O que significa a sigla 200 TSI do novo Polo?
Atualizado em 26/03/2018
Há pouquíssimo tempo, a onda do downsizing passou a avançar a passos largos. Em breve, os motores sobrealimentados dominarão o mercado, competindo com os híbridos e elétricos.
Para o consumidor comum, a associação entre deslocamento e performance – os números 1.0, 1.6, 2.0, 3.5, etc – para descrever os motores, se mostrava bastante direta: quanto maior, melhor o desempenho e maior o consumo de combustível.
O ditado gearhead que diz “cavalo anda, cavalo bebe”, e a célebre frase do preparador Caroll Shelby “there´s no replacement for displacement” (em tradução livre, “não há substituição para o deslocamento”), ficaram obsoletas com o avanço tecnológico.
De todas as marcas, o Grupo Volkswagen se posicionou como o pioneiro na aplicação intensiva do turbocompressor, desde o lendário Audi Quattro no início dos anos 80. As linhas europeias de VW e Audi aboliram os motores aspirados há alguns anos. No Brasil, o novo Polo ganhará as ruas em breve, com duas opções de conjunto motriz: a 1.6 MSI de 120 cv e a 1.0 TSI de 128 cv.
Em terras tupiniquins, a tecnologia do caracol mágico começou a ganhar impulso apenas nos últimos cinco anos. Por isso, o consumidor ainda se apega aos números de “cilindrada”, vendo o 1.6 sempre como mais potente em relação ao “mil”. Então, a marca alemã se viu em um dilema: como provar para o consumidor que o motor 1.0 é mais potente que o 1.6?
Os engenheiros e marqueteiros de Wolfsburg e da Anchieta encontraram uma solução inusitada e genial: batizar os motores de 160 MSI e 200 TSI. Mas o que significa isso?
POR QUÊ A NECESSIDADE DESTA NOMENCLATURA?
No Brasil, a oferta de veículos com motores turbinados ainda se mostra muito incipiente. Portanto, o principal objetivo consiste em mostrar ao nossos motoristas que o motor de menor “cilindrada” e turbo entrega mais rendimento que o “maior” de aspiração natural. No caso do Polo, que chegou às lojas no final de 2017, a sigla tem como objetivo que o 1.0 TSI é superior ao 1.6 MSI.
Os próximos lançamentos, em especial os Novos Jetta e Tiguan, também receberão esta nomenclatura.
Na verdade, a nova nomenclatura necessita resolver outra questão mais complexa em outras linhas, como a da Audi. Alguns modelos possuem várias calibrações para hardwares* de mesmo deslocamento aumentando ou diminuindo a pressão do turbo e mapas de avanço e combustível.
Assim, pode-se encontrar três ou mais variações de potência e torque em um mesmo conjunto, como o próprio 1.0 TSI (potência/torque máximos): 105 cv/17,7 kgf.m; 125 cv/19 kgf.m e 128 cv/20 kgf.m. Doravante, a Volkswagen os chamará de 180 TSI, 190 TSI e 200 TSI, nesta ordem. A versão aspirada do motor de 1000 cm³, antes denominado MPI, passará a se chamar 100 MPI.
O mesmo ocorre com o bloco 1.4, com opções de 140 cv/ 25 kgf.m, 150 cv/28 kgf.m e 180 cv/35 kgf.m, os quais serão denominados de 250 TSI, 280 TSI e 350 TSI, respectivamente.
*Nota: os valores de potência e torque são aproximados para facilitar a compreensão da lógica de batismo. Ao chegar ao mercado, os números serão diferentes.
PRINCÍPIO DE “BATISMO” DOS MOTORES
Os bons observadores perceberam que o numeral 200 reflete o torque máximo do motor em Newton-metro (N.m), unidade de medida de torque no sistema internacional, o que equivale, no motor 1.0 de 20 kgf.m, a 200 N.m. Daí a origem do número 200.
A sigla TSI significa “turbo com injeção direta” na linha VW, assim como o MSI consiste na versão de aspiração atmosférica e o numeral 160 seu torque máximo em Newton-metro. Em outros mercados há o TDI para motores diesel e e-tron, para elétricos.
A priori, o critério parece estranho, pois o consumidor brasileiro se acostumou a conferir a potência do motor, ao mesmo tempo em que ignora o torque máximo. A razão pela qual a engenharia alemã optou pelo momento binário está descrita neste artigo.
