a combustão precisam “fazer o motor”, modelos elétricos têm suas peculiaridades. As baterias têm vida útil de dez anos e podem causar acidentes sérios no caso de não serem substituídas. A grande questão recai sobre o preço das manutenções. Enquanto uma retífica custa de R$ 2 mil a R$ 5 mil para os modelos mais comuns, a troca das baterias ultrapassa os R$ 20 mil.
Problemas elétricos e eletrônicos exigem a intervenção de profissionais especializados, capacitados a operar equipamentos caros. Um reparo no sistema elétrico que custaria R$ 100 no auto elétrico da esquina, em um modelo convencional, pode ultrapassar os R$ 2 mil para um modelo de última geração, executado somente em concessionária.
Gearheads apreciam fazer a manutenção de seus automóveis com as próprias mãos, desde a compra das peças até a execução do serviço. Infelizmente, os modelos mais modernos tornarão este hobby quase impossível, posto que há a necessidade de adquirir uma máquina de R$ 50 mil para fazer as configurações. Uma decepção para os apaixonados por carro.
APESAR DAS MUDANÇAS, O FUTURO GEARHEAD SERÁ BRILHANTE
A foto de capa desta matéria sintetiza cinquenta anos de mudanças na tecnologia automotiva. Nos anos 70, um cupê esportivo com motor V8 de 7.2 litros, sem praticamente nenhuma eletrônica, era o objeto de desejo da maioria dos motoristas. Na próxima década, os consumidores sonharão com um SUV elétrico, conduzido de forma autônoma, com telas enormes no painel e opções de infotenimento.
Ao invés de lamentar as mudanças, os gearheads devem observar os (muitos) pontos positivos desta transição. As ruas ficarão mais livres com a saída de motoristas que não gostam de dirigir, novas profissões surgirão para os apaixonados por carros e trarão boas oportunidades de carreira, os modelos esportivos terão desempenho ainda mais impressionante com o uso dos motores elétricos e os clássicos sofrerão valorização.
Não há como negar que as novas tecnologias prejudicam o prazer de dirigir mais visceral. Os antigos cumprirão a missão de mantê-lo vivo. Não há motivos para ter pressa ou sofrer por saudosismo antecipado, pois este processo levará décadas. Finalmente, os car lovers devem ser otimistas com a possibilidade de deixar as ruas livres para os condutores que realmente gostam de carros.
Gostou deste artigo? Curta Educação Automotiva no Facebook e confira mais artigos como este,
1 Comentário »