Os carros alemães são os melhores do mundo? Análise técnica
Continuando o conteúdo da parte introdutória, uma análise mais detalhada recairá sobre os axiomas de projeto, fabricação e manutenção em voga na indústria automobilística germânica com vistas a compreender as necessidades dos motoristas do mundo todo.
Ao passo que os fabricantes de modelos de grande volume criam e comercializam modelos muito diferentes, de acordo com as peculiaridades de cada mercado, as marcas de luxo alemãs como Mercedes-Benz, Audi e BMW vendem os mesmos automóveis no mundo todo com pouquíssimas modificações. A parte de conclusão tratará do aspecto de marketing e mercados.
CONFIABILIDADE

A fama de robustez, durabilidade e manutenção simples dos modelos alemães ainda se mantém
No campo conquistado pelos automóveis nipônicos desde o início dos anos 2000 no Brasil, os alemães ainda desfrutam de boa fama para grande parte do público. Na maioria das vezes, a menção à robustez mecânica remete a automóveis e motores antigos, tais como o boxer aircooled do VW Fusca e os motores AP, também da Volkswagen e os modelos de origem Opel da Chevrolet Brasil.
Quando se aborda os automóveis mais recentes, as marcas japonesas predominam sobre as germânicas, apesar de ainda desfrutarem de boa fama. Entretanto, alguns modelos de fabricantes premium têm maculado a boa reputação devido ao excesso de defeitos eletrônicos, como as BMW Série 5 das gerações E60 (2003-2009) e F10 (2010-2016), e mecânicos, como os motores TSI das linhas nacionais de Volkwagen e Audi, muito sensíveis ao combustível de má qualidade e ao atraso nas trocas de óleo.
Neste último caso, o argumento de falta de zelo dos proprietários procede, mas os críticos dos motores turbo – em geral os fãs de modelos japoneses e parte dos APzeiros e opaleiros – também têm razão ao ressaltar a dispensa de cuidados mais especiais de motores aspirados.
Os cuidados necessários para motores turbocomprimidos já foram extensamente abordados neste artigo, neste e neste.
Os modelos importados da Alemanha, projetados para circular nas vias bem conservadas e de rodovias sem limite de velocidade europeias sofrem bastante em solo brasileiro e apresentam problemas de torção de chassis e carroceria.
Problemas crônicos de suspensão devido à sofrível conservação de nossas ruas e no sistema de injeção eletrônica, por conta dos 25% de álcool em nossa gasolina, prejudicam a robustez destes modelos em nosso país. Neste caso, a tecnologia avançada trabalha contra a confiabilidade e robustez.
Por sua vez, os modelos de fabricantes alemães concebidos para países emergentes gozam de ótima fama no quesito durabilidade. Vide as famílias Gol e Santana, da Volkswagen do Brasil, e Corsa, Astra, Onix e Vectra, da GM do Brasil. Seguindo a antiga receita germânica, de simplicidade mecânica e conservadorismo na implantação de novas tecnologias, se mostram os guardiões da tradição de resistência destas marcas.
CONSTRUÇÃO DE CHASSIS E CARROCERIA
A busca pela melhor rigidez torsional e controle direcional, fundamentais para trafegar em altíssimas velocidades nas Autobahnen, as famosas rodovias sem limite de velocidade, impuseram aos intrépidos engenheiros teutônicos a busca pela construção mais esmerada e confiável de todo o mundo.
Suspensão e direção afiadas, precisas e robustas se mostram fundamentais para rodar em velocidades acima de 200 km/h, meta cumprida com maestria pelos engenheiros bávaros e saxões. Todavia, o controle direcional perfeito só pode ser atingido com chassis de alta rigidez e estabilidade estrutural. Em caso de acidente, a proteção aos ocupantes também exige esmero na construção da plataforma e “esqueleto” do veículo, levando à busca pela segurança passiva, assunto do próximo item.
Para um automóvel obter grande durabilidade, materiais de alta resistência, processos de fabricação estáveis, controle de qualidade rígido e metrologia rigorosa se mostram indispensáveis para a construção de um automóvel longevo. Engenheiros de todas as empresas, de todas as nacionalidades, buscam a melhor rigidez estrutural. Porém, poucos obtêm resultados tão excepcionais quanto a indústria alemã.