No caso do novo Polo, este motivo faz ainda mais sentido, posto que a potência do bloco 1.6, de 120 cavalos, se mostra bastante próxima ao 1.0 turbo, o qual entrega apenas oito cavalos a mais. Entretanto, o resultado na pista se mostra muito diferente por causa da tecnologia do turbocompressor, a qual explicita o porquê dois carros de mesma potência podem apresentar desempenhos muito distintos.
A RESPOSTA ESTÁ NO TORQUE
Via de regra, motores turbo entregam de 20% a 50% extras de momento torsor em relação a aspirados, mesmo em casos nos quais a potência máxima está parelha. Como estes são atingidos em rotações bem inferiores nos sobrealimentados, o resultado geral os favorece.
Como no caso do novo Polo: o 1.0 TSI entrega 128 cv, número próximo dos 120 cv do 1.6 MSI. Entretanto, a rotação nas quais ela é atingida são mais baixas, resultando em mais força disponível em qualquer rotação no motor “mil turbo”. O torque explica tudo: 20 kgf.m a 1500 rpm no 200 TSI (1.0) contra 16,2 kgf.m a 3.500 rpm no 160 MSI (1.6).
A Audi também criou um novo critério para batismo de seus motores, diferente do adotado pela Volkswagen. Confira neste artigo como funciona.
RESUMO
O motor de tecnologia mais avançada rende mais em qualquer regime de funcionamento, impulsionado pelo farto torque máximo, disponível em baixas rotações. Comparando motores aspirados e turbo de mesma potência e deslocamento diferente – como 2.0 aspirado e 1.4 turbo – este renderá maior torque máximo.
Daí a origem da nomenclatura baseada em torque máximo da Volkswagen. No caso de calibrações diferentes para um mesmo motor, servirá para diferenciar as mais “mansas”, voltadas à economia de combustível, das mais “bravas”, voltadas à alta performance, assim como à diferenciação dos propulsores aspirados da mesma marca.
Infelizmente, o motorista brasileiro supervaloriza a potência máxima do motor, a qual será atingida em raras situações de direção esportiva, em detrimento do torque máximo, medida mais importante para o dia-a-dia dos condutores. Parabenizo a Volkswagen pela criatividade na escolha das nomenclaturas, bastante coerentes com a realidade.
*Hardware – No automóvel, ele consiste dos componentes físicos da unidade de potência como bloco, pistões, bielas, comando de válvulas, e demais partes. Nos motores turbo, o software, ou calibração, pode influenciar significativamente o desempenho do motor sem modificações mecânicas. A lógica é a mesma dos computadores e equipamentos de informática.
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Obrigado pela leitura!
Excelente observação. A VW está retomando a sua técnica em produzir ” carros para o Brasil “, como a muito não via. Embora tenha apenas 21 anos, vi a queda do aclamado Gol. Porém, agora, vejo renascer essa esperança aqui. Vamos aguardar para ver !
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Ótimo artigo. Realmente a grande maioria olha apenas a litragem do motor, e não todo o componente.
Sobre o comentário do Gabriel Santos, também tenho 21 e vi a queda do tão querido Gol. Vamos ver se agora a VW sobe algumas posições dos mais vendidos. Ah, e esses preços cobrados aqui no país, são ridículos.
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Achei interessante é inovador essa nova nova nomenclatura dos motores VW no Brasil. Porém, porque ao invés do TSI 200 não usaram TSI 20? (Já que se refere aos 20kgfm) Eu fui um que na primeira vez que vi essa nomenclatura achei que o Polo tinha 200cv rssss…. Acho que ficaria mais simples pro consumidor Brasileiro entender essa mudança que parece ser mais técnica e assim facilitar o entendimento geral já que a décadas estamos acostumados com siglas definindo potência em cilindradas.
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Olá Luiz Cláudio.
A VW optou por usar 200 TSI no lugar de 20 para não confundir com 2.0. Que é outra coisa bem diferente.
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O 200 vem de 200 Nm de torque (20,4 kgfm)…o mesmo vale para os demais motores com esse tipo de nomenclatura.
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Muito bom, tenho um e estou muito satisfeito. Excelente carro. Pode comprar que é tudo de bom. Abraços.
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