Desde 1986 a história se repetiu: todos sabiam que o VW Gol seria líder de vendas de automóveis no mercado brasileiro. Em 2014, tivemos uma grande surpresa em dezembro: ele havia sido desbancado pelo seu arquirrival, o Fiat Palio, por uma margem apertada de apenas 386 unidades. Foi o fim de uma era que durou 27 anos, quatro a mais do que seu irmão mais famoso, o Fusca, o qual foi o preferido dos consumidores por “apenas” 23 anos.

Em 2015, nova surpresa. O fato de o Palio ter desbancado o Gol em 2014 deveu-se ao fato de a versão G4 do VW ter saído de linha e desfalcado a linha da marca alemã, enquanto a versão Fire do compacto de Betim continuou em produção. Assim, seria esperado que a liderança continuasse nas mãos do modelo italiano, o que não ocorreu.

Em 2015, o líder foi o Chevrolet Ônix, seguido pelo Hyundai HB20. O Fiat Palio figurou apenas em terceiro e o outrora poderoso VW Gol não apareceu nem entre os dez primeiros. O que está acontecendo?

Todos sabem que o mercado automotivo brasileiro para por um momento altamente desafiador, para não dizer caótico. Houve queda nas vendas pelo terceiro ano consecutivo: -25% em relação a 2014 e -45% com base nos dados de 2013.

A crise ocorre na economia como um todo, e afeta mais fortemente bens de alto valor agregado, como veículos. O consumidor fica mais cauteloso devido às incertezas em relação ao futuro próximo, fator principal para explicar a dança das cadeiras nas  suas preferências.

O brasileiro de menor poder aquisitivo saiu do mercado de veículos novos, fortemente dependente de financiamento e nível de emprego, migrando para os seminovos. Este importante público pesou fortemente na queda livre nas vendas de zero quilômetro, ao mesmo tempo em que a venda de usados subiu 12% em 2015.

Aqueles que ainda optaram por um zero quilômetro ficaram mais exigentes e cautelosos, pois sabem que não podem cometer erros na decisão de compra. Preferem pagar mais caro e levar um automóvel atualizado tecnologicamente, mais seguro, equipado e de melhor qualidade. Este fator se mostra decisivo para a derrocada dos tradicionais VW Gol e Fiat Palio e ascensão de seus rivais mais modernos, como o Hyundai HB20 (foto abaixo).

Vamos à verdade nua e crua:

O consumidor brasileiro está cansado de carros “pé-de-boi”, caros, inseguros, pouco equipados e com motor fraco. Lentamente, uma mudança de mentalidade rumo à qualidade está em curso, aumentando o grau de exigência do motorista médio. A entrada de novas marcas, com produtos semelhantes aos comercializados globalmente também contribui.

Viagens ao exterior fazem parte de grande parcela dos brasileiros, os quais ficam deslumbrados com os modelos que circulam na Europa, EUA e Japão. Ao mesmo tempo, ficam decepcionados com a qualidade sofrível dos automóveis tupiniquins, incluindo os antigos líderes de venda VW Gol, Fiat Palio, Chevrolet Celta e Classic, Renault Clio e companhia.

O brasileiro não quer mais andar em carros com projetos feitos há 20 anos, os quais foram descontinuados há muito em seus países de origem. Prefere pagar mais caro para ter aquele Ford Fiesta que viu na Espanha que continuar com o seu Fiat Siena, projetado nos anos 90.

Leia esta dica para comprar um carro de qualidade, a qual muitos brasileiros já descobriram e estão satisfeitos em segui-la.

Afora as preferências pessoais de cada motorista, pode-se afirmar que a liderança de vendas do Chevrolet Ônix e a ótima performance de Hyundai HB20 se mostram merecidas. Vale mencionar também a ascensão de modelos como o VW Fox, novo Ford Ka, Renault Sandero , Honda Fit, Nissan March e VW up!, os quais se mostram compatíveis com os novos padrões de exigência do consumidor, entregando maior segurança, desempenho, economia, conforto e modernidade em relação aos antigos donos do mercado.

Desejo que esta crise gere transformação no perfil dos veículos ofertado pelos fabricantes brasileiros, alçando nosso padrão de qualidade ao nível de países desenvolvidos. E que os pés-de-boi sejam vistos com carinho apenas nas exposições de automóveis antigos.