Com o emprego dos melhores materiais e os processos de fabricação e controle dimensionais mais avançados disponíveis, os alemães constituem referência em qualidade construtiva. O ponto fraco reside no alto custo de produção e, consequentemente, de venda ao consumidor final. Toda esta tecnologia alemã pesas no bolso.
Atacando a questão dos custos, os detratores afirmam que as montadoras americanas e japonesas atingem resultados similares ou até superiores com projetos de concepções mais simples e baratas, com produtos a preços mais acessíveis. Os resultados de testes de impacto corroboram este argumento, o qual não apaga o brilho da engenharia alemã.
Mais uma vez, os automóveis germânicos se situam na liderança de tecnologia de construção de chassis e carroceria.
SEGURANÇA VEICULAR
De fato, a indústria germânica tomou a vanguarda da segurança veicular, andando lado-a-lado com a fabricante sueca Volvo. Nos rankings mundiais de resultados em crash tests, uma disputa acirrada entre Mercedes-Benz e Volvo pelo título de carros mais seguros do mundo tem sido travada desde os anos 1960.
Mesmo entre os modelos brasileiros, a Volkswagen tem obtido resultados excepcionais desde seus modelos populares, como o up!, Polo e Golf, obtendo a nota máxima em todos os testes de modelos mais recentes, de projeto alemão.
Pioneira nos investimentos na área, a Mercedes iniciou um movimento em busca da redução nas mortes no trânsito, obtendo grande sucesso. Suas conterrâneas adquiriram a cultura de segurança veicular, tornando-a um ícone da cultura alemã. A partir de meados dos anos 1990, o mundo a seguiu na busca pelos automóveis com maior proteção aos ocupantes.
As “babás eletrônicas”, especialmente os freios antitravamento – os famosos freios ABS (sigla para Anti Block System) – obrigatórios por lá desde 1998, em conjunto com os airbags. Diversas assistências como suspensão ativa, controles de tração, estabilidade, distribuição das forças de tração e frenagem e bolsas de ar para regulagem da altura da suspensão traseira ganharam relevância após o pioneirismo das marcas premium alemãs em sua utilização em seus modelos high-end.
O sistema de tração integral, permanente nas quatro rodas, cuja distribuição de forças nas rodas se efetua pela central eletrônica, desenvolvida pela Audi e incorporada por todo o Volkswagen Group, incluindo a Porsche, iniciou-se com foco na performance em competições de rali e logo constatou-se o aumento da segurança em condições normais.
Inquestionavelmente, os alemães desempenham um papel importantíssimo na promoção da segurança veicular, junto aos sucos da Volvo.
ACABAMENTO

Mercedes S600 Maybach, uma amostra do extremo refinamento alemão.
Os britânicos, orgulhosos do altíssimo luxo e requinte absoluto de seus Rolls-Royce, Bentley e Jaguar, dominaram praticamente desde os primórdios da indústria automotiva, nos anos 1900. A história da indústria nos concede que os alemães lançaram comercialmente o primeiro automóvel em 1886, pela Daimler.
Enquanto os alemães buscaram o aprimoramento mecânico, os ingleses se focaram na qualidade dos materiais de acabamento e itens de luxo e exclusividade. No final dos anos 80, a indústria alemã produzia modelos robustos e confiáveis, mas de interior e design simplórios e espartanos, ao passo que os britânicos entregavam aos clientes automóveis de acabamento primoroso, forrados de couro e madeira nobres. Os bancos e painéis eram verdadeiros atentados ecológicos e peças plásticas quase inexistiam.
Após a queda da indústria britânica, as marcas mais importantes como Rolls-Royce, Bentley e Mini foram adquiridas pelos grandes grupos automotivos alemães, os quais absorveram o know-how inglês de acabamento. Assim, superaram a pobreza interior em seus modelos populares e fabricantes com bons resultados, como a Mercedes-Benz, passou a entregar aos clientes modelos cm interior primoroso como o S600 Maybach da figura acima.
De fato, luxo e sofisticação nunca deram o tom na indústria alemã, mas a exigência de alguns mercados os obrigou a evoluir. Graças à ajuda dos britânicos, atingiram o estado-da-arte neste aspecto, (talvez) ficando atrás apenas dos italianos de alto luxo.
A terceira parte abordará a questão mercadológica e a resposta à questão do título ==>
Olá, procuro um carro elétrico tipo golf fabricação alemã para uso em um parque.
